Juremir Machado da Silva*
Crédito: ARTE JOÃO LUIS XAVIER
Arranjei uma polêmica, algo que raramente me acontece, ao comentar no meu blog (http://www.correiodopovo.com.br/ ) o sucesso mundial de Michel Teló. Fui chamado de elitista, ressentido, frustrado e gay. Que mal tem? Nada tenho contra a chamada arte popular, embora se trate, no caso, mais de indústria cultural, que é o popular entregue pronto como uma pizza emborrachada. Tenho observado a incrível ascensão criativa da música popular brasileira nos últimos anos. Alguns refrões não me saem de cabeça, entre os quais o espetacular "dar uma fugidinha com você". Somos uma máquina produtora de novidades anuais, uma mais desconcertante do que a outra, da boquinha da garrafa, passando pelo "rebolation", até o barroco "ai se eu te pego", que não é do Michel Teló, mas já colou nele.
Os defensores do "teloismo" afirmam que é só uma musiquinha para dançar. Os críticos atacam o rebaixamento da cultura, o lixo, a baixaria, a chinelagem e a apelação sexual. A minha posição é original, como sempre, afinal sou pago para ser genial. De qualquer maneira, não poderia negar a minha natureza. A genialidade e a modéstia estão no meu DNA. A musiquinha do Teló é o suprassumo da chinelagem, a essência, trabalho de séculos de aprimoramento intelectual, o ápice de uma civilização, o que alguns teóricos chamam de pós-orgânico, o homem, na minha concepção, finalmente livre do cérebro. Que mal tem? Nenhum. O cérebro é a parte do corpo menos usada pela maioria esmagadora da humanidade mesmo. E funciona! Que ninguém me entenda mal. Michel Teló é o meu novo ídolo. Acredito piamente numa máxima imortalizada por um certo Guy Debord: o que é bom aparece, o que aparece é bom. O resto é choro de perdedor. Teló é a nossa cara.
A cara do Brasil que dá certo, que brilha no exterior, que compra casa em Miami, que se muda para a Barra da Tijuca, que usa silicone PIP e pede autógrafos para a Ana Maria Brega. Viva Teló. Viva nós. Se um dia Teló concorrer a deputado federal, será eleito. Sempre recompensamos o sucesso, o talento e as vendas. Nosso lema é, o que vende é bom, o que é bom vende. Teló não é novidade. Cada época tem o seu. Teló é o besteirol dançante da vez. Superou outros, porém, em criatividade e repercussão internacional. Estamos emprestando dinheiro ao FMI e globalizando a chinelagem. Brasil, Brasil, il! Na minha festa de aniversário, 50 anos, vou rodar Teló. Para mim ele representa o triunfo da animalidade sobre a repressão cultural, a vitória do erótico sobre o engessamento social, a emancipação dos nossos instintos mais baixos como modalidade superior de culto ao prazer.
Complicado? Acadêmico? Nada disso. Teló é o cara que nos faz gozar como pintos no lixo. Pode ser mais claro? Eu durmo tranquilo. Sei que no próximo ano surgirá um novo Teló, mais descarado, mais libertário, mais sexual e mais genial. Milhões de pessoas já estão trabalhando para conceber outra letra, outra música e outra coreografia. É o talento brasileiro bombando no mundo inteiro. Yes!
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* Sociólogo. Prof. Universitário. Escritor. Tradutor. Cronista do Correio do Povo
Fonte: Correio do Povo on line, 08/01/2012
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