Rubem Alves*
O AMOR REJUVENECE
Amor de mocidade é bonito, mas não é de se espantar. Jovem tem mesmo é de se apaixonar. Romeu e Julieta é aquilo que todo mundo considera normal. Mas o amor na velhice é um espanto, pois nos revela que o coração não envelhece jamais. Pode até morrer, mas morre jovem. “O amor retribuído sempre rejuvenesce”, dizia Eliot no vigor da sua paixão, aos 70 anos de idade...
O amor tem o poder mágico de fazer o tempo correr ao contrário. O que envelhece não é o tempo. É a rotina, o enfado, a incapacidade de se comover ante o sorriso de uma mulher ou de um homem. Mas será incapacidade mesmo? Ou será outra coisa: que a sociedade inteira ensina aos seus velhos que o tempo do amor já passou, que o preço de serem amados por seus filhos e netos é a renúncia aos seus sonhos de amor.
EROTISMO E SAUDADE
O amor desesperado de Fiorentino Ariza por Firmina Raza, do Gabriel García Márquez. Não, não era na erótica do toque que o amor crescia. Era na dor da distância, onde a saudade mora. O erótico precisa da presença fugidia de quem se ama.
ESPELHO
Amamos as pessoas não pela beleza delas, mas pela nossa beleza que aparece refletida nos olhos dela. O que é uma bela pessoa? É aquela em que nos vemos belos.
Somos mendigos de olhares. Olhos são espelhos. Cada encontro é um pedido: “Dize-me, espelho meu, haverá no mundo alguém mais belo que eu?”
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* Teólogo. Escritor. Cronista. Educador.
Fonte: Alves, Rubem. Do universo da jabuticaba. Ed.Planeta do Brasil, SP, 2010, pp.155/156
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