Eu achei que tinha sido original ao imaginar essa metáfora, mas hoje descobri essa tira da grande Laerte!
Sua vida nunca foi sobre você — ela se estende em todas as direções a ponto de não ser possível localizar algo para chamar de sua
Você
começa a perceber que seu quarto está pegando fogo. Mas logo você olha
pela janela e vê a rua toda, a cidade inteira pegando fogo. Não faz
sentido gritar “Meu quarto está pegando fogo! Meu quarto, pessoal! Meu
quarto!”.
Sua
vida não é você (seu corpo, seu fluxo mental, suas atividades, seus
objetos, suas relações). Sua vida é tudo o que lhe acontece, tudo o que
surge para você. Sua vida é tudo o que você pode apontar e todos que
podem apontar para você, todos para quem você surge com suas incontáveis
aparências. Não dá para precisar onde sua vida acaba e onde começa a
minha.
Do
mesmo modo, não precisamos pessoalizar as situações, olhar demais pra
nós mesmos: sou ou não sou ansioso, tenho ou não tenho raiva… Não é
sobre eu ou você, mas sobre como operam as estruturas coletivas do mundo
interno e da realidade circundante.
Quando
eu não consigo resolver a minha vida, isso é maravilhoso: muito mais
divertido do que resolver a minha vida é ganhar clareza sobre como
nenhuma vida se resolve. Essa sabedoria tem o poder de beneficiar muita
gente. Resolver a minha vidinha, mesmo se fosse possível, não ajudaria
em nada. Seria uma dentre infinitas. Não é grande coisa você ou eu
conseguir alguma felicidade… Há uma motivação, extraordinariamente mais
ampla, que deseja compreender como é que o sofrimento se dá — não como você sofre. Assim o trabalho é em você e ao mesmo tempo é em todos.
Quando
a gente descreve uma situação usando “eu”, isso se torna confusão: “Ai,
eu sou super ciumento, isso se consolidou no meu terceiro namoro. Ontem
eu mal consegui respirar quando ela fez aquilo, quero resolver logo
essa minha questão!”
Quando
a gente descreve a mesmíssima situação sem “eu”, isso se torna
sabedoria: “Uau, olha como a mente do ciúme opera costurando histórias,
se fixando, querendo resolver com urgência, achando que isso é uma
questão pessoal. Ontem percebi que até a nossa respiração se condiciona
ao movimento do outro. É incrível!”
Não
é uma troca de linguagem, mas de visão. No primeiro caso, às vezes
pagamos para que alguém escute nosso drama. No segundo, as pessoas vão
querer pagar para nos ouvir. Quando
pessoalizamos, focamos em nossa vida, em ultrapassarmos aquilo e nos
angustiamos quando não conseguimos. Quando despessoalizamos, focamos em
todas as vidas, na mente que é comum a todos e aproveitamos para ganhar
clareza mesmo quando falhamos. Até mesmo durante um sofrimento,
há uma espécie de alegria trazida pela compreensão — e a urgência dá
lugar à paciência. Não estamos apenas querendo nos liberar daquilo,
estamos com a motivação de ajudar todo mundo a se liberar daquilo.
Que
nossas aspirações para 2017 incluam os sofrimentos, os obstáculos, os
sonhos, as qualidades e a felicidade de mais e mais seres.
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*Trabalho em espaços de transformação: o lugar, TaKeTiNa, Vida Simples e CEBB. http://gustavogitti.com
Fonte: https://medium.com/olugar/2017-não-será-o-seu-ano-aca0d0ea7057#.g6gc01 03/01/2017
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