DEIXA PRA LÁ - Suzana: o perdão não é um ato de fraqueza, mas uma grande dádiva a nós mesmos (Claudio Gatti/VEJA)
Essa atitude faz bem à saúde. É o que explica a psicanalista paulistana Suzana Avezum
Sim, perdoar faz bem à saúde. E não apenas em sentido figurado. Abaixo, entrevista com a psicanalista paulistana Suzana Avezum:
O perdão protege o coração? Minha pesquisa
comprovou isso avaliando o contrário: a dificuldade de perdoar aumenta o
risco de infarto. Observei dois grupos com perfil similar em termos de
idade, sexo, condição econômica e estilo de vida. Mas em um deles todos
tinham infartado; no outro, não. No primeiro, todos tinham uma
característica em comum: passaram por situações em que não haviam
perdoado. A mágoa provocada pelo não perdão gera um stress que não é
momentâneo: retorna ao longo da vida, sempre que a situação é lembrada.
Por defesa, o corpo aumenta a quantidade de hormônios como o cortisol e a
adrenalina, que, em excesso, fazem mal. O bombardeamento a longo prazo
arruína o coração.
Existe um perfil de quem perdoa com mais facilidade?
As pessoas com fé e os altruístas têm mais facilidade em perdoar. Os
egocêntricos, menos. Mas essas são características muito abstratas,
vagas. O perdão, na verdade, está desvinculado da religião. Trata-se de
uma atitude. A decisão de perdoar tem base no fato de que o ato traz
bem-estar a quem perdoa. O outro pode não merecer o perdão, mas quem
sofre é quem não perdoa. O perdão ainda é entendido como um ato de
fraqueza, mas é a maior dádiva que podemos conceder a nós mesmos, não ao
outro.
É possível aprender a perdoar? Há profissionais
especializados nisso, sobretudo nos Estados Unidos. Digo que é possível
treinar. O primeiro passo é admitir que sentimos raiva, o que muita
gente nega. Enfrente seus sentimentos. Depois pense em por que a outra
pessoa fez o que fez. Coloque-se no lugar dela. E não necessariamente
para estimular a reconciliação: é, repito, algo que você tem de fazer em
benefício próprio. E digo mais: não é preciso esquecer a mágoa para
conseguir perdoar. O normal é lembrar-se para o resto da vida do que
causou a dor. Perdoar é pensar no problema não mais como um machucado, e
sim como uma cicatriz. Ela está lá, mas não dói mais. Pense nas
campanhas de cigarro. Depois de tantas ações que divulgaram que o hábito
faz mal, as pessoas passaram a fumar menos. Tenho certeza de que, se
houvesse campanha em favor do perdão, ele seria mais aceito.
Você perdoa com facilidade? Procuro deixar para lá, porque escolho ser feliz.
Publicado em VEJA de 21 de agosto de 2019, edição nº 2648
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Fonte: https://veja.abril.com.br/saude/perdoar-reduz-ate-risco-de-infarto/
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