Por Fernando Gabeira
By Chumbo Gordo 1 dia agoDesde a transição que o tema é discutido. Uma das propostas mais amplas é a de completar a reforma antimanicomial, criando mais centros de assistência psicosociais ao longo do país. A reforma foi aprovada em lei em 2011. Acabar com os manicômios e inaugurar uma forma de tratamento mais humano era o sonho nos anos 60, inspirado por uma das grandes figuras daquela época em que fervilhavam novas ideias: o italiano Franco Basaglia.
O projeto brasileiro é de autoria de Paulo Delgado, do PT de Minas Gerais. Seu irmão, Pedro, foi um dos grandes inspiradores da reforma no Brasil.
Estava no Congresso nesse período. Lembro-me de ter feito algumas incursões em manicômios, Juqueri, Barbacena, para a Comissão de Direitos Humanos.
Na verdade, quando jovem vi reportagens assustadoras sobre o hospício de Barbacena, feitas por Mauro Santayana. O que mais me impressionou foi falar com doentes colocados no hospício pelas famílias, com a promessa de seriam logo tirados dali. Já estavam há 25 anos internados, ninguém apareceu nem para visitá-los.
Dizem que cerca de 60 mil pessoas morreram em condições suspeitas nos manicômios brasileiros. Recentemente, fiz um curto video sobre o livro de Daniela Arbex, entrevistando-a em Barbacena cenário do livro Holocausto Brasileiro, que fala de muitas dessas mortes.
Do momento da reforma para cá, surgiram novos temas. Um deles é o Transtorno de Espectro Autista que também foi objeto de uma política especifica e recentemente de uma lei de proteção, escrita pela deputada Rejane Dias, e sancionado por Bolsonaro com o nome de lei Romeo Mion, filho do apresentador de tevê, Marcos Mion.
Meu interesse pelo tema começou com o trabalho de nossa filha Tami, psicóloga e professora, que cuidou durante algum tempo da integração de crianças com TEA na escolar. É um trabalho necessário mas que precisa de um apoio infraestrutural.
Recentemente, escrevi algo criticando o ex-ministro de Bolsonaro, Milton Ribeiro, para quem as crianças com necessidades especiais atrasavam o ritmo das outras. É difícil pura e simplesmente integrá-las se não preparamos as condições adequadas para que possam florescer.
Continuo interessado no tema. Acho maravilhoso como o conhecimento derruba preconceitos. Antes o transtorno era visto como uma doença. A nomenclatura já mudou. Antes era examinado apenas do ponto de vista psicológico, hoje já se vê como um problema cognitivo.
Levado por esse interesse, assisti à série coreana, Uma Advogada Extraordinária. A personagem é uma advogada super dotada mas portadora do transtorno. É fascinante como a palavra baleia aciona um fluxo de pensamentos agradáveis nela e como ela sabe tudo sobre a vida das baleias.
Sinto-me muito perto dela quando se embaraça ao tentar entrar na porta de vidro giratória do prédio de sua empresa. Ela organiza todas as pequenas coisas, compulsivamente.
Tenho também seguido uma adolescente nas redes sociais que conta como vive o TEA. Ela explica muitas coisas que deveramos saber para criar arestas. Não gosta de cumprimentar, detesta longas discussões, não pede ajuda nem se dispõe a ajudar e não atende telefone.
Num determinado momento, achei a advogada coreana um pouco mais suave sobretudo porque se apaixonou por um colega de trabalho. Mas a garota das redes sociais também tem um namorado. Não adianta comparar pois cada pessoa é uma só singular e que precisa ser vista assim.
Com os avanços legais, falta-nos ainda uma estrutura adequada para termos uma boa politica de saude mental no Brasil. Não sou ingênuo diante do mundo em que vivemos, cujas características não são as melhores e tendem a produzir dolorosos problemas mentais. É preciso batalhar em todas as frentes.
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