Passividade cívica e inação política desta geração refletem rastro de baixo crescimento econômico e as sequelas de governos populistas e antiliberais que vêm destruindo o Brasil
O Natal é uma boa época para recordarmos a importância dos valores cristãos que moldaram a história do Ocidente. Os ensinamentos de Cristo lapidaram a nossa formação moral e ética. As ideias de justiça e perdão, amor e compaixão, respeito e tolerância balizaram a criação da democracia, da economia de mercado, do Estado de Direito e da ideia de liberdades individuais. Foi uma longa jornada de séculos para deixarmos de ser súditos de reis e tiranos e nos tornarmos cidadãos livres e responsáveis por nossas escolhas. Tivemos de enfrentar períodos de obscurantismo e de intolerância, de guerras e conflitos para expurgar fanáticos, ditadores, populistas e outros sabotadores da civilização que, de tempos em tempos, usurpam do poder para tentar sufocar a liberdade.
Cristo nos ensinou que as coisas que realmente importam demandam sacrifício. Jesus sacrificou a própria vida na cruz para nos salvar dos pecados. Os sacrifícios dos nossos antepassados nos deixaram um mundo melhor. Suas batalhas pela liberdade fortaleceram os elos de confiança, cooperação e previsibilidade que nos possibilitaram viver numa sociedade onde reinam o livre mercado, a democracia e a liberdade. Aprendemos que a ordem sem liberdade gera tirania. Daí a importância de limitar o mando do governo e descentralizar o poder a fim de assegurar que o Estado não seja capaz de tutelar o cidadão e sufocar as liberdades individuais e o livre mercado. A História nos ensinou que liberdade sem responsabilidade termina em anarquia. Daí o papel central da família, da igreja, da escola e de associações na transmissão da cultura, da fé, de valores e tradições que moldam a formação do caráter, da consciência cívica e do sentimento de pertencimento à comunidade. Sem civilidade, respeito, senso de obrigação moral e dever cívico, a democracia esvaece.
A liberdade, a democracia, o Estado de Direito e a livre economia nos livraram da miséria e nos abençoaram com o mais longevo ciclo de crescimento econômico, paz e prosperidade da História. Permitiram que a troca de ideias, bens e produtos gerasse inovações fabulosas e mudanças transformadoras no nosso modo de viver, pensar e enfrentar os desafios do nosso tempo. Se a liberdade nos cobriu de tantas bênçãos, por que temos tão poucos defensores da liberdade? Que geração ingrata! Faz-nos lembrar a ira de Jesus ao expulsar os vendilhões do templo: “Vós fizestes da casa do meu pai um antro de ladrões!”.
A geração atual profana a liberdade e a democracia. O eleitor vota em populistas que defendem políticas antiliberais e a coerção de liberdades individuais. O centrão empresarial adula o governo para arrancar mais favores, subsídios e protecionismo do Estado, e ignora os sinais claros de cerceamento da liberdade de expressão e da liberdade econômica e da debilidade do Estado de Direito, deformado pelo voluntarismo da Suprema Corte.
Esta geração é formada por gente mimada, viciada em benefício estatal, desprovida do senso de dever público e incapaz de defender a democracia e a liberdade. Sua passividade cívica e inação política refletem o rastro de baixo crescimento econômico e as sequelas de governos populistas e antiliberais que vêm destruindo o Brasil. A economia de mercado foi substituída pelo capitalismo de Estado; a polarização política é explorada pelo governo para cercear a liberdade de expressão e de opinião; o Supremo Tribunal Federal, que deveria agir como guardião da Constituição, tornou-se a corte do deboche moral e do voluntarismo pessoal, como bem ilustram as últimas duas canetadas do ano do ministro Dias Toffoli. A primeira aboliu uma multa de mais de R$ 10 bilhões de uma empresa envolvida no escândalo da Lava Jato e para a qual a mulher do ministro advoga. A segunda restituiu o pagamento de benefícios e privilégios (penduricalhos) aos juízes federais que, somados aos supersalários da elite do Judiciário, violam o teto constitucional da remuneração do funcionalismo público.
Onde estão os defensores da liberdade? Onde estão as pessoas de bem que estão dispostas a sacrificar o conforto da vida pessoal para lutar na trincheira da política e salvar a liberdade? Onde estão os jornalistas corajosos que não se dobram aos dogmas da militância política e buscam divulgar a verdade e os fatos? Onde estão os pais de família que não aceitam a militância ideológica nas escolas, que impede o desenvolvimento do pensamento crítico do seu filho? Onde estão os jovens que defendem a liberdade combatendo aqueles que apoiam organizações terroristas (como o Hamas) e pregam o cancelamento de pessoas que ousam criticar a cartilha do identitarismo? Onde estão os cidadãos que combatem a corrupção nas cortes, no mercado e na política?
Só há uma alternativa para deixarmos um país melhor para os nossos filhos e netos. Os defensores da liberdade precisam sair do seu casulo e lutar nas ruas e na imprensa, no mercado e na política, nas escolas e associações de classe para salvá-la das garras de um governo e de um Estado que a sufocam a cada dia. Essa é a minha esperança em 2024.
*CIENTISTA POLÍTICO, AUTOR DO LIVRO 10 MANDAMENTOS – DO BRASIL QUE SOMOS PARA O PAÍS DE QUEREMOS, FOI CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
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Fonte: https://www.estadao.com.br/opiniao/luiz-felipe-davila/onde-estao-os-defensores-da-liberdade/
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