Por Jean Paul Metzger
O maior parque-esponja de Shanghai: "Céu estrelado" - China DailyOs tristes acontecimento no Rio Grande do Sul chamam a atenção para a necessidade de nos adaptarmos às mudanças climáticas. Por mais que consigamos reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o clima já está alterado. Extremos de chuva, seca e calor serão cada vez mais frequentes. Neste cenário, é fundamental nos prepararmos para esse “novo normal”. Mas, afinal, quais são essas tão faladas medidas de adaptação? Como tornar nossas cidades menos suscetíveis e mais resilientes a esses fenômenos avassaladores?
No caso de eventos de chuvas extremas e inundação, como ocorreu agora no Sul, será que as soluções são essencialmente obras de engenharia e infraestrutura, como a modernização ou manutenção de diques, comportas, sistemas de drenagem e estocagem de água? Certamente isso é parte da solução, assim como evitar a ocupação de áreas de risco, e, quando isso não é mais possível, ter sistemas de alertas precoces e rotas de fuga.
Porém, para além de tudo isso, há um outro conjunto de soluções menos custosas, porém efetivas, que são aquelas que se utilizam de processos e funções que os ecossistemas nativos já realizam naturalmente – são as “soluções baseadas na natureza”.
A vegetação nativa, tanto florestal quanto não florestal, como os Pampas, permite uma maior infiltração da água das chuvas, funcionando como áreas de recarga de lençóis freáticos. Ao reduzir o escoamento superficial da água pelo solo (as enxurradas) e a chegada abrupta desta água aos rios, a vegetação nativa ameniza a intensidade das cheias. Ademais, a manutenção desta vegetação nas áreas de várzea e ao longo de rios e córregos protege os rios e suas encostas, além de fornecer espaços naturais para o transbordamento dos rios quando das cheias. Todas essas funções (chamadas de “eco-hidrológicas”) são parte das soluções que a natureza provê naturalmente, a baixo custo.
Nas cidades, as soluções baseadas na natureza para enfrentamento de extremos pluviométricos são aquelas que aumentam a permeabilidade e a capacidade de infiltração dos solos. Isso inclui a criação de biovaletas e jardins de chuva (áreas de captação e filtração de águas pluviais), a expansão de áreas verdes, sejam elas naturais ou introduzidas (como no caso de telhados verdes), assim como a preservação ou restauração de várzeas. Essas cidades mais permeáveis, capazes de absorver, armazenar e controlar as águas da chuva, são conhecidas como “cidades esponjas”. Esse conceito foi desenvolvido e implementado em 16 cidades na China, há cerca de dez anos. Dado o sucesso desta empreitada, o governo chinês planeja transformar 640 cidades mais propensas a eventos de inundação em cidades esponjas, onde pelo menos 80% das áreas urbanas ficariam mais permeáveis até 2030. Esse projeto deve permitir absorver cerca de 70% das águas das chuvas.
* Professor do Instituto de Biociências da USP
Fonte: https://jornal.usp.br/articulistas/jean-paul-metzger/afinal-quais-sao-as-medida-de-adaptacao-as-mudancas-climaticas-baseadas-na-natureza/
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