Por Manuel Torre*
Ainda que celibatário fiel, faz algum sentido um membro de uma instituição representar algo que a sua instituição condena?
Face às declarações de sua Santidade, o Papa Francisco, sobre admitir aos seminários ou às ordens sacras pessoas declaradamente homossexuais, apraz-me dizer o seguinte.
Vivemos numa sociedade absurdamente esquizofrénica e hipócrita em todos os setores da vida, que se prostitui intelectualmente. Só importa parecer, se também se puder “ser”, melhor…
A Igreja Católica, tal como o nome indica “Católica” é universal, pelo que é para todos, todos, todos. Todavia, ser batizado, pertencer a esta instituição humano-divina, pressupõe princípios, valores e baluartes morais.
Se há pessoa, na Igreja Católica, que mais tem procurado incluir e salvaguardar a igual dignidade de todos os seres humanos e, como é óbvio, a comunidade LGBTQI+ – sendo “atropelado”, várias vezes, internamente pela ala mais conservadora da Igreja-, tem um nome: Papa Francisco!
Privadamente, quem é que não chama os “nomes pelos bois” aos seus funcionários? É uma analogia é certo, nem estou a chamar “boi” a ninguém. O Santo Padre não tem o direito de corrigir os seus prelados? Adverti-los, aconselhá-los?
A mim o que gera asco e gritante repugnância é que de uma conversa privada, saiam as coisas para fora! Mas isso, até nas famílias, empregos e instituições acontece. Isso, sim, é homofóbico!
A Homossexualidade é inerente ao ser humano, enquanto humanidade, desde que esta existe. Daí que as Sagradas Escrituras – que só têm de ser observadas estritamente por quem é batizado (as pessoas podem procurar Deus, na sua homossexualidade assumida, noutra religião!)-, desde sempre foram veementemente condenas, quer no Antigo Testamento, quer no Novo Testamento. A Revelação e a Tradição não podem ser alteradas. São condição sine qua non!
A pessoa homossexual deve ser ostracizada, segregada, “ser olhada de canto”, até presa ou morta (depende de geografias e religiões)? Evidentemente que não! Se há religião que sacraliza o valor inviolável da vida e dignidade humana é a Igreja Católica! O Santo Padre tem encarnado isso mesmo!
Na Igreja há lugar para todos que vivam bem o seu batismo, de contrário, são advertidas, mas nunca para abandonarem a sua opção por Cristo, mas para a confirmarem! Há alguma incongruência em uma instituição corrigir um dos seus membros por não seguirem o que está estipulado pela ética da sua empresa? Desculpem novamente a analogia. Muito pelo contrário, seria contraproducente não o fazer!
Quanto à heterossexualidade, esta, sempre foi louvada e querida por Deus (“crescei e multiplicai-vos”). Então, os homossexuais não são queridos por Deus? Uma vez mais não é assim! Deus ama o pecador (a pessoa), detesta, isso sim, o pecado, seja ele qual for! Somos todos filhos de Deus, pela ordem da criação, mas novos em Cristo, pelo santo batismo: mortos para o pecado, regenerados para uma vida em Deus! Interrogo-me: um membro de uma instituição não sabe quais são os seus trâmites?
Friso que o batismo (a nossa opção fundamental por Cristo, a sua Igreja e Evangelho) é para adultos. No entanto, a Igreja admite crianças até aos sete anos – não inclusive -, por serem apresentados, por seus pais à Igreja, os quais pedem o batismo para o seus filhos, com a ajuda vital de duas pessoas cristãmente idóneas (padrinhos), o qual a Igreja, sendo de todos e para todos, não nega.
Na tradição vetero-testamentária quantas são as passagens que condenam veemente o pecado da sodomia? Por outro lado, quantas vezes não vemos Deus louvando os seus fiéis, assegurando-lhes uma enorme descendência, uma esposa “como videira fecunda” e os filhos como uma bênção?
No Novo Testamento, São Paulo quando confrontado com o estilo de vida das sociedades gregas e romanas, não adverte os seus fiéis para não voltarem aos costumes instalados da sociedade daquele tempo?
Quanto ao direito canónico este é bem explícito quanto à não ordenação de um homossexual. Ainda que celibatário fiel, faz algum sentido um membro de uma instituição representar algo que a sua instituição condena?
Voltando ao mesmo direito canónico, por mais paradoxal que seja, para se ser admitido às ordens sacras, só um homem heterossexual, que, depois, abraçará conscientemente o celibato (diáconos em vista ao sacerdócio).
Mas ser pai de família não é a maior bênção de Deus para o homem? É! Só que no caso do padre, a sua família são os seus fiéis e, por isso, “receberá cem vezes mais mães, pais, filhos, filhas e terras”! Ainda é mais abençoado!
Em suma, contristado, vivemos numa sociedade absurdamente esquizofrénica e hipócrita! Isto é que é ser-se homofóbico! Matamo-nos uns aos outros! É bem mais grave que a homossexualidade!
Com profundo respeito à comunidade LGBTQI+, peço em nome da Igreja, desculpa pela nossa hipocrisia e espero que, na verdade, caminhemos, tendo plena consciência de que não é o que Deus quer para vós, mas, não vos ama menos, nem vos escuta menos, nem caluniemos o Santo Padre!
Quanto à Igreja Católica não pode abdicar da sua matriz, da sua identidade, assente na Revelação (Sagrada Escritura – Bíblia) e Tradição! No entanto, ainda que feridos, não duvideis de uma coisa: não há religião mais tolerante e que apregoe os valores humanos do que a Igreja Católica, porque os valores não são seus, são de Cristo!
* Padre da arquidiocese de Braga/Portugal.
Fonte: https://observador.pt/opiniao/homossexualidade-e-seminarios/
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