Por Pedro Bardini
Salvamento do cavalo Caramelo, que ficou dias ilhado em telhado no Rio Grande do Sul, repercutiu nas redes sociais e foi transmitido pela TV
Depois de quatro dias ilhado, o cavalo Caramelo foi resgatado nesta quinta-feira (9). Ele ficou preso em cima de um telhado na cidade de Canoas devido às enchentes que atingem o Rio Grande do Sul desde o fim de abril. Integrantes do Corpo de Bombeiros Militar de São Paulo sedaram o animal, colocaram ele em um bote e o levaram a um abrigo, onde ele está sendo tratado.
Antes do resgate, influenciadores famosos como Whindersson Nunes, Felipe Neto e Luisa Mell postaram vídeos em suas redes sociais mobilizando o resgate do cavalo. A saga de Caramelo foi alvo de cobertura internacional pela rede britânica BBC, pela agência de notícias Reuters e pelo canal de TV americano CBS. O resgate também foi transmitido ao vivo no Mais Você, programa da TV Globo apresentado por Ana Maria Braga.
O presidente e a primeira-dama também se mobilizaram. Janja comemorou o resgate de Caramelo durante um evento oficial para anunciar medidas relacionadas às chuvas no Rio Grande do Sul. Depois de “dormir inquieto com a imagem” do cavalo ilhado no telhado, Luiz Inácio Lula da Silva disse no mesmo evento que Caramelo “merece um bom descanso”.
Comoção
O salvamento de Caramelo não foi o único a gerar comoção. Comentários de usuários comovidos costumam ser deixados em vídeos publicados nas redes sociais mostrando resgates de pessoas com seus animais de estimação ou de bichos que acabaram deixados para trás no processo de evacuação. Um desses vídeos, por exemplo, mostra Marcelo Gaúcho (PTB), vice-prefeito de Santo Antônio da Patrulha (RS), salvando um cavalo também em Canoas.
Natalia de Souza Albuquerque, pesquisadora e doutora em Comportamento Animal pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, disse ao Nexo que a empatia humana é o principal motivo da comoção causada pelos resgates de bichos.
No caso de animais como cães, gatos e cavalos, o sentimento de empatia é ainda maior devido à domesticação desses animais. Albuquerque explica que o ser humano tem convivido com esses bichos há milhares de anos e, por isso, eles já são capazes de identificar emoções em expressões humanas e vice-versa. Por isso, afirma a pesquisadora, “a comoção é maior com animais domesticados”.
Isso fica claro, segundo Albuquerque, quando os animais resgatados pulam nos membros da equipe de socorristas. A ação ocorre porque, dependendo da domesticação do animal, ele vê no ser humano uma possibilidade de salvação – o que comove, porque vemos um ser senciente tendo o sofrimento mitigado, um reflexo da empatia.
A médica veterinária Camila Watanabe disse ao Nexo que a comoção diante dos resgates é motivada pela mídia, que dá cada vez mais atenção aos eventos, e pela recente tomada de consciência humana a respeito da senciência animal – que é o reconhecimento de que os animais têm sentimentos, como medo e alegria.
Bichos reconhecem que estão em perigo em situações trágicas. Eles demonstram o medo por meio dos olhos, dos movimentos e podem se assustar com o resgate. Por isso, é preciso muito cuidado na hora de retirar os animais de situações ameaçadoras.
“Quem ajuda os animais [em resgates] geralmente também ajuda gente. Quem reclama disso, normalmente não ajuda nem animais nem gente” Camila Watanabe médica veterinária, em entrevista ao Nexo
Para a veterinária, o fato de termos consciência de que eles são mais uma vítima do que está acontecendo também é comovente. Assistir aos vídeos de animais incapazes de agir diante de tragédias faz espectadores os compararem a bebês ou crianças. Nesse caso, eles estariam “mais à mercê do que qualquer um”.
Animais nos abrigos
Além de bombeiros e do Exército, ONGs e voluntários de resgate animal estão se mobilizando para salvar a vida dos bichos atingidos pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
Estima-se que 15 mil animais já foram resgatados em Canoas, na Grande Porto Alegre, uma das cidades mais atingidas pelas enchentes, e cerca de 5.000 em Porto Alegre. Os resgates continuam enquanto as cidades contabilizam o número.
20 mil
é o número aproximado de animais que já foram resgatados em Canoas e em Porto Alegre
Muitos espaços que não alagaram de cidades atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul foram transformados em abrigos provisórios para os animais e seus tutores. Existem também abrigos que recebem apenas os animais resgatados que foram encontrados sozinhos.
A universidade PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), por exemplo, abriu um espaço para receber os animais de estimação e seus tutores. De acordo com a assessoria, eles não aceitam animais que estejam sozinhos.
Os pets ocuparam o parque esportivo da universidade, com ração, água, fraldas higiênicas e camas à disposição. Os donos estão alocados em outro espaço do campus. Atualmente, 43 cachorros, 17 gatos e 2 porquinhos da índia ocupam o parque esportivo da PUC-RS.
Em Porto Alegre, a sede do clube Grêmio Náutico União aceita animais e tutores. Lá eles podem ser alimentados e passar por atendimento veterinário.
Já um abrigo da Prefeitura de Canoas disponibilizou um local apenas para os animais resgatados. Há espaço para 120 bichos. O estádio Boca do Lobo, em Pelotas (RS), do Esporte Clube Pelotas, também está sendo usado de abrigo apenas para animais.
Fonte:https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/05/09/resgate-de-pets-e-animais-enchente-rio-grande-do-sul
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