Lya Luft*
Eu realmente, na hora de escrever a
coluna passada com número 1, indicando que este seria o 2, pensava em
retomar e alongar o tema "autoridade", pois, naquele seminário de
Direito de Família em Gramado, destacou-se a preocupação dos presentes
com a questão da juventude e da infância, relativo a esse assunto. Mas
as coisas acontecem, umas se sobrepõem às outras, ao menos
momentaneamente, e fiquei dominada por dois outros assuntos:
1. O
horror que se desenrola em fronteiras americanas com crianças e
adolescentes separados de seus pais à moda Auschwitz (perdoem se
exagero, mas considero isso apenas um começo... com os States saindo da
Comissão de Direitos Humanos da ONU), porque Mr. Trump quer dar uma boa
lição nos imigrantes ilegais ou refugiados. São famílias que tudo
deixaram na esperança de uma acolhida humana em uma nova pátria. Como
milhões fizeram décadas e séculos atrás, construindo o país mais
poderoso do mundo. Mas, para o atual presidente, imigrantes em geral são
predadores, criminosos, estupradores e, segundo um dos seus últimos
nobres tuítes, "vão empestar" o país.
Uma dolorosa, pungente
gravação mostrou ao mundo o desespero dessas crianças, clamando, urrando
pelos pais. Senti uma profunda, triste vergonha de ser humana ao
assistir a essa desgraça. Senti imensamente que muita gente por lá ou
aqui ainda ache que isso é necessário e legal. (Há indícios de que a
desumanidade com as crianças seria trocada por votos em favor do "muro"
entre EUA e México...)
2. Meu segundo susto - nem sei por que
essas coisas entre nós ainda me espantam - foi que vários senhores
deputados federais, alguns conhecidos nossos, assinaram um importante
documento liberando denunciados ou condenados da Lava-Jato,
enfraquecendo a própria, para o mal de todos nós, sem saber o que
estavam assinando!!! "Não prestei atenção...", "Nem li direito...", "Fiz
o que me pediam e nem me dei conta do que era...". Foram as desculpas
quando apanhados em flagrante. Outro ainda disse com franqueza "Se for
pra prejudicar fulano, eu assino qualquer coisa".
Representantes
do povo, muitas vezes reeleitos por nós, assinam em nosso nome
documentos importantes. Apanhados, sem corar de vergonha, declaram com
simplicidade que assinaram sem saber. Botaram num papel qualquer o seu
nome, com o qual nos representam, portanto assinaram por nós, que de
nada sabíamos. Assim caminha o Brasil. Assim chegamos onde estamos.
Hoje perdi a graça de escrever sobre autoridade em família, em escola,
qualquer grupo, e nação. Ia comentar também um dos itens apresentados no
belo congresso, a sexualização precoce da meninada, com pais perplexos,
intimidados pela autoridade chamada "coerção social" - que não vem de
uma pessoa, mas do grupo em que vivemos. Força insidiosa que ninguém
assina, mas que diz, por exemplo, que não nascemos com gêneros
definidos, que meninos devem brincar com bonecas e meninas com carrinhos
e outras insanidades, que nada têm a ver com respeito a homossexuais,
transgêneros e outros. Talvez o sagrado bom senso possa salvar a
meninada: vou falar nisso algum dia.
A bizarra e cruel atitude
do governo americano com famílias desesperadas e o descaso de ditos
líderes com a importância de seu próprio nome pesaram mais sobre mim. E
isso quis dividir com meus leitores.
------------
* Escritora. Colunista da ZH
Fonte: http://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel/materia.jsp?cd=c0ca5d6a5e9d01d0a3090342be8d5751 23/06/2018
Imagem da Internet
Nenhum comentário:
Postar um comentário