Rodrigo Constantino*
O iluminismo racionalista deixou a
“Idade das Trevas” e seu obscurantismo para trás. Ao menos é nesse
progresso que muitos acreditam. O problema é que, com a “morte de Deus”,
colocaram qualquer coisa em seu lugar. E uma dessas coisas foi
justamente a ciência — ou melhor: o cientificismo, que é sua deturpação.
É curioso que os “progressistas” tratem
muitos conservadores como supersticiosos tacanhos que creem no
criacionismo, ao mesmo tempo em que negam a ciência em diversas áreas do
saber. Por falta de espaço, não teremos como aprofundar o tema. Mas
alguns exemplos ajudam na reflexão.
O mais destacado talvez seja o
ambientalismo radical. A esquerda jura falar em nome da ciência quando
alerta para os iminentes riscos catastróficos do “aquecimento global”,
desqualificando qualquer um mais cético com tanto alarde. Não importa
que já tenha virado “mudanças climáticas”, expressão mais vaga que
permite incluir tudo que ocorre no clima — sempre em mutação.
Seguir o dinheiro e compreender os
interesses políticos por trás de tanta histeria tampouco interessa. Em
nome da ciência, os ecoterroristas desprezam os princípios mais básicos
da ciência, como a importância de refutar em vez de comprovar uma tese, e
acabam substituindo-a por uma ideologia. O mesmo acontece com outras
questões. A paranoia com os “agrotóxicos” (defensivos agrícolas) e a
seita que se criou em torno dos alimentos orgânicos só podem ser
entendidas como uma revolta contra a ciência. Em “Agradeça aos
agrotóxicos por estar vivo”, Nicholas Vital mostra como é preciso fechar
os olhos para os fatos para continuar nessa cruzada contra os
defensivos agrícolas.
Ainda no mesmo setor, os ataques aos
alimentos transgênicos é puro obscurantismo “natureba”. A seita dos
veganos também declara guerra à proteína animal e, com isso, atenta
contra a ciência. Tem gente que condena vacinas ou remédios das gigantes
farmacêuticas, pois acha que o “natural” é sempre melhor. O que dizer
da ideologia de gênero, que ignora toda a teoria da seleção natural
darwinista e sua influência no comportamento distinto dos sexos? É pura
revolta contra a biologia negar as diferenças entre macho e fêmea,
inclusive em nossa espécie.
Por outro lado, há os que se agarram à
“ciência” para manter a esperança na vida eterna, e acreditam na
imortalidade com base em algoritmos e inteligência artificial. São os
fãs de Yuval Noah Harari, por exemplo, que abraçam a missão prometeica
do “Homo Deus”. Ciência? Ou cientificismo?
São diversos casos, mas o leitor pegou o
ponto central. Na arrogância cientificista, muitos acham que
abandonaram as superstições obscurantistas, apenas para mergulhar de
cabeça em outras. Será que é a direita mesmo que virou as costas ao
progresso científico?
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* Rodrigo Constantino é economista, escritor e um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”
Fonte: https://istoe.com.br/a-revolta-contra-a-ciencia/ 10/08/2018
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