sábado, 11 de agosto de 2018

Lobos e cordeiros

Lya Luft*

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O homem é o lobo do homem, frase que se perpetuou e vai se provando realidade, pois, repito, somos animais predadores: cada vez mais, ao menos nestes dias, estamos devorando alguém. Não como verdadeiros canibais, mas morais, cibernéticos, numa assustadora ânsia de denegrir o outro. 

Diferenças ideológicas servem para querer sujar. Mudanças políticas dão motivo para decapitar. Manifestações variadas fazem a gente jogar no lixo pessoas que não nos fazem mal, que possivelmente nem entendemos, cuja situação desconhecemos, mas a quem não concedemos a liberdade do pensamento diferente (enquanto isso, vociferamos sobre democracia). 

Quando tanto se fala em diversidade, ela não é respeitada no terreno da política, da filosofia, da postura. Mentira que queremos democracia: queremos a ditadura mental e moral mais fascista e destrutiva do mundo, que é a nossa. E, mesmo sem documento, sem fundamento, espalhamos debochadamente acusações, às vezes até meias verdades que melhor seria se ficassem discretas. Pois o Brasil não vai melhorar com esse tipo de violência. 

Enfim, nestes tempos esquisitos, não sabemos quem é pró ou contra coisa nenhuma, porque em poucas horas tudo pode mudar - não por ideal ou ideologia, mas por medo, interesse ou outro motivo não muito nobre. Nosso amigo vira nosso inimigo. Denegrimos nosso amigo por sua postura política: a amizade morre, o respeito sucumbe, a dignidade nossa e a do outro também, pois quem xinga o outro está se expondo. 

Na lista de candidatos a qualquer coisa, sobretudo à reeleição, a imensa maioria tem rabo preso e todo mundo sabe. A lista de insultados que muitas vezes nada têm a ver cresce a cada dia. Mesmo que alguém tome uma atitude que não aprovo, não é muito legal expô-lo nas redes sociais como nas medievais fogueiras, em que centenas de inocentes foram assados vivos enquanto a turba assistia deliciada e louca, comendo suas marmitas, tricotando suas roupas, refocilando na ignomínia e nos horrores. 

Talvez eu exagere, mas me dá calafrios ver, ler, constatar a cada hora a facilidade com que apontamos o dedo para o outro - apenas um ser humano com direito a postura, compostura e opinião, até engano - com um prazer no mínimo preocupante. 

Ninguém deve ser um cordeiro pacífico que engole todos os sapos; não é possível também ser, rapidamente, o lobo feroz que sem pensar dilacera corpo e alma de vítimas que em geral nem conhece direito. Ai de quem tente explicar, ou defender, ou ao menos justificar a postura, as palavras, o jeito de algum conhecido ou amigo que - sabemos - não está sendo tratado com justiça. No mínimo, receberemos um obtuso e irracional "vocês se merecem!". 

Parece que a política, nestes dias, faz manifestar-se o pior em alguns de nós. Isso não é política, isso não é democracia. Sinto muito. Os verdadeiros lobos nem raciocinam, nem são maldosos: seguem seu instinto. Matam para comer, para proteger sua ninhada. Nós seguimos nossos desejos, pensamentos e frustrações inconfessáveis.
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* Escritora.
Fonte:  http://flipzh.clicrbs.com.br/jornal-digital/pub/gruporbs/acessivel/materia.jsp?cd=e9d59178c8a9374f1c65bae52b6b5bfc
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