segunda-feira, 3 de junho de 2024

«Nós somos a soma de desassossego e paz e é esse equilíbrio que é difícil encontrar»

Fora D'Horas - Pedro Chagas Freitas*

«Nós somos a soma de desassossego e paz e é esse equilíbrio que é difícil encontrar»
Fotografia


Publicado em 02 de junho de 2024, às 17:48

No novo episódio do Fora D’Horas, a DMTV esteve à conversa com Pedro Chagas Freitas, um dos escritores portugueses mais conceituados, numa das alturas mais difíceis da sua vida, após ter perdido o seu pai. 

O Pedro escreve o amor, mas também o desassossego e a dor. Tornou-se num dos nomes mais conhecidos com o lançamento do livro “Prometo Falhar”, que celebra agora 10 anos e vendeu mais de um milhão de exemplares. Como é que se escreve um best seller? O escritor diz que não sabe responder, até porque a ideia era que este livro, pelo seu nome controverso, não ia ter sucesso. Mas afinal, o que ia ser uma falha, acabou por ser um êxito. 

 

 

A infância foi vivida de forma plena, com direito a tudo que uma criança precisa. Amor, brincadeira, regras e, neste caso, muitas histórias ouvidas mas também criadas e contadas. A escrita, a imaginação e a criação  sempre estiveram presentes, embora nunca houvesse a ideia de fazer disso vida. Foi nadador salvador, segurança, barman e muitas outras coisas onde o escritor afirma ter falhado em todas. Na escrita acredita que foi encontrando um espaço para manter viva a criança que tinha e tem dentro de si e dar voz às suas criações e sonhos.

Foi assim que começou a olhar para este caminho como uma necessidade, um hábito imprescindível que, como afirmou o escritor, nem se trata de gostar de escrever, trata-se de ser algo que precisa para viver de forma plena. 

E a caminhada tem sido feita de grandes desafios, muito desassossego e muita ânsia pelo desconhecido. O escritor confessa que gosta da incerteza das coisas, que gosta de se pôr à prova e de experimentar dinâmicas diferentes dentro da escrita de forma a perceber também onde falha e que aprendizagens retira disso. 

E em conversa sobre como foi começar a sua carreira e sobre os pilares que teve e ainda mantém, foi inevitável falar do seu pai, uma das maiores perdas até hoje, se não a maior. O Pedro é pai e perdeu o seu, há cerca de três meses. Perdeu o pilar, o amor incondicional, o companheiro de viagem. Afirma-se um homem diferente hoje,  que precisou e precisa de renascer e aprender a viver de novo.

E esta conversa, que aconteceu na quinta onde o escritor cresceu, fez com que recuasse às suas bases. Foi um misto de emoções, com alguma nostalgia e dor, mas sentimentos que são precisos e dos quais, pelas palavras de Pedro, muita gente foge, preferindo viver numa felicidade “enlatada”. Há a tendência de não querer regressar à estaca zero, de não querer relembrar o espaço primordial, de só querer mostrar o lado “cor de rosa” da vida e, por isso, o escritor diz que faz questão de utilizar as suas redes sociais para partilhar muito desses momentos em que a vida não está assim tão bonita. 

E foi neste mundo da escrita que conheceu a sua esposa, a Bárbara, uma leitora assídua dos seus textos, por quem acabou por se apaixonar. Desta união nasceu o Benjamim, o amor absurdo, a experiência desgastante mas compensatória sempre que se deita e sabe que tem ali o amor da sua vida, tem ali tudo.

Sobre projetos futuros, avançou que há um novo livro a ser lançado nos próximos meses, do género de um lado B do livro “A raridade das coisas banais”, mas desvendou também as suas “cábulas” de um trabalho que será lançado no próximo ano. 

E ali ficávamos, em conversa, com tanto para explorar. Mas, para terminar, quisemos saber se a vida é como sonhava e se  a considera feliz, ao que Pedro respondeu que todos somos a soma de desassossego e paz e o difícil é encontrar esse equilíbrio. Há espaço para a tristeza, para a melancolia e também para a felicidade e euforia. Ninguém é feliz todos os dias, ninguém está eufórico a toda a hora, mas também ninguém está triste de forma contínua. A felicidade é complexa, mas Pedro diz que, para si, se ao deitar se sentir completamente em paz consigo mesmo e consciente de que é tudo aquilo que pode e consegue ser, então deita-se profundamente feliz.

* Jornalista 

Fonte:  https://www.diariodominho.pt/entrevista/2024-06-02-nos-somos-a-soma-de-desassossego-e-paz-e-e-esse-equilibrio-que-e-dificil-encontrar-665ca2b48a6cf

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