Margarida Vieitez*
Quantas histórias de amor não se vivem ou se perdem por ai… em nome de um “intruso” chamado Medo de Amar?
Quantas
relações não passam de um olhar mais demorado, de um entrelaçar de
mãos, de um primeiro beijo, porque queremos amar mas sentimos Medo de
Amar?
Quantas vezes amamos, e não vamos atrás, porque o medo nos
faz fugir e esconder o que sentimos, ou fazer de conta que não sentimos?
Ao longo dos anos acompanhando pessoas e casais, fui-me apercebendo que muitos deles sentiam muito medo de amar. Desde sempre…
Vamos
tentar perceber porquê? Porque tantas pessoas preferem “deixar ir”, e
porque tantas outras ficam uma vida inteira pensando nesse Amor e no que
aconteceria se tivessem tido a coragem de, simplesmente, ir atrás do
que sentiam?
Vamos conversar com o Medo de Amar?
Olá Medo
de Amar! Muito obrigada por nos concederes esta entrevista e por
conversares connosco. Compreendo que tenhas passado vários dias a pensar
se darias esta entrevista. Afinal, todos nós sentimos dificuldade em
falar sobre nós próprios. Mas foste corajoso, em aceitar! Talvez mesmo
paradoxal! Afinal és um medo corajoso! Existem algumas perguntas que
gostariamos de te fazer.
Sabes, isto de amar está a tornar-se
muito complexo para a maioria das pessoas. Cada vez surgem mais pessoas a
falar sobre essa espécie de “parede invísivel” que se interpõe entre
elas e o amor e que as deixa, ora “petrificadas”, ora com vontade de
fugir para bem longe.
Todas elas afirmam querer viver um grande
amor, mas quando ele parece começar a despertar, surge “um tipo de arma
na mão” que lhes diz: “tem cuidado, vê lá o que fazes, vê onde te metes,
olha que vais sofrer…” e muitas acabam por escolher não viver esse
Amor, com medo de doer. Por isso decidi, que era importante
entrevistar-te e ouvir-te.
Afinal o que é que tu pretendes mesmo com isto. Deixar que se vivam lindas histórias de Amor? De onde vens tu?
Medo
de Amar: Eu surjo do “tudo” o que as pessoas “aprenderam” desde
pequeninas e das experiências amorosas por que passaram. Digamos que
posso ter crescido com elas, e até ficar maior que elas. Depende, entre
muitas coisas, das relações que viveram e de como interpretaram essas
vivências. Depende da sua personalidade, da forma como gerem as suas
emoções, da forma como vêem o Amor: como um perigo, ou como algo muito
bom e que faz bem.
Mas existem demasiadas pessoas a ver o
Amor como um grande risco. Porquê? Do que é que elas têm tanto medo? O
que é que tu as fazes pensar, para elas terem vontade de se esconder do
Amor, ou fugir para longe dele?
Medo de Amar: Eu faço-as
pensar que aquilo que viveram pode repetir-se, faço-as pensar na dor
que sentiram, no que pode acontecer de menos bom se derem esse passo;
Faço-as acreditar que o Amor não existe, que é uma fantasia, que faz
sempre inevitavelmente sofrer, que podem perder a sua liberdade,
vontade, autonomia, independencia e o seu espaço. Que podem perder até a
identidade, que vão ficar dependentes, que não devem confiar, que podem
perder a pessoa que amam, que é sempre tudo igual… começa bem e acaba
mal.
Tento convencê-las que o outro não as vai aceitar como são,
que vai tentar mudá-las e virar de pernas para o ar, que não se vão
entender, que são muito diferentes, que o outro as vai rejeitar e
abandonar, que pode acabar a qualquer momento, que vão se dar mal, que é
melhor não arriscar, que é melhor nem começar, nem ir mais além, que
vai ser perda de tempo, que a mãe, o pai, os filhos e o cão não vão
gostar, que os amigos e conhecidos vão detestar.
E ainda, que
ela/ele não está apaixonado, nem encantado, porque se estivesse… que
ele/ela “é demais” e nunca vai querer alguém “assim menos mais”, que o
outro as vai trair com todos que lhe apareçam pela frente, que moram
longe um do outro e que não conseguiriam estar juntos nem namorar, que o
seu sucesso profissional seria comprometido, que jamais conseguirá
fazer o outro feliz, que irá inevitavelmente magoar o outro, que não
conseguiria viver com ele/ela na mesma casa, dormir na mesma cama e
lavar os dentes ao mesmo tempo, que os exs não os vão largar enquanto
não os separarem, que não estão preparados para o Amor, que ele/ela só
tem defeitos terriveis e inaceitáveis, fisicos e mentais, que não podem
acreditar, que vai doer muito, a ponto de não aguentar, que nunca nunca
nunca… dará certo… porque é uma história impossível.
São estes
alguns dos pensamentos que eu, enquanto Medo de Amar “disparo” a toda a
velocidade “em forma de rajada” a ponto de, porque sempre em “modo
automático” se identificarem, sem sequer se perguntarem, mas de onde
veem tudo isto? E acontece muitos irem atrás daquilo que o seu cérebro
identifica com sendo a realidade. Porque, se assim não fosse, a maioria
dessas pessoas, correria atrás, ainda que fosse um “talvez amor”, para
conhecer e conhecer e conhecer… e tentar perceber, se é ou não um grande
amor… quanto mais não seja para um dia, quando pensarem em tudo o que
viveram e deixaram de viver, encontrarem um sentido, uma resposta, e não
apenas um “e se?”
Está a dizer-me que é possível elas
reduzirem o Poder e a Influência que tem nas suas vidas, nas suas
escolhas, nas suas decisões, de ir ou não atrás do amor, quando sentem
amor por um outro alguém? Que não é “loucura” acreditar no amor? Que
podem não pensar que se vão magoar, que vão sofrer, que vai doer? Que se
podem afastar esses pensamentos?
Medo de Amar: Eu
existo para evitar a dor. Para proteger! Mas será que a dor de evitar o
amor e de o mandar embora, não é muito maior? Por vezes, pergunto-me
porque é que as pessoas tem tanto medo de amar e porque andam comigo “á
tiracolo” como um “escudo” que as protege de tudo, especialmente de
sentirem dor? Será que protege mesmo? Não fará a dor parte da vida? Sim,
eu posso em certa medida proteger da dor, mas neste caso do Amor, o meu
papel é apenas o de afastar quem realmente lhe faça mal, quem seja
tóxico, não quem lhe faça bem, quem goste de si, quem o ame. E isso,
pode acontecer se for atrás de todos aqueles pensamentos sem os observar
e questionar. E isso, pode fazer com que se meta na sua “conchinha” e
deixe a vida passar, ou que um grande Amor passe e não o consiga ver, de
tão atento que está aquilo que eu lhe digo para pensar, e ao que pode
vir a sentir.
Eu não me alimento sozinho. Alimentam-me. Sou
alimentado pelas vivências de um passado mais ou menos remoto, e pela
ansiedade de futuro desconhecido.
Sou ainda alimentado, pela
insegurança, falta de confiança, auto-estima fragilizada, pela incerteza
de merecerem ser amados e felizes, por não se conhecerem e não
conhecerem todos os seus recursos emocionais e resiliência perante o
“não deu certo”, o “acabou”, ou o “não gosto mais de ti”, por imaginarem
sempre o cenário mais catastrófico, o filme mais dramático, um
sofrimento tão sofrido que só existe nas suas mentes, porque nunca
acontece como imaginámos, é sempre diferente, é sempre uma nova
aprendizagem, mesmo quando a história parece parecida demais.
Então é possível viver sem Medo de Amar? Então não existem histórias de amor impossíveis?
Medo
de Amar: Como seria amar sem medo? É esta a pergunta que eu peço a
todas as pessoas para se fazerem. Que pensem como seria e o que
sentiriam se amassem sem medo. Como se sentiriam se os medos que os
impedem de viver o amor desaparecessem? Será que alguém consegue viver o
amor com tantas defesas?
O que eu sugiro é que tentem perceber
que medos lhes são úteis e que medos os fazem “olhar” para a vida e para
o amor, e não ver e viver, a vida e o amor?
Que conversem com
eles e lhes perguntem donde vieram, e o que querem. E que só os
“adoptem” quando sentirem que os protegem, não que os castram e
aprisionam.
Não existem amores impossiveis. Essa é mais uma das
histórias que foram inventadas por quem não teve coragem de ir atrás…
por quem se satisfez com a segurança do “impossivel” porque certamente o
“possível” despertaria muito maior insegurança.
Obrigada Medo de Amar pela entrevista!
É sempre tempo de pedir aos medos sem sentido para partirem e decidir ir atrás de um Amor que o coração diz ser e ter sentido!
É sempre tempo de escolher… amar!
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* Margarida Vieitez é especialista em mediação familiar,
de conflitos e aconselhamento conjugal, e dedica-se há mais de 20 anos
ao estudo e acompanhamento de conflitos de diversa ordem, nomeadamente,
familiares, conjugais e divórcio. Detentora de seis pós graduações,
entre as quais, em Mediação Familiar pela Universidade de Sevilha, em
Mediação de Conflitos e, em Saúde Mental, ministrou vários cursos de
Mediação Familiar no Instituto de Psicologia Aplicada, estando
frequentemente presente em conferências e seminários. Autora de vários
livros, dentro os quais, "O melhor da vida começa aos 40" e "Sos
Manipuladores".
Fonte: http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2016-03-11-Entrevista-exclusiva-ao-Medo-de-Amar?utm_source=newsletter&utm_medium=mail&utm_campaign=newsletter&utm_content=2016-03-12
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