Quanto mais velhos ficamos mais precisamos
das novidades.
A melhor maneira de regressar à infância – para não dizer,
deprimentemente, a única – é a ignorância. É colocarmo-nos numa situação
em que alguém nos ensina qualquer coisa acerca da qual não sabíamos
nada.
A ignorância de cada um de nós é felizmente (e sem vírgulas)
infinita. Ser criança é saber secretamente que não se sabe nada. Ser
adulto é tentar disfarçar a mesmíssima coisa.
Só podemos aprender
quando somos suficientemente inteligentes e curiosos (a palavra
moralista, arrogante e escusada é “humildes”) para reconhecer que somos,
acima de tudo, defeituosos. Mas cada sessão de aprendizagen traz sempre
o prazer, excitantemente autêntico, de começar do zero.
O
contrário de ser criança é ficar um fóssil: uma impressão de uma vida há
muito acabada que teve a sorte de ficar imprimida numa substância
estúpida mas muito mais duradoura.
Quanto mais velhos ficamos mais
precisamos das novidades. E a maior novidade de todas é a nossa
ignorância. Eu, por exemplo, sou um analfabeto científico. A minha
própria designação – “analfabeto científico” – demonstra, com ênfase na
parte monstruosa, que nada sei sobre a ciência.
Dito isto, acho
que a consolação que os cientistas vão buscar às artes é paternalista e
fácil. É um passatempo. É um divertimento. Mas têm razão.
A
ciência não é menos consoladora. Os artistas, habituados a sofrer em
geral, têm também de aprender a sofrer especificamente, enfrentando as
ignorâncias e tornando-as em exultações.
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* Jornalista
Fonte: http://www.publico.pt/sociedade/noticia/sejamos-criancas-1725371
Imagem da internet: Um auto-retrato inacabado do mestre holandês Rembrandt
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