© Andreia Reisinho Costa
Há um estudo de dois biólogos da Universidade de Wisconsin-Madison
que tenta comprovar que dormimos para o cérebro poder selecionar as
memórias do dia. Mas há quem tenha dúvidas.
Para poupar energia, limpar o desperdício celular do cérebro ou
escondermo-nos dos predadores. Quando a pergunta é “por que motivo
dormimos?”, não faltam teorias para a resposta. A mais recente é simples
(e nada tem a ver com a ingestão de bebidas alcoólicas): afinal,
dormimos para esquecer. Ou, pelo menos, para esquecer algumas das coisas
que absorvemos durante o dia.
Dois biológos da Universidade de
Wisconsin-Madison, nos EUA, explicam que, para conseguirem aprender, os
seres humanos precisam de fazer crescer as ligações – as sinapses –
entre os neurónios que têm no cérebro, porque são elas as responsáveis
por uma emissão rápida e eficiente de sinais entre os neurónios. É lá
que guardamos as nossas memórias.
O estudo de Giulio Tononi e Chiara Cirelli foi publicado na revista Science (e citado pelo The New York Times)
na quinta-feira, mas os biólogos começaram a trabalhar nesta hipótese
em 2003. Descobriram que, durante o dia, estas sinapses crescem de forma
tão exuberante que os circuitos do cérebro ficam cheios de “ruído” e
que, quando dormimos, o cérebro repara estas ligações para elevar o
sinal sobre o ruído.
Há quatro anos, Giulio Tononi e Chiara
Cirelli testaram a teoria em ratos de laboratório, juntamente com a
cientista assistente Luisa de Vivo. Descobriram que as sinapses no
cérebro dos ratos que estavam a dormir eram cerca de 18% mais pequenas
do que as que existiam no cérebro dos acordados.
Houve mais
investigações e mais testes em laboratório, mas também alertas para o
tema. Alguns investigadores chegaram, inclusive, a afirmar que não havia
provas suficientes para sustentar a teoria. O investigador do sono
Marcos G. Frank, que trabalha a partir da Washington State University,
disse que era difícil assegurar que as mudanças percecionadas pelos
cientistas nos cérebros eram causadas pelo sono ou pelo relógio
biológico. “É um problema comum nesta área”, disse.
Já Markus H.
Schmidt, do Ohio Sleep Medicine Institute, questionou, também, se esta
seria a principal explicação para o facto de o ser humano precisar de
dormir: “Este trabalho está ótimo, mas a pergunta que devemos fazer é: é
esta uma função do sono ou é a função?”. O investigador explicou que,
além do cérebro, existem outros órgãos a trabalhar enquanto dormimos e
que podem interferir no processo de seleção das memórias.
Estima-se
que, no futuro, a medicina do sono possa identificar com precisão as
moléculas que estão envolvidas no sono e que asseguram que estas
sinapses são aparadas. “Assim que se souber um pouco sobre o que
acontece no terreno de base, podemos ter uma ideia melhor do que fazer
para encontrar uma terapia”, explicou Giulio Tononi.
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Fonte: http://observador.pt/2017/02/06/beber-perdao-dormir-para-esquecer-ha-um-estudo-que-diz-que-sim/
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