A química, as ciências sociais e a psicologia explicam que o segredo para manter um relacionamento depende da maneira como olhamos para o outro
Costuma
dizer-se que é um fogo que arde sem se ver. E que quando é verdadeiro
não definha. E tem um jeito manso que só a alguém pertence. E que o
corpo é testemunha de tudo o que faz. É dado de graça e semeado no
vento. Um bicho instruído que nos faz escrever cartas ridículas e ser,
igualmente, ridículos. É um verbo que dá vontade de conjugar
perdidamente. Mas também é uma dor que desatina sem doer. Passamos por
uma fase em que não se tem a certeza se é alegria ou tristeza. E, às
vezes, no calendário, noutro mês é dor. Porque é cego e surdo e mudo, o
amor. Luís de Camões, Carlos Drummond de Andrade, Caetano Veloso,
Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Ary dos Santos e Sérgio Godinho
escreveram assim sobre e para ele. Tal como milhares de poetas que o
tentaram (e tentam) descrever, dedicando-lhe versos e quadras à procura
da definição perfeita. Aquela que faça quem a lê identificar-se na
primeira rima, na primeira linha, no primeiro minuto.
O amor
romântico — aquele que temos por um parceiro — está presente nas nossas
vidas desde o início. Faz parte da cultura em que vivemos, pertence à
sociedade na qual estamos inseridos. Mesmo que o conceito de casal tenha
sido alargado, que uma grande maioria dos casamentos acabe em divórcio,
que hoje já nasçam mais crianças de casais em união de facto do que
casados de papel passado ou com votos feitos perante Deus.
Pode
causar sofrimento e dor, mas está sempre presente. Na altura do Natal,
quando a família pergunta se já se encontrou o tal. Nos círculos de
amizade, em que se tenta arranjar par correspondente ao amigo solteiro.
No sonho de ter uma família. “O amor relacional é o tema central da
nossa clínica”, diz Coimbra de Matos, psiquiatra e psicanalista
conhecido e reconhecido pelo estudo sobre a depressão.
Movidos e
comovidos pelos versos dos poetas e pelas histórias de encantar, os sete
mil milhões de humanos que habitam o planeta procuram-no. E, neste mês
de janeiro — talvez inspirados pelas resoluções de ano novo —, os
portugueses fazem um esforço extra e enchem os sites de encontros
amorosos. “Vêm à procura de conhecer outras pessoas, descomprometidas.
Querem alargar o seu círculo de conhecimentos, e, sim, encontrar
namorada/namorado”, conta Miguel Moreira, responsável pelo ‘Speed
Party’, um site que realiza eventos para solteiros. Nos últimos 11 anos,
foram responsáveis por, pelo menos, 20 casamentos. Ainda há finais
felizes.
O momento de procura, de partida para o amor é feito de
incertezas. Apenas sabendo de que se terá a certeza quando for a altura
do passo definitivo. E com a expectativa de que será para sempre. Foi
isso que a sociedade e as histórias de encantar nos ensinaram. Porém,
nem todos os relacionamentos são eternos. O amor assume muitas formas ao
longo da vida. Não tem uma fórmula secreta e matematicamente certeira,
mas há um caminho para o fazer durar. Não é bem científico, mas envolveu
muita ciência social para o descodificar. Amar uma pessoa e querer
ficar com ela para o resto da vida requer trabalho, não basta querer. É
preciso querer e fazer.
Há um coração que bate, sim, mas também
moléculas que se espalham pelo corpo e sentimentos que podem ser
exercitados como um músculo para o fazer — ao amor — durar. “Existem
dois tipos de amor: o oblativo e o contemplativo. O primeiro é o que dá
amor, o segundo é egoísta e pouco benéfico. O amor relacional entre
casal assenta na reciprocidade”, afirma Coimbra de Matos.
Vive,
então, do parar, ouvir e responder. Numa ligação constante entre cérebro
e coração. É isso que faz as mãos suar quando se avista a pessoa amada;
ter borboletas no estômago que parecem reais só de pensar em quem
gostamos; as pernas que tremem no momento de um beijo. “O amor é
frequentemente celebrado como um fenómeno místico, muitas vezes
espiritual, por vezes apenas físico, mas sempre como uma força capaz de
determinar o nosso comportamento. Sem querer discutir a magia do amor do
ponto de vista científico, há uma química que lhe está associada: os
compostos químicos que atuam sobre o nosso corpo — o cérebro em
particular — e nos transmitem sensações e comportamentos que associamos
ao amor”, diz Paulo Ribeiro Claro, professor de Química na Universidade
de Aveiro.
Mais importante do que descobrir a chave para o
encontrar, é mantê-lo ao longo do tempo. Como impedir que o amor se
torne passado, pule o muro, suba a árvore e se transforme em ferida que
às vezes não sara nunca, às vezes sara amanhã, como canta a poesia de
Carlos Drummond de Andrade.
Qualquer
um de nós pode amar, mas para o fazer em pleno é bom que a infância
tenha sido passada sem medos e com um desenvolvimento espontâneo. A raiz
do presente está no passado. O que somos hoje e, por consequência,
quanto conseguimos amar, depende da maneira como fomos criados. O amor
que hoje temos para dar, a nossa disponibilidade para o fazer, depende
da qualidade do amor que recebemos na infância, a altura em que
estruturamos o nosso estilo relacional até aos cinco/seis anos. “Se a
pessoa não foi amada na infância fica com deficiência afetiva. Fica com
uma deficiência em receber afeto e torna-se pesada para o outro. Não
consegue amar porque acha que não recebe o suficiente”, explica Coimbra
de Matos. Uma definição que se pode encontrar em quem se queixa,
constantemente, da vida. Pessoas que consideram que dão muito mais ao
outro — incluindo o amor — do que o que recebem em troca.
Mas
qualquer pessoa tem as moléculas necessárias para se apaixonar e amar.
Primeiro, há a fase do desejo, em que a testosterona e o estrogénio nos
levam a sair e a procurar parceiro; depois, a fase da paixão, em que as
mãos transpiram, se sentem borboletas na barriga, o coração e as pernas
tremem quando se vê a pessoa desejada, graças a compostos químicos que
afetam o cérebro: a norepinefrina que nos excita (e acelera o bater do
coração), a serotonina que nos descontrola, e a dopamina, que nos deixa
felizes. Só daqui se parte para o chamado amor sóbrio, ou seja, o amor
que sustenta a relação amorosa que manteremos, ou tentaremos, manter ao
longo vida. E, ao mesmo tempo, tudo faremos para que nos continue a
satisfazer.
UMA QUESTÃO HORMONAL
“Amar-me-ás em maio
como em dezembro?”, perguntou um dia Jack Kerouac. Depende, também, da
química. Esse tal amor sóbrio sobrevive — segundo a antropóloga Helen
Fisher — devido à oxitocina e a vasopressina. A primeira, também
conhecida como hormona do carinho ou do abraço, é produzida no
hipotálamo que se situa no cérebro, e está associada a emoções e
comportamentos sociais. É ela que diminui as resistências que temos em
relação à proximidade com os outros. A vasopressina é a hormona da
fidelidade. “A oxitocina é também responsável pelos orgasmos, por isso,
um dia, por piada, durante uma conferência a professora Helen Fisher
disse que o segredo para manter um casamento era fazer muito sexo com o
parceiro e, de preferência, com muitos orgasmos”, brinca Paulo Ribeiro
Claro.
Há 30 anos, um psicólogo norte-americano relacionou,
cientificamente, o amor com a bondade e a generosidade. John Gottman —
fundador de um instituto com o seu nome que se dedica há 40 anos a
estudar a conjugalidade — juntou num laboratório da Universidade de
Washington um grupo de recém-casados para ver como reagiam. Depois de
testes feitos com elétrodos, em que estes respondiam a perguntas sobre o
dia a dia, o laboratório do amor concluiu que os mais ativos eram os
que, seis anos depois, estavam infelizes ou separados. Estes casais
estavam sempre em modo ataque, mesmo quando a conversa era sobre o dia a
dia ou sobre um momento agradável. Se o parceiro lhes fazia uma
pergunta sobre o dia de trabalho, o outro respondia logo num tom de
crítica e fazia uma pergunta de volta sobre esse mesmo dia. Gottman
chamou-lhes os “desastres do amor”.
No
lado oposto, os casais felizes emanavam calma e tranquilidade. Os
resultados intrigaram o psicólogo, levando-o a avançar para um segundo
estudo, desta vez mais centrado apenas nos casais bem-sucedidos, a que
chamou “mestres do amor”. Reuniu outros recém-casados noutro laboratório
na mesma universidade, mas agora em estilo bed and breakfast (pensão
com pequeno-almoço), para analisar interações normais: cozinhar, ouvir
música, comer, conversar ou fazer limpezas. E reparou que os
bem-sucedidos, ou seja, os “mestres do amor” criavam uma cultura de
intimidade e atenção. Um exemplo: imaginemos que, num casal, um dos
parceiros é fã de música clássica e encontra por acaso um vinil raro de
Maria Callas numa loja vintage, chega a casa e mostra-o ao outro
parceiro. A maneira como este vai responder definirá o futuro daquela
relação. Quem não mostrou interesse, respondendo de forma breve,
respondendo de forma brusca, ou não respondendo, e continuou a fazer o
que estava a fazer terá mais probabilidades de separação ou de ser
infeliz naquele relacionamento. Um pouco ao jeito da canção de Caetano
Veloso: “Não tá entendendo quase nada do que eu digo. Eu quero é ir-me
embora Eu quero dar o fora.”
Futuro diferente têm os parceiros
que pararam o seu mundo, escutaram as maravilhas da voz de Callas, e a
aventura da descoberta daquele vinil encontrado numa loja perdida no
meio do nada. “É a diferença entre examinar o parceiro pelo que o
parceiro está a fazer de correto, de examiná-lo pelo que ele está a
fazer de errado. É a diferença entre criticar o parceiro versus
respeitá-lo e mostrar apreciação”, disse Gottman depois de realizar o
estudo. A diferença está na bondade e generosidade que se tem com o
outro. A forma como o bem-estar e felicidade do outro são encarados. Com
igualdade e sem submissões, mas com partilha e envolvimento. No fundo,
com bondade. E é este sentimento que mantém uma relação, que a torna
duradoura. “As relações amorosas não funcionam quando um dá mais do que o
outro, porque assim há sempre alguém que se sente esvaziado e alguém
que se sente cheio”, frisa Coimbra de Matos. Ninguém pode amar sozinho,
ninguém pode contentar-se com apenas ser amado.
Por
vezes, as relações estão cheias de comportamentos tóxicos dos quais os
parceiros não se apercebem, mas que corroem, quase em silêncio.
Contabilizar os erros do parceiro na relação, não esquecendo os danos
que trazem para o presente da relação; usar uma postura
passivo/agressiva para dizer o que se pretende, em vez de se ser frontal
e afirmar o que se quer; ameaçar o relacionamento em função de uma
atitude, tornando-o quase como refém das decisões do parceiro como, por
exemplo, pensar que o companheiro esconde algo e ameaçar terminar tudo
porque não pode estar com alguém que tem segredos; culpar o parceiro
pelas próprias emoções; ser ciumento ao mínimo telefonema, SMS, ou
contacto do parceiro com amigos e conhecidos; resolver os problemas com
presentes, por exemplo, decidir fazer uma viagem num momento de crise
para tentar seguir em frente, em vez de conversar sobre a questão da
discórdia, são caminhos para a rutura e a infelicidade.
Mas
também há hábitos que pensamos ser tóxicos e que são saudáveis num
relacionamento a dois. Gottman destrói a ideia de que tudo o que
sentimos, pensamos e fazemos tem de ser debatido com o parceiro. Dizem
os seus estudos que 69% dos casais felizes mantêm conflitos por resolver
ao fim de dez anos, mas não estão aprisionados nessa discordância e
conseguem seguir em frente. “A ideia de que todos os casais têm de
comunicar e resolver todos os seus problemas é um mito”, diz no livro
“What Makes Love Last”. Ao longo da sua investigação, encontra sempre
uma semelhança entre casais felizes, são os que não fazem questão de
analisar e debater tudo. É como se aceitassem que a vida não é perfeita e
há coisas que não se resolvem. Isso não significa, porém,
desonestidade. Estar disponível numa relação significa estar preparado
para magoar o outro, desde que isso implique ser sincero. Não é um
magoar físico ou emocional. É ser sincero, ainda que o outro fique
magoado ao ouvir. E por muito que se queira manter a relação, que isso
implique manter idealizada uma ideia de amor com que se cresceu, os
casais devem perceber que nem tudo é para sempre. Só aceitando isto se
evolui e se trabalha para manter a chama acesa. Ter-se o outro como
garantido, ou dar-se por garantido não é saudável nem augura bom futuro.
Outra regra de ouro é aceitar os defeitos do outro, sem o querer mudar.
Ninguém pode mudar ninguém. Não há nada mais desagradável do que tentar
fazer do parceiro algo que ele não é.
Uma relação é um diálogo,
assente na dicotomia de perguntas e respostas. Conta também a maneira
como se veem essas ações, muitas vezes o parceiro tenta fazer as coisas
bem, com boas intenções, mas acaba por não conseguir. Há que apreciar as
intenções. Apreciar o gesto. Isto é, ter bondade para reconhecer o
esforço do outro em chegar até nós.
A diferença está na resposta
Os
votos de casamento católico dizem que a união de dois seres é válida
para a “saúde e a doença, a alegria e a tristeza, todos os dias da
vida”. Não são palavras exclusivas dos religiosos, nem palavras vãs para
momentos bonitos. São compromissos para serem interiorizados por quem
dá o passo de se juntar a outro. Se conta a maneira como se reage nos
momentos maus, também é relevante a forma como se dá apoio nas alturas
felizes que, na generalidade, são a maioria da vida de um casal.
Num
estudo de 2006, a socióloga americana Shelly Gable juntou vários jovens
casais para analisar a maneira como vivenciavam os aspetos positivos
das suas vidas. E distinguiu quatro formas de reação: o
passivo-destrutivo; o ativo-destrutivo; o passivo-construtivo; ou o
ativo-construtivo. Diferenciam-se consoante a resposta que dão aos
companheiros após uma boa notícia, como uma promoção no trabalho, por
exemplo. O primeiro responde com algo bom que lhe tenha acontecido nesse
dia, mesmo que seja de menor importância; o segundo diminui a
importância da notícia, ao perguntar, por exemplo, se acha que vai
conseguir ter tempo e estofo para aquela promoção; o terceiro reconhece a
boa novidade, mas não para a saborear com o parceiro, continuando a
fazer o que estava a fazer antes; o quarto fica feliz, faz perguntas,
envolve-se na decisão, oferece ajuda.
Esta última é uma reação
baseada na bondade. Tal como dizem as escrituras do Novo Testamento. “O
amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se
orgulha”, como o apóstolo São Paulo disse aos Coríntios. Podem não
existir fórmulas, porém terá de existir bondade para manter a oxitocina e
a vasotosina a fervilhar. Talvez se possa dizer, para não correr
riscos, que o sucesso do amor está na junção destas três componentes:
infância, ciência e bondade.
“É difícil ter regras gerais que se
apliquem a toda a gente. Mas é importante que o relacionamento não entre
numa rotina. A rotina mata. Ou dá conflito ou esmorece”, sublinha
Coimbra de Matos. Esta morte pode acontecer até em momentos de boas
intenções, como quando se marca um dia fixo a dois e esse dia é sempre
na mesma altura e para fazer a mesma coisa, como ir jantar fora às
sextas-feiras. Ir sempre ao mesmo sítio passar férias, fazer sempre as
mesmas atividades, estar sempre com o mesmo grupo de amigos: mata.
Faz
falta conhecer novas pessoas, contudo, a nível social (amigos e
conhecidos). Uma relação é um espaço a dois, desengane-se quem achar que
pode continuar a amar o marido/mulher e encontrar um amante para os
tempos livres. “O homem é capaz de te trair e de te amar ao mesmo tempo.
A traição do homem é hormonal, efémera, para satisfazer a lascívia. Não
é como a da mulher. Mulher tem de admirar para trair; ter algum
envolvimento. O homem só precisa de uma banda. A mulher precisa de um
motivo para trair, o homem precisa de uma mulher”, eternizou Arnaldo
Jabor. Mas não vamos entrar na guerra dos sexos. Qualquer um pode amar,
qualquer um pode trair.
O ser humano é monogâmico, logo o amor
também? Depende da zona do globo em que habitamos. No norte de
Moçambique, por exemplo, há uma tribo polígama em que as mulheres têm
vários maridos. E quando a mulher está com um marido, os sapatos ficam à
porta e todos os outros homens percebem e respeitam aquele momento de
intimidade, não entrando em casa. E se alguém se sentir menos apoiado,
pode recorrer a um auxiliar do amor. Em muitos países, cuja lei é regida
pelo Islão, é possível a um homem ter várias mulheres. E, na Índia,
continuam a existir os casamentos arranjados.
O nosso amor, o do
Ocidente, é uma equação entre duas pessoas. Monogâmica. “Embora seja
cultural, o ser humano é bastante exclusivo. Somos predominantemente
monogâmicos, mesmo que seja uma monogamia serial, temos um parceiro de
cada vez. É difícil gostar de duas pessoas ao mesmo tempo. O que é
possível é ter relações parciais”, frisa Coimbra de Matos. Podem existir
momentos de hesitação, de dúvida, em que muitas vezes se confunde o
amor com a paixão e o desejo. E que se não forem consumados, pois a
traição põe em causa o amor, devem ficar guardados no interior de cada
um. “Há sempre coisas que se guardam para nós próprios. É normal e
natural que surjam ‘terceiras pessoas’ à nossa volta. Em fantasia, em
pensamento, que sejamos livres”, continua o psicanalista.
Procura dolorosa
A
norma do amor romântico, no entanto, está a mudar. “No contexto
português, as pressões sociais para se seguir um determinado percurso
são muito grandes e têm etapas muito marcadas: namoro, coabitação,
casamento”, explica Cristina Santos, socióloga e investigadora do Centro
de Estudos Sociais de Coimbra.
A expectativa de vida que temos é
baseada no amor. Num único amor que será para a vida. Prevalece a ideia
de que só nos completamos quando encontramos outra pessoa, e isso “é
extremamente violento e castrador das liberdades”. O tempo é, no
entanto, de mudança. As alterações à norma vão crescendo. Começa-se a
normalizar o que até aqui eram alternativas: o viver sozinho por escolha
própria; o ser pai ou mãe sozinho por escolha própria. A vida amorosa e
conjugal deixou de ser linear.
O mundo sempre foi evolutivo e
esta não é a primeira mudança. “Antigamente, as pessoas viviam menos
tempo, por isso estavam casadas menos anos”, lembra Coimbra de Matos. Há
meio século não era possível um casal — como hoje acontece — celebrar
60 anos de casamento. A geração que neste anos completa esta data,
cresceu e viveu numa época em que a obediência da mulher ao marido era
um dado adquirido e em que o divórcio era proibido. As alterações
legislativas que ocorreram desde o ano 2000 — criminalização da
violência doméstica; descriminalização da IVG; adoção de crianças por
parte de casais homossexuais; alargamento da procriação medicamente
assistida a mulheres sozinhas e lésbicas; a possibilidade de recorrer a
uma barriga de aluguer — estão também ligadas ao conceito de família e,
assim, do amor.
Num programa de estudo, financiado pelo European
Research Council, Cristina Santos e uma equipa de investigadores em
Portugal, Espanha e Itália investigam o efeito destas alterações. Em
todos os tipos de relações, como as poliamorosas, surge a bondade. “A
preocupação com o bem-estar do outro. Apesar de o amor-próprio ser
bastante importante.”
Muda o mundo, a norma, misturam-se os
géneros. Mas há sempre uma ferida que dói e não se sente. E a maior
solidão é a do ser que não ama. Mas quando houver tormenta, resta sempre
a poesia. “Este céu passará e então teu riso descerá dos montes pelos
rios até desaguar no nosso coração”, escreveu Ruy Belo.
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FONTE: http://expresso.sapo.pt/sociedade/2017-02-05-O-amor-e-bondoso
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