Lya Luft*
Não só os assédios ficaram mais violentos como, espalhados em redes sociais, difundem a humilhação, o desamparo e a dor em grupos maiores e a situação se torna grave
Eu
não ia escrever sobre, porque não se fala em outra coisa. Mas, talvez
por isso mesmo, e porque alguns leitores pediram, estou comentando o
caso. Vários ângulos, todos difíceis, todos espinhosos, perigosos,
sempre tristes. Num excepcional período de violência física ou
emocional, a qualquer estranhamento saímos de dedo em riste ou brandindo
uma espada (pode ser verbal) feito serial killers. Estressados
por condições da própria vida, da cidade, Estado, país e ultimamente
também do vasto mundo, zombarias ou brigas que em outros tempos podiam
se resolver no pátio da escola, ou com alguma conversa mais sensata,
hoje às vezes se tornam dramas. Não só os assédios ficaram mais
violentos como, espalhados em redes sociais, difundem a humilhação, o
desamparo e a dor em grupos maiores e – todo mundo irritado,
inconscientemente assustado – a situação se torna grave. Mesmo assim,
habitualmente não nos matamos nem matamos os outros por isso.
Que os deuses inventem sempre um adulto em casa, ou na escola um professor querido e respeitado, para ajudar a vencer desafios emocionais e superar eventuais perseguições. Isso pode salvar uma vida.
Como
ajudar, abrandar, reduzir o problema que se agrava? Tudo começa em
casa, o que parece clichê: falo na autoestima da meninada. Na sua
segurança e na capacidade de enfrentar desafios. Isso vem, em parte, com
a própria personalidade, mas depende também do ambiente familiar. De
poder-se abrir com pai ou mãe numa dificuldade maior. Se faltam
estímulo, aprovação, parceria e até alegria na família, o adolescente ou
a criança é mais vulnerável. Paternidade, maternidade, já são bastante
difíceis, apesar de toda a felicidade e ternura que nos dão. Ninguém
pode evitar que um filho tropece na calçada e quebre a perna, por
exemplo. Mas é preciso estar atento a coisas bem mais sutis do que isso.
Se um pai, ou mãe, cujo filho acaba de matar colegas e ferir muitos
outros, ou que se suicidou, nunca notou que seu filho sofria com
zombarias ou deboches, nesse amor talvez houvesse lacunas ou muros.
Um
filho mais quieto nem sempre está deprimido ou a perigo. Pode só querer
ficar em paz, sem intromissões dos pais (amor pode ser excessivo,
sim...), querer refletir, curtir uma descoberta ou até uma perda.
Crescer dói. Adolescentes, como as crianças, são pessoas. E
sofrem, têm perplexidades, angústias, solidão, dramas e dilemas. É bom
saber que há por perto adultos amorosos e interessados. É bom ter a quem
recorrer sem medo.
Porém: se amar é cuidar, é
também ficar atento sem histeria. Interessado, mas não intrometido. Amoroso, não esmagador. (Quais os limites? Nem eu sei, criar filho é um
pouco tatear no escuro.) E não nos enganemos: o pai, a mãe, não são o
"melhor amigo ou amiga" dos filhos ou filhas: isso eles têm na escola,
no bairro. Pais devem ser pai amigo e mãe amiga: aquele que, o filho sabe, sente, pode acolher, orientar, abraçar como nenhum amigo.
Que
os deuses inventem sempre um adulto em casa, ou na escola um professor
querido e respeitado, para ajudar a vencer desafios emocionais e superar
eventuais perseguições. Isso pode salvar uma vida.
--------------* Escritora
Fonte: https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/lya-luft/noticia/2017/10/bullying-cj9agftkj030y01o6qb9p4eya.html
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