Zeca de Mello trata da importância dos valores em tempos de mudança, e do que se deve preservar e fazer durar
O
compromisso com nossos valores e a fidelidade que temos a eles foi o
norte da fala do doutor em Teologia e professor das disciplinas de
Provocações Filosóficas (FDC) e Ética na Sociedade do Conhecimento na
Pós-Graduação (UFRJ) Zeca de Mello na conferência "Refletindo sobre
nossos valores", que abriu o 14º Congresso do Ensino Provado Gaúcho
nesta quinta-feira.
"Não há instituição que não esteja passando por uma
crise. É necessário pensar no que realmente vale", afirmou o professor,
mostrando a necessidade da reflexão diante de um momento histórico
desafiador, de mudanças constantes.
"Achamos que somos livres para
fazer escolhas, mas estamos respondendo a estímulos", apontou o
conferencista. O foco não está na mudança, de fato, mas sobre a
permanência, o que devemos fazer durar quando tudo se acelera e a
desorientação invade a vida de todos. Valores, que não são novos
valores, não foram criados ao longo dos últimos anos, mas são passados
de geração em geração e são imutáveis.
"A sinceridade continua sendo
melhor que a mentira, a generosidade mais relevante que o egoísmo."
Grandes centros de educação - ele citou a Universidade de Harvard, nos
Estados Unidos e a Fundação Dom Cabral, no Brasil, como pioneiras -
passaram a dar um cunho de humanidade nos seus cursos de MBA, por
exemplo, ao contemplar a sociedade e o autoconhecimento no mundo das
organizações.
"Temos que ter o perfil empresarial e humanista. Em
qualquer organização as pessoas querem ser ouvidas. E o papel da
liderança assemelha-se ao do educador, ao lidar com a ambiguidade
humana." Zeca de Mello falou da dificuldade de mudança: "É fácil
profetizar mudança fora, é espontâneo murmurar e apontar o dedo no que
não vai bem, precisa ser mudado. No entanto, quando se detecta algo que
não vai bem na própria vida, se percebe como é difícil".
Parar para
refletir, segundo o professor, é um luxo. E a reflexão inclui três
"dobras": a sociedade, as instituições e nós mesmos. "Vivemos num
cenário sombrio e preocupante. Não há dúvida que o mundo conectado é
maravilhoso, mas temos que perguntar sobre os riscos, os desafios.
Estamos hiperconectados e entediados. Não estamos acelerados para chegar
a algum lugar, é apenas nosso modo de estar no mundo", criticou.
"Por
isso a importância de olhar para nossos valores quando não sabemos para
onde ir."
A incerteza leva a dois caminhos: inventar novos valores
(será?) ou resgatar os valores que recebemos.
Ousar fazer previsões,
para Zeca de Mello, é inútil.
O imprevisto é a única lei da história.
"Para onde estamos indo? Para o futuro! Para onde queremos ir? Para uma
vida boa, de qualidade."
E o contexto não é de uma crise de valores.
Tanto as empresas tradicionais como startups trabalham missão, valores.
Eles, tomaram sim, novas proporções. Tanto em importância quando se fala
na imagem da empresa (que pode ser arranhada e gerar grandes perdas
financeiras quando há um problema de segurança, por exemplo), como no
momento das contratações.
O conferencista citou jovens diretores de
startups mineiras que, ao contratar, dão mais importância ao alinhamento
de valores com o candidato do que seus certificados.
"Não temos uma
mudança de valores, mas do estatuto de valores. Eles não estão mais
ancorados na religião, mas na visão que se tem mundo."
Zeca de Mello
citou três "pedagogas" que podem orientar nossas ideias e nos ajudam a
mudar.
A primeira delas é a crise, que nos faz pensar com profundidade,
olhar as coisas com maior lucidez, com verdade. "Na falta de grandes
mestres, são elas as nossas professoras."
Depois as crianças, que ousam,
arriscam, que têm a capacidade de se maravilhar com o que as intriga.
"Precisamos do olho espantado e da coceira com as ideias."
E a terceira é
a empatia, o desafio de experimentar a fragilidade humana. "A empatia
nos desloca para os lados, nos faz ousar tomar a perspectiva do outro.
Nos ajuda a reinventar nossos laços. Faz emergir a nossa consciência e
um novo compromisso com nossos valores."
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Reportagem por Vívian Gamba -SINEPE/RS
Fonte: http://www.sinepe-rs.org.br/site/home/index.php
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