sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Meu amigo cobot

 Juremir Machado da Silva*
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Em 2017, entrevistei, em Paris, Bruno Latour. Ele é um dos mais famosos filósofos da ciência da atualidade. Um entusiasta da revolução tecnológica. Criou uma teoria muito citada chamada “ator-rede”, que diz mais ou menos o seguinte: tudo se relaciona. No fundo, é uma variante da teoria da complexidade de Edgar Morin. Na entrevista, fiz o papel de pessimista sobre o futuro da humanidade. Em que nós, homens, vamos trabalhar se a automação vai fazer tudo por nós. Latour riu. Sugeriu que ficaremos livres para trabalhos mais criativos. Será?

Falei-lhe do desaparecimento de caixas de supermercado. Ele sorriu como quem diz não se perderá nada, será uma libertação. O problema é que essa atividade enfadonha sustenta milhões de famílias. Sobre a passagem do trabalho repetitivo ao criativo, José Manuel Salazar-Xirinachs, diretor regional da OIT para a América Latina e Caribe, questiona:  “Isso soa muito legal, mas a questão é: quantos trabalhos para pessoas criativas serão gerados?” Estima-se que só o Brasil perca 16 milhões de empregos até 2030, gerando no máximo dois milhões nas novas plataformas e possibilidades. O mundo deve perder cerca de 800 milhões de postos de trabalho nos próximos 12 anos.

Aqueles que continuarem empregados dividirão a mesa com um novo tipo de profissional, o cobot, um robô mais eficiente que humanos, cumpridor de metas sem sofrer de burnout, alheio a fofocas, programado para não paquerar colegas e sem filiação a sindicatos ou partidos. Quem diria, hein! Vamos sentir saudades de empregos duros, alguns humilhantes, dessa exploração nossa de cada dia! As utopias políticas prometiam um paraíso onde todos seriam artistas e intelectuais. As utopias tecnológicas vendem o bilhete premiado para um mundo onde todos serão criativos, trabalharão pouco, em toda liberdade, e serão felizes no universo virtual. Ficaremos livres para ver dez jogos da Champions League por dia ou dez séries da Netflix por jornada. Uau!

Alguns políticos europeus já defendem a criação de um salário universal. Cada pessoa receberá uma quantia do Estado com uma única obrigação: consumir. Como seremos todos desempregados, viveremos todos de seguro-desemprego permanente. O que proponho? Quebrar as máquinas? Parar a evolução tecnológica? Nada disso. Não funcionaria. Apenas tento descrever o que pode vir por aí. Já fiz ficção-científica. Como não precisaremos mais nos deslocar, as pernas, salvo se realmente aderirmos às academias, serão novos apêndices em alguns séculos. Espero que não inflamem e não precisem ser extraídas em cirurgias. Em compensação, não haverá mais engarrafamentos.
Nem produção de carros.

O exagero pode ser apenas uma caricatura do medo crescente. Estaremos ficando obsoletos? O argumento de que a criatura nunca engoliu o criador não tranquila mais. Fiquemos com o mais simples: teremos mais tempo livre. O que faremos dele? Convidaremos nossos amigos cobots para uma ceva depois do expediente? A reforma da Previdência de Michel Temer poderá não surtir o menor efeito. A era do trabalho pode estar mesmo no fim. Trabalhadores, uni-vos? Já foi.
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 *Graduou-se em História (bacharelado e licenciatura) e em Jornalismo pela PUCRS, onde também fez Especialização em Estilos Jornalísticos. Passou pela Faculdade de Direito da UFRGS, onde também chegou a cursar os créditos do mestrado em Antropologia. Obteve o Diploma de Estudos Aprofundados e o Doutorado em Sociologia na Universidade Paris V, Sorbonne, onde também fez pós-doutorado. 
Imagem da Internet

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