Juremir Machado da Silva*
E agora?
O Brasil teve treze possibilidades no primeiro
turno. Excetuadas as candidaturas folclóricas do Cabo Daciolo e de José
Maria Eymael e a clausura ideológica de Vera Lúcia, nove eram menos
problemáticas e assustadoras do que a aposta em Jair Bolsonaro. Se a
questão era o combate à corrupção, por que não se votou em Álvaro Dias, o
mais entusiasmado defensor da Lava Jato? Se o interesse era um choque
liberal em economia e conservador em comportamento, com ênfase em alguém
fora ou contra o sistema, por que não se escolheu João Amôedo? Se o
foco era em reformas liberais profundas e ao gosto do mercado, por que
não se foi de Henrique Meirelles? Se o importante era honestidade e
ausência de radicalismos, por que Marina Silva não decolou?
Se o antipetismo era o fundamental, por que não Ciro Gomes?
Geraldo Alckmin não teria sido uma opção menos nebulosa e dentro dos
limites formais da democracia? Cada um com seus limites e defeitos. Cada
um contribuiu um pouco para o resultado alcançado. Os tucanos
trabalharam fortemente durante anos para estimular o antipetismo. O PT
colaborou com os seus erros jamais realmente admitidos e com sua
incapacidade de perceber o beco em que estava metido. Não quis uma
frente de esquerda. Preferiu ser hegemonista até na derrota. Faltou a
Ciro Gomes, apesar de ter razões para ressentimentos, grandeza na reta
final. O pedetista saiu enorme do primeiro turno e minúsculo do segundo.
Todos aqueles que consideram Jair Bolsonaro ameaça à democracia
deveriam ter tomado providências para vencê-lo mesmo que isso
representasse perder fatias do poder. Ou era só retórica de campanha? Ou
não se importavam com o futuro?
Muito se falou em fim das ideologias e em anseio de equilíbrio. Foi a
eleição dos radicalismos, da polarização ideológica, do aparelhamento
de setores da justiça eleitoral, com quebra da sagrada autonomia das
universidades para retirar faixas que nem nomeavam candidatos, das fake
news e do ódio. Talvez nunca se tenha eleito antes no Brasil um
candidato com tamanho histórico de declarações preconceituosas e
antidemocráticas. Se foi a eleição do contra, contra o petismo, foi
também o pleito do a favor, do a favor de ideias extremas e posturas sem
nuances. O bolsonarismo, como qualquer um sabe, não se pauta pelo
comedimento nas provocações e ideais.
A mídia ajudou com sua sanha simplificadora pretensamente ética A
justiça deu o seu quinhão com seletividade e diferentes ritmos
processuais. A imprensa internacional foi ignorada nas suas advertências
ou desqualificada como esquerdista. Voltamos à Guerra Fria: capitalismo
versus comunismo. O primeiro ciclo trabalhista, de Getúlio Vargas,
terminou com a eleição de um militar. O segundo, fracassado o intervalo
de Jânio Quadros, com um golpe midiático-civil-militar. Este terceiro, o
ciclo trabalhista do lulismo, fecha-se com a eleição de dois militares
aposentados. O quem vem por aí? O Brasil deu um salto no escuro como se
fosse a uma festa.
A economia não foi o ponto central desta eleição. Comportamento e
ideologia predominaram. Antipetismo e anticorrupção encobriram algo mais
profundo: uma rejeição ao imaginário forjado a partir de maio de 1968
no Ocidente. Estamos mais divididos do que nunca. Nunca estivemos
unidos. Não será Bolsonaro o nosso elo.
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* Escritor. Prof. Universitário. Sociólogo. Jornalista.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/2018/10/11290/a-responsabilidade-de-cada-um/
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