sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Frei Betto reflete sobre os desafios para o ensino no Brasil no século XXI, em seu novo livro.

   
Frei Betto: proposta de livro surgiu de posições ruins do Brasil em rankings educacionais 
Foto: Marcos Alves

Em 'Por uma educação crítica e participativa', autor analisa panorama do país e destaca importância de Paulo Freire

RIO — Um dos principais pensadores da educação no Brasil, com 20 anos de experiência em projetos pedagógicos populares, Frei Betto volta a abordar o tema e seus desafios contemporâneos no livro “Por uma educação crítica e participativa”, recém-lançado pelo Anfiteatro, selo da Rocco. A publicação traz reflexões a partir da situação do Brasil em um estudo realizado no ano passado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que ocupava a penúltima posição entre 36 países analisados. E ainda de seu 88º lugar entre 127 nações no ranking de Educação da Unesco, também em 2017. 

Entre os problemas a serem enfrentados pelo país, o autor aborda desde as deficiências crônicas do sistema educacional até a sua relação com as novas tecnologias, que podem, na mesma medida, ensinar ou desinformar. 

— É preciso equipar as nossas escolas de ferramentas digitais e ensinar a lidar com elas. Nem sequer a maioria das escolas deu o passo da tradicional interpretação de textos para o olhar crítico frente à TV, ao cinema e aos múltiplos recursos da internet — pondera Frei Betto, por email. — O resultado é milhões de pessoas sujeitas à descostura das mensagens digitais, escravizadas pelas algemas virtuais do smartphone, jogando fora um tempo precioso que poderia ser investido no diálogo ou na leitura. 
Pensam que estão navegando quando, de fato, estão naufragando.

Na obra, o escritor destaca a importância de Paulo Freire, patrono da educação brasileira e uma das referências da pedagogia no mundo. Sobre as acusações de “doutrinação” que o célebre método do educador passou a receber por alguns setores da sociedade, Betto diz que é ingenuidade imaginar que não há ideologia por trás do entretenimento, da publicidade: 

— Os que desprezam a obra de Paulo Freire são os que insistem em encarar o mundo pela ótica ideológica dos dominadores, e não dos dominados. Assim, são “educados” na convicção de que negros são intelectualmente inferiores aos brancos; índios, seres primitivos que atrapalham o progresso; mulheres, potenciais objetos eróticos; e homossexuais, meros pervertidos. Não se constrói uma nação com tanta segregação, preconceito e discriminação. 

Para o autor, é preciso fazer uma revolução na educação para que o Brasil possa acompanhar as nações desenvolvidas, que, não por acaso, estavam à sua frente nos dois estudos sobre qualidade no ensino. 

— É preciso perguntar, por exemplo, como o Japão, que é do tamanho do Maranhão, pobre e destroçado pela guerra na década de 1940, em poucos anos se tornou uma potência mundial — ressalta. — Sem educação não há solução. E todos nós somos frutos da educação que recebemos ou da deseducação que nos foi imposta. 
“Por uma educação crítica e participativa” Autor: Frei Betto
Editora: Anfiteatro (Rocco). Páginas: 288. Preço: R$ 39,50.
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Fonte:  https://oglobo.globo.com/cultura/livros/em-seu-novo-livro-frei-betto-reflete-sobre-os-desafios-para-ensino-no-brasil-no-seculo-xxi-23151371

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