Frei Betto: proposta de livro surgiu de posições ruins do Brasil em
rankings educacionais
Foto: Marcos Alves
Em 'Por
uma educação crítica e participativa', autor analisa panorama do país e destaca
importância de Paulo Freire
RIO — Um dos principais pensadores da educação no Brasil, com 20 anos de
experiência em projetos pedagógicos populares, Frei Betto volta a abordar o
tema e seus desafios contemporâneos no livro “Por uma educação crítica e
participativa”, recém-lançado pelo Anfiteatro, selo da Rocco. A publicação traz
reflexões a partir da situação do Brasil em um estudo realizado no ano passado
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que
ocupava a penúltima posição entre 36 países analisados. E ainda de seu 88º
lugar entre 127 nações no ranking de Educação da Unesco, também em 2017.
Entre os problemas a serem enfrentados pelo país, o autor aborda desde
as deficiências crônicas do sistema educacional até a sua relação com as novas
tecnologias, que podem, na mesma medida, ensinar ou desinformar.
— É preciso equipar as nossas escolas de ferramentas digitais e ensinar
a lidar com elas. Nem sequer a maioria das escolas deu o passo da tradicional
interpretação de textos para o olhar crítico frente à TV, ao cinema e aos
múltiplos recursos da internet — pondera Frei Betto, por email. — O resultado é
milhões de pessoas sujeitas à descostura das mensagens digitais, escravizadas
pelas algemas virtuais do smartphone, jogando fora um tempo precioso que poderia
ser investido no diálogo ou na leitura.
Pensam que estão navegando quando, de
fato, estão naufragando.
Na obra, o escritor destaca a importância de Paulo Freire, patrono da
educação brasileira e uma das referências da pedagogia no mundo. Sobre as
acusações de “doutrinação” que o célebre método do educador passou a receber
por alguns setores da sociedade, Betto diz que é ingenuidade imaginar que não
há ideologia por trás do entretenimento, da publicidade:
— Os que desprezam a obra de Paulo Freire são os que insistem em encarar
o mundo pela ótica ideológica dos dominadores, e não dos dominados. Assim, são
“educados” na convicção de que negros são intelectualmente inferiores aos
brancos; índios, seres primitivos que atrapalham o progresso; mulheres,
potenciais objetos eróticos; e homossexuais, meros pervertidos. Não se constrói
uma nação com tanta segregação, preconceito e discriminação.
Para o autor, é preciso fazer uma revolução na educação para que o
Brasil possa acompanhar as nações desenvolvidas, que, não por acaso, estavam à
sua frente nos dois estudos sobre qualidade no ensino.
— É
preciso perguntar, por exemplo, como o Japão, que é do tamanho do Maranhão,
pobre e destroçado pela guerra na década de 1940, em poucos anos se tornou uma
potência mundial — ressalta. — Sem educação não há solução. E todos nós somos
frutos da educação que recebemos ou da deseducação que nos foi imposta.
“Por uma educação crítica e participativa” Autor: Frei
Betto Editora: Anfiteatro (Rocco). Páginas: 288. Preço: R$ 39,50.
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Fonte: https://oglobo.globo.com/cultura/livros/em-seu-novo-livro-frei-betto-reflete-sobre-os-desafios-para-ensino-no-brasil-no-seculo-xxi-23151371
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