Luiz Flipe Pondé*
Lei é como elefante numa loja de cristais no que diz respeito a costumes e afetos
Não sou simpático à lei da Escola sem Partido.
Sou professor há 22 anos. Ela pode virar um belo sistema randômico de
censura. Pais de alunos são imprevisíveis.
Um dia posso estar falando de darwinismo e um pai evangélico
considerar que estou pregando ateísmo. Um dia posso estar dizendo que a
espécie humana reproduziu e sobreviveu porque a maioria dela é
heterossexual e algum aluno filho de um casal gay pode me acusar de
homofobia.
Você duvida? Se sim é porque anda alienado da realidade ridícula que o
mundo está vivendo. As mídias sociais tornaram o ressentimento uma
categoria política de ação. Os ressentidos perderam a vergonha na cara.
Não gosto de leis, não confio em juízes, promotores ou procuradores.
O Ministério Público com frequência nos considera cidadãos
hipossuficientes e decide processar você por descrever a relação entre
peso e massa na lei da gravidade numa aula —e essa lei não respeitaria
as sensibilidades de pessoas vulneráveis psicologicamente devido ao
maior peso delas.
Minha oposição à lei da Escola sem Partido não é porque eu não saiba
que grande parte dos professores prega marxismo e similares em sala de
aula. Prega sim. E a universidade não é um espaço de debate livre de
ideias. Isso é um fetiche, para não dizer diretamente que é uma mentira
deslavada.
A universidade é um espaço de truculência na gestão, na sala de aula, nos colegiados, no movimento estudantil.
Lobbies ideológicos ou não dilaceram as universidades quase as levando à inércia produtiva —principalmente nas “humanas”.
Quem discordar da cartilha de esquerda é “fascista”. Minha oposição à Escola sem Partido é porque ela é uma lei.
Sei. Ficou confuso? Vou repetir: minha oposição à Escola sem Partido é
porque ela é uma lei. Com ela, aumentaríamos o mercado para advogados e
a justificativa pra mais gasto com o Poder Judiciário.
Quem a defende parece não entender que lei em matéria de costumes é
como um elefante em loja de cristais. Outra área em que lei é como um
elefante em loja de cristais é no campo dos afetos.
Meu argumento, ao contrário do que podem pensar inteligentinhos de
direita e de esquerda, é profundamente conservador, no sentido que o
conceito tem na filosofia britânica a partir do século 19
—o conceito sem a palavra surge no final do 18 com Edmund Burke (1729-1797), a palavra surge na França nos primeiros anos do século 19, segundo o historiador das ideias Russel Kirk (1918-1994).
—o conceito sem a palavra surge no final do 18 com Edmund Burke (1729-1797), a palavra surge na França nos primeiros anos do século 19, segundo o historiador das ideias Russel Kirk (1918-1994).
No sentido filosófico, e não no debate empobrecidos das militâncias,
ser conservador é ser cético em matéria de invenções políticas,
econômicas, sociais ou jurídicas.
Um temperamento conservador, como diria Michael Oakeshott
(1901-1990), filósofo conservador britânico fundamental para o assunto,
desconfia da fúria “racionalista” de se inventar, por exemplo, leis que
interfiram sobre hábitos e costumes (estes, sim, pérolas para um cético
em política).
Aliás, pouco se sabe entre nós sobre o que é, no sentido erudito e
conceitual, ser conservador. Qual a razão de não sabermos? Pergunte aos
professores e coordenadores de escolas e universidades. A bibliografia
escolhida por eles é, na imensa maioria das vezes, uma pregação em si.
Alunos de escola, de graduação e pós-graduação, constantemente, são
boicotados em sua intenção de conhecer outros títulos que não seja a
cartilha com Marx e seus avatares.
A lei da Escola sem Partido é uma solução ruim para um problema real.
A crítica a ela, sem reconhecer que sua motivação é justificada, presta
um enorme desserviço ao debate.
Com isso não quero dizer que professores marxistas de história
mentindo pura e simplesmente ou restringindo o acesso a múltiplas
“narrativas” (como é chique falar agora) sejam a principal questão no Brasil de hoje em dia.
Existem muitas outras, como economia, corrupção, violência urbana, e
outras mais. Mas, a formação educacional ideologicamente enviesada, por
exemplo, faz muita gente “educada” abraçar movimentos como o Lula Livre,
achando lindo.
A educação piorou muito depois que os professores resolveram pregar
em sala de aula em vez de ensinar rios e capitais dos estados e países.
Simples assim. Mas aumentar o mercado jurídico no país é um engano
grave. Já somos presas demais do crescente lobby jurídico para não ver
isso.
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