José Miguel Queimado*
Se as escolas querem preparar os nossos jovens para o futuro, devem
reorganizar-se para ensinar as competências que mais lhes vão fazer falta –
tecnológicas e sócio-emocionais.
A inteligência artificial e a automação são uma realidade incontornável.
Devemos decidir (o quanto antes) como nos vamos posicionar em relação a essa
mudança de paradigma. Para além das preocupações com a nossa segurança, que o
excesso de autonomia das máquinas provoca, muitos temem a extinção de postos de
trabalho. Computadores e algoritmos vão permitir substituir até trabalhos
técnicos que hoje são considerados moderadamente complexos. Indubitavelmente,
estas mudanças vão extinguir milhões de postos de trabalho na próxima década.
Muitos outros novos serão criados. Mais do que temer, ignorar ou até resistir
esta mudança de paradigma, devemos investir tempo em (também) prepararmo-nos
para este futuro próximo. É na escola que começa este trabalho.
O mundo muda rápido. As escolas não. E o problema é que o custo desta
inércia é cada vez maior. O Horace Dediu dedica-se ao estudo de tendências e
calculou as curvas de adoção (deste invenção até obsolescência) de diferentes
tecnologias. O barco a vapor foi inventado no início do século XIX, mas a sua
adoção em massa aconteceu 100 anos depois, no início do século XX. A
eletricidade apenas precisou de 50 anos para ser adotada em massa, o
micro-ondas 30 anos, o telemóvel 10. O ciclo tecnológico das inovações é cada
vez menor. Que implicação tem isto para as escolas?
O Fórum Económico Mundial estima que 65% dos jovens que entraram
recentemente no ensino formal vão trabalhar em funções e profissões que hoje
ainda não existem. Que papel deve a escola ter num mundo que muda cada vez mais
rápido? Como pode a escola preparar os jovens para um mercado de trabalho cada
vez mais mutável?
Que competências vão precisar os jovens para triunfar no mercado de
trabalho do futuro? Com o acréscimo da automação, aumenta a importância de
competências insubstituíveis, tais como a criatividade, a inteligência
emocional, o trabalho em equipa, a gestão de pessoas (também conhecidas por
competências sócio-emocionais). De acordo com o McKinsey Global Institute,
cerca de 80% dos novos postos de trabalho vão depender sobretudo de dois grupos
de competências principais: tecnológicas e sócio-emocionais.
Se as escolas querem preparar os nossos jovens para o futuro, devem
reorganizar-se para ensinar essas competências que mais lhes vão fazer falta –
tecnológicas e sócio-emocionais. Os esforços feitos até hoje nesta direção são
de louvar (nomeadamente iniciativas para ensinar programação a jovens), mas os
resultados ainda são claramente insuficientes. A maioria destas iniciativas
estão circunscritas a pequenos grupos de escolas, não havendo por parte do
governo uma aposta séria, sistematizada e nacional para o desenvolvimento
destas competências.
Hoje as escolas portuguesas e os Professores deparam-se com problemas e
desafios complexos, cuja importância é inquestionável (plano de carreira de
Professores, encerramentos de escolas, etc). Muitas escolas esforçam-se também
para inovar e dar resposta às necessidades dos alunos. No entanto, o debate
político sobre a Educação em Portugal foca-se maioritariamente nos mesmos temas
na última década. Quanto deste debate foi dedicado a preparar e precaver a
empregabilidade dos nossos jovens num mundo digital da automação?
Os países cujas escolas (e empresas) se orientarem para desenvolver as
competências que já sabemos serem necessárias poderão capitalizar e beneficiar
destas rápidas mudanças tecnológicas. Os países que ignorarem, resistirem ou,
por diversas razões, se atrasarem a planear serão sujeitos ao papel que a sorte
lhes destinar. Ocorre-me uma frase difícil de traduzir: “those who fail to plan
are planning to fail”.
-------------------------
* Empreendedor. Cofundador da DreamShaper.
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.
‘Caderno de Apontamentos’ é uma coluna que discute temas relacionados com a Educação, através de um autor convidado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário