Pelé marca seu milésimo gol, no jogo entre Bahia e Santos, em Salvador -
Nós, liberais, desde Adam Smith, queremos igualdade de permissão
5.jul.2022 às 19h20
meu sempre figuram em posição baixa no ranking de igualdade. Os economistas esquerdistas como Thomas Piketty ou Mariana Mazzucato encaram o Brasil e os Estados Unidos como os bad boys. Querem que nossos governos resolvam o problema. O direitista desagradável escarnece: "Quem se importa com isso? A desigualdade paga por meu clube de tênis no centro do Rio, para eu poder jogar numa quadra iluminada."
Nenhum dos dois lados é justo, sensato ou científico. Os economistas ficaram obcecados com a igualdade. Mas não pensam filosófica ou economicamente sobre qual igualdade devemos valorizar eticamente ou o que podemos alcançar com prudência.
Um tipo de igualdade é o de renda. Faz sentido numa família pequena. Todo mundo, em sua família, deveria receber a mesma alimentação e habitação com sua renda. A esquerda, então, extrapola a vida familiar para um país de 213 milhões de habitantes. Mas se um cirurgião e um gari recebessem o mesmo resultado, haveria garis demais e cirurgiões de menos. Aos olhos de Deus, os dois têm valor igual. Mas para possibilitar o grande enriquecimento dos mais pobres, que ocorreu de fato entre 1800 e hoje, os incentivos humanos têm importância. Ao pagar mais aos cirurgiões, a economia está dizendo: "Mais cirurgiões, por favor. Mais inovações como celulares e Uber."
Outro tipo de igualdade é o de oportunidades. Novamente, seria bom. Se todo mundo tivesse o talento de Pelé, o futebol seria ainda melhor. Se todos tivessem exatamente os mesmos genes, sorte, altura, beleza, pais, inteligência, nacionalidade, geração, reinaria a igualdade de oportunidades. Mas subsídio algum pode chegar perto de alcançar isso. Kurt Vonnegut Jr. escreveu um conto, "Harrison Bergeron", imaginando um futuro em que Pelé, por exemplo, fosse obrigado a carregar pesos como um cavalo de corrida para garantir igualdade exata de oportunidades. Uma insensatez. E isso impossibilitaria o grande enriquecimento. Financiar escolas, sim. Obrigar Pelé a jogar carregando pesos, não.
Então eu não me importo com a igualdade? Me importo, sim, profundamente. Nós, liberais, desde Adam Smith, queremos igualdade de permissão. Que Pelé possa inventar seu jogo. Que as mulheres possam ser pilotas comerciais. Que os moradores da Rocinha sejam donos dos terrenos. Que todos, como dizem os britânicos esportivos, "tenham a chance de tentar".
A igualdade de permissão, na realidade, rendeu bastante igualdade de renda e de oportunidades. Sim, é claro, queremos um pouco das outras igualdades por meio de subsídios.
Tradução de Clara Allain
*Economista, é professora emérita de economia e história na Universidade de Illinois, em Chicago
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