quinta-feira, 14 de julho de 2022

Mulheres padres: além do Danúbio.

 Lorenzo Prezzi*

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"As mudanças culturais e sociais no Ocidente em relação ao papel da mulher e à igualdade entre homens e mulheres não cessam de desafiar a consciência crente"

Eis o artigo. 

Há vinte anos, sete mulheres foram consagradas em um barco no Danúbio. Era 29 de junho de 2002. Todas elas sofreram a censura de excomunhão. O que aconteceu com elas?

Christoph Hartmann contou sua história no Katholisch.de. No ano seguinte, uma foi ordenada bispa e as outras continuaram sua missão: “Hoje há quase 300 mulheres padres que, no mundo, vivem a sua vocação, ainda que não sejam formalmente reconhecidas como mulheres católicas ordenadas".

Em particular nos EUA fundaram comunidades independentes que celebram o culto litúrgico em igrejas ou edifícios de outras confissões, como os presbiterianos. A extensão das comunidades varia de um punhado de adeptos a grupos que podem competir com as paróquias da diáspora na Alemanha oriental. A situação das mulheres padres se normalizou de alguma forma como um riacho paralelo em relação à Igreja oficial. O magistério praticamente não se preocupa mais com isso”.

Uma das ordenadas, Ida Raming, disse à rádio alemã em 2019 "Não podemos aceitar dogmas falsos". “As mulheres ordenadas exercem um ministério rico de Espírito e cristológico. É uma riqueza para a Igreja, ainda que os homens da cúria romana não o vejam”.

A sua história gerou certo alvoroço. Das sete ordenadas, quatro eram alemãs, duas austríacas e uma estadunidense. A idade variava entre 46 e 72 anos.

Três anos antes, 12 haviam começado com um curso de preparação para o ministério. No barco foram ordenadas por um controverso e duvidoso bispo argentino, Romulo Braschi, e por um de seus coirmãos ordenado bispo por ele, F. Regelsbergher.

O card. de Colônia, J. Meisner, considerou a escolha insensata. O de Munique, F. Wetter, considerou uma fraude sectária e C. Schönborn de Viena um ato patológico.

Ludmila e as outras

A validade sacramental da ordenação teria parecido mais plausível com um terceiro ordenante, um bispo clandestino tchecoslovaco, Dujan Spiner, que não apareceu. Era um dos bispos ordenados por D. Felix Davidek que, no contexto da emergência da perseguição comunista, havia providenciado a ordenação de 68 padres e 17 bispos. No caso de Spiner, podia-se duvidar da legitimidade, mas não da validade de sua ordenação episcopal.

Davidek também está por atrás da escolha da ordenação de algumas mulheres, sempre justificada pela emergência absoluta de uma perseguição cujo fim não se via.

Apesar da "Primavera de Praga" de 1968, em 25 de dezembro o bispo convocou um sínodo que, após uma dura discussão, abriu a possibilidade de ordenação feminina (cf. SetimanaNews, aqui).

Três dias depois, Davidek ordenou Ludmila Javorova e, posteriormente, três outras mulheres para que cuidassem das detentas.

No início de 2022, foi publicado o volume-entrevista com Javorova, agora com noventa anos (Sacerdote nella Chiesa del silenzio) no qual ela conta o caso, sem dar peso excessivo e afirmando que exerceu mais um ministério de consolo que litúrgico.

Pesquisa além das barreiras

A ordenação feminina sofre uma barreira magistral quase absoluta após a declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, Inter insigniores, em 1976, e a carta apostólica de João Paulo II, Ordinatio sacerdotalis (1994) que assim conclui: "Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos, declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”.

E, no entanto, a pesquisa teológica não parou, especialmente no lado da teologia feminista. Não pode ser facilmente removido o peso de outras confissões cristãs, em particular a anglicana, que abriu as portas ao ministério feminino, nem o possível desenvolvimento de uma ainda indefinida ordenação diaconal para as mulheres na esfera católica.

A referência ao parecer da Pontifícia Comissão Bíblica de 1976 (alguns excluem a possibilidade de ordenação feminina, "outros, ao contrário, se perguntam se a hierarquia eclesiástica, à qual é confiada a economia sacramental, não poderia confiar os ministérios da Eucaristia e de reconciliação a mulheres em circunstâncias particulares, sem ir contra as intenções originárias de Cristo") é frequentemente evocada.

As mudanças culturais e sociais no Ocidente em relação ao papel da mulher e à igualdade entre homens e mulheres não cessam de desafiar a consciência crente.

Hartmann conclui lembrando que o Papa Francisco não iniciou nenhum processo contra as mulheres padres e, por enquanto, nem mesmo contra as diaconisas. "Isso não muda o fato de que as mulheres católicas ordenadas continuam a alimentar ministério e vocação".

* Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 12-07-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/620336-mulheres-padres-alem-do-danubio-artigo-de-lorenzo-prezzi

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