Kodo Nishimura, de 33 anos, considera-se "gender gifted", ou
seja, acredita que tem os dois géneros. "Embora o meu corpo seja
masculino, acredito que a minha alma não tem género", contou à TIME, em 2021, altura em que foi considerado uma das personalidades mais influentes do ano pela revista.
Natural do Japão, Kodo é maquilhador profissional, activista LGBTQI+
e, para espanto de alguns, monge budista. Como pessoa não-binária,
sentia ter como principal barreira as expectativas tradicionais sobre o
que significa ser monge budista. "Durante a minha formação para me
tornar monge, perguntei ao meu mestre 'há algum problema no facto de eu
ser homossexual? Serei bem-vindo na comunidade budista?'" O mestre
respondeu que "no Budismo todos podem ser igualmente livres". "Raça,
sexualidade, deficiência são importantes", conclui.
Kodo
assume: "É difícil ser eu". Mas considera que o seu papel no mundo é
importante e quer tornar-se um exemplo inspirador para todos aqueles que
se sentem rejeitados "por serem quem são". Em criança, preferia sempre
assumir o papel de Cinderella ou de outras princesas. Na adolescência,
no seio de uma sociedade conservadora, sentia que pertencer à comunidade
LGBTQI+ era entendido como
algo vergonhoso. Refugiou-se online, em busca, noutras paragens, por
pessoas que estivessem a explorar também a sua identidade e sexualidade.
No final do ensino secundário, mudou-se para os Estados Unidos, onde
estudou Inglês, artes e maquilhagem. Em Nova Iorque, Kodo sentia-se
quase em casa, mas optou por regressar ao Japão, aos 24 anos, por sentir
necessidade de se tornar "espiritualmente mais forte".
Até regressar a Tóquio, Nishimura
nunca tinha pensado tornar-se monge. Aliás, ele sentia aversão ao
budismo, mas descreve esse sentimento como tendo como base a ignorância e
o preconceito. "Eu precisava de enfrentar as minhas raízes budistas,
algo que eu tinha evitado durante muito tempo", escreveu na sua
biografia This Monk Wears Heels. "Gostaria de espalhar a mensagem de igualdade do Budismo por todo o mundo", explicou à TIME.
"A minha missão é inspirar os líderes mundiais a reverem as legislações
dos seus países no sentido de remover as restrições que existem
especificamente para a comunidade LGBTQI+ e para as mulheres, de forma a
que todos possam ser igualmente respeitados." Kodo afirma-se como uma
pessoa "moderna" e "ancestral". "Eu posso ser uma ponte." E sonha, um
dia, viver num mundo onde todos possam ser "fluidos e flexíveis" porque,
afinal, "cada ser humano é singular".
Fonte: https://www.publico.pt/2022/07/04/p3/fotogaleria/kodo-nishimura-monge-budista-activista-lgbt-e-dificil-ser-eu
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