Para professor de Harvard, o dinheiro pode fornecer calma e controle, permitindo, por exemplo, comprar a saída para alguns obstáculos imprevistos da vida, seja um pequeno incômodo, como evitar uma tempestade pedindo um Uber, ou uma preocupação maior, como lidar com uma conta hospitalar inesperada. — Foto: Unsplash
Por Adriana Fonseca, Para o Valor
A discussão se dinheiro compra (ou não) felicidade é antiga. E é um fato que o dinheiro, sim, compra felicidade para quem esse estado de espírito envolve jantares caros e férias luxuosas, por exemplo. Mas um novo estudo de Harvard foi além, e mostrou que o dinheiro é fundamental de outra maneira importante: ajuda as pessoas a evitar muitos dos aborrecimentos do dia-a-dia que causam estresse. Então, de forma direta, o dinheiro ajuda a evitar o estresse.
Professor da Harvard Business School, Jon Jachimowicz disse que o dinheiro pode fornecer calma e controle, permitindo, por exemplo, comprar a saída para alguns obstáculos imprevistos da vida, seja um pequeno incômodo, como evitar uma tempestade pedindo um Uber, ou uma preocupação maior, como lidar com uma conta hospitalar inesperada.
“Se focarmos apenas na felicidade que o dinheiro pode trazer, acho que estamos perdendo alguma coisa”, afirmou Jachimowicz, professor assistente de administração de empresas no departamento de comportamento organizacional da HBS. “Também precisamos pensar em todas as preocupações das quais o dinheiro pode nos libertar.”
A inspiração para pesquisar como o dinheiro alivia as dificuldades da vida e o estresse veio de conselhos que o pai de Jachimowicz lhe deu. Depois de anos vivendo como um estudante de pós-graduação em dificuldades, Jachimowicz recebeu sua nomeação na HBS e a estabilidade financeira que veio com ela. “Meu pai me disse: 'Você vai ter que aprender a gastar dinheiro para resolver problemas'.” A ideia ficou com Jachimowicz, fazendo com que ele pensasse de forma diferente até mesmo sobre os imprevistos diários que todos enfrentam.
Para testar a relação entre dinheiro e satisfação com a vida, Jachimowicz e seus colegas da Universidade do Sul da Califórnia, da Universidade de Groningen e da Columbia Business School conduziram uma série de experimentos, descritos em um artigo publicado no “Social Psychological and Personality Science”.
Em um estudo, 522 participantes mantiveram um diário por 30 dias, rastreando eventos cotidianos e suas respostas emocionais a eles. A renda dos participantes obtida no ano anterior ao estudo variou de menos de US$ 10.000 até mais de US$ 150.000 – abrangendo diferentes perfis, portanto. Entre as principais descobertas, os pesquisadores citam:
O dinheiro reduz o estresse intenso: não houve diferença significativa na frequência com que os participantes experimentaram eventos angustiantes – independentemente de sua renda, eles registraram um núm os de US$ 10.000 até mais de US$ 150.000 – abrangendo diferentes perfis, portanto. Entre as principais descobertas, os pesquisadores citam:
- O dinheiro reduz o estresse intenso: não houve diferença significativa na frequência com que os participantes experimentaram eventos angustiantes – independentemente de sua renda, eles registraram um número semelhante de frustrações diárias. Mas aqueles com renda mais alta experimentaram menos intensidade negativa desses eventos.
- Mais dinheiro traz maior controle: aqueles com renda mais alta sentiram que tinham mais controle sobre eventos negativos e esse controle reduziu seu estresse. As pessoas com rendas maiores sentiam-se mais livres para lid ar com quaisquer aborrecimentos que pudessem surgir.
- Rendas mais altas levam a uma maior satisfação com a vida: pessoas com renda mais alta geralmente estavam mais satisfeitas com suas vidas.
“Não é que as pessoas ricas não tenham problemas”, disse Jachimowicz, “mas ter dinheiro permite que você resolva problemas e os resolva mais rapidamente.
Em outro estudo, os pesquisadores apresentaram a cerca de 400 participantes dilemas diários, como encontrar tempo para cozinhar as refeições, se deslocar em uma área com transporte público precário ou trabalhar em casa com crianças em espaços apertados. Eles então perguntaram como os participantes resolveriam o problema, usando dinheiro ou pedindo ajuda a amigos e familiares. Os resultados mostraram:
- As pessoas confiam na família e nos amigos independentemente da renda: Jachimowicz e seus colegas descobriram que não havia diferença na frequência com que as pessoas sugeriam pedir ajuda a amigos e familiares – por exemplo, pedindo carona a um amigo ou pedindo ajuda a um membro da família com creche ou jantar.
- Dinheiro é a resposta para quem tem dinheiro: quanto maior a renda de uma pessoa, maior a probabilidade de sugerir dinheiro como solução para um aborrecimento, por exemplo, chamando um Uber ou pedindo comida.
Embora tais resultados possam ser esperados, disse Jachimowicz, as pessoas podem não considerar até que ponto os problemas diários que todos enfrentamos criam mais estresse para indivíduos sem dinheiro – ou a maneira como a falta de dinheiro pode sobrecarregar as relações sociais se as pessoas estão sempre pedindo ajuda à família e aos amigos, em vez de usar seu próprio dinheiro para resolver um problema.
Em outro artigo recente, Jachimowicz e colegas descobriram que as pessoas que passam por dificuldades financeiras sentem vergonha, o que as leva a evitar lidar com seus problemas - e isso muitas vezes os agrava. Essas “espirais de vergonha” decorrem de uma percepção de que as pessoas são culpadas por sua própria falta de dinheiro, e não por fatores ambientais e sociais externos, comentou a equipe de pesquisa.
“Nós normalizamos essa ideia de que quando você é pobre, a culpa é sua e, portanto, você deveria se envergonhar disso”, disse Jachimowicz. “Ao mesmo tempo, estruturamos a sociedade de uma maneira que torna a vida muito difícil para as pessoas pobres.”
Por exemplo, diz Jachimowicz, o transporte público é muitas vezes inacessível e caro, o que afeta pessoas que não podem comprar carros, e as políticas de atraso no trabalho muitas vezes penalizam as pessoas na extremidade mais baixa da escala salarial. Mudar essas estruturas profundamente arraigadas – e a maneira como muitos de nós pensamos sobre as dificuldades financeiras – é crucial.
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