Ia
escrever tomando como mote uma frase do Antônio Maria, o grande cronista: “O
homem mau ri errado”. Nunca mais me saiu da cabeça essa verdade geral, desde
que a conheci. O homem mau ri da coisa errada, na hora errada, pelo motivo
errado.
O mal anda tão solto e alegre por aí que dá até medo. Sim, é o Mal, não me
venha com dialéticas: defender armas, atacar as instituições (a sacanagem do
orçamento secreto e tudo que veio com ele), homofobia, machismo, racismo, isso
é o Mal, com maiúscula.
Mas o tema não é este: o tema é ficar velho. Por que é este o tema?
Porque ele ilumina para a frente e para trás, com sorte até o presente mesmo.
Saber envelhecer, reconhecer a grandeza e a tragédia implicadas no processo,
isso nos coloca mais longe do Mal e dos maus.
O ensaio de fotos da Malu Falcetta nos abre os olhos para esse mundo. A coisa
fica meio borrada? Fica. Perde o viço? Pode ser. Mas ganha em sabedoria – como
aliás a gente vê na entrevista com a historiadora Helga Piccolo, falecida esta
semana.
Ocorre que eu a entrevistei, numa série de conversas que fiz para a Zero Hora,
vinte anos atrás: entrevistei figuras de destaque no meu horizonte de então, e
quis registrar seu jeito de ser e pensar. Helga foi minha professora, no curso
de História da UFRGS, em 1979 e 80. A conversa, que aqui vai reproduzida, me
parece conservar traços importantes de seu perfil – ela já era uma senhora de
70 anos na hora da entrevista, tendo falecido agora aos 90.
Carlos Alberto Kolecza, outro sábio da aldeia, retorna à Parêntese numa nova
pensata sobre o mundo do jornalismo atual. Faz contraste com o que já existiu e
com o que deveria existir, como todo bom artigo. Nesse movimento, faz eco com
uma beleza de texto do Eloar Alemão Guazzeli, grande artista visual e nosso
parceiro, que hoje faz a defesa da carta escrita e postada nos correios. Leia:
são nada menos de cem argumentos.
As presenças habituais mantêm o tom de pensar o presente conhecendo o passado:
Frederico Bartz conta agora da organização dos trabalhadores rurais em Porto
Alegre, enquanto Arnoldo Doberstein visita a história da Faculdade de Direito
da UFRGS, palco de tantas trajetórias relevantes. A série de depoimentos de
tradutores, organizada pela Karina Lucena e agora em espanhol, segue com uma
nova voz.
Na seção Forma & Função, a segunda parte da entrevista sobre o passado e o
futuro do Nova Olaria. Volta hoje a tira Tom & Laura, fruto da colaboração
de Carlos Castelo com Augusto Bier. E volta para uma longa temporada.
Duas crônicas se somam ao painel da 134: Rodrigo Forabozo e Denise Ziliotto são
as vozes do momento, diversas entre si, ambas rindo certo. Samanta Buglione
estreia uma série de textos sobre a Bienal de Veneza, começando com prosaicos
bordados.
E estreia um folhetim colado com a vida: se chama “A parada”, não a militar mas
a do ônibus, e é assinada pelo nosso editor e aliado de todas as horas
Ângelo Chemello Pereira. Fique ao lado dele esperando a condução para ouvir as
histórias.
*Escritor, ensaísta e professor brasileiro. Nascido em Novo Hamburgo, Fischer vive em Porto Alegre desde o seu primeiro ano de vida. É formado em Letras pela UFRGS. Cursou também História, mas não concluiu.
Fonte: https://www.matinaljornalismo.com.br/parentese/revista-parentese/parentese-134-envelhecer/
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