Nandini
Singla*
Estátua de Mahatma Gandhi em museu de Nova Délhi
"Ele praticou tudo o que pregou e
em que acreditou.
Ele viveu de tal maneira que a sua
vida foi a sua mensagem".
Disse Albert Einstein sobre Mahatma Gandhi: "As gerações vindouras
dificilmente acreditarão que um ser como este andou na Terra em carne e
osso". O dia 2 de outubro, quando comemoramos os 150 anos do nascimento de
Mahatma Gandhi, é um bom momento não apenas para prestar homenagem ao Mahatma
(Grande Alma), mas também para recordar que as suas mensagens intemporais são
hoje ainda mais relevantes para nós.
A grandeza de Mahatma Gandhi reside em ter galvanizado sozinho milhões
de indianos para exigirem e obterem a liberdade do domínio colonial britânico
sem violência, como uma questão de direito moral. Mas, a meu ver, a sua
verdadeira grandeza reside em algo ainda maior: ele praticou tudo o que pregou e
em que acreditou. Ele viveu de tal maneira que a sua vida foi a sua mensagem.
Uma mensagem que perdura hoje e sempre, porque consiste em verdades e valores
intemporais que refletem o melhor da humanidade e mostram o caminho de como o
mundo pode e deve ser um lugar melhor para todos. Quais são essas mensagens
intemporais que continuam a servir de bússola para a humanidade?
A verdade: A chave de Gandhi para a
autotransformação e a mudança social e política era a verdade, a que chamou
"a substância de toda a moral". Disse ele: "A verdade é Deus e
Deus é a verdade. Se uma pessoa está certa e sabe disso, deve falar. Mesmo que
seja uma minoria de um, a verdade ainda é a verdade". Gandhi acreditava
que "A verdade é muito mais poderosa do que qualquer arma de destruição em
massa" e disse às pessoas: "De uma maneira gentil, vocês podem abanar
o mundo". Foi essa crença que tornou este homenzinho frágil em alguém
suficientemente colossal para derrubar o poderoso império britânico na Índia
sem o recurso a uma única arma. Hoje, quando vemos crianças em idade escolar
tornarem-se os defensores mais poderosos e pacíficos do meio ambiente no
combate às mudanças climáticas, percebemos a verdade por trás disso. Se
todas as pessoas de bem se unissem para defrontar os desafios que o mundo
enfrenta hoje, seja o desenvolvimento sustentável, a pobreza ou o terrorismo,
tudo isso seria resolvido de maneira rápida e oportuna.
Disse ele: "A verdade é Deus e Deus é a verdade. Se uma pessoa está
certa e sabe disso, deve falar. Mesmo que seja uma minoria de um, a verdade
ainda é a verdade"
A honestidade consigo próprio e o desenvolvimento pessoal: Transcender de um ser humano imperfeito que admitiu roubar, mentir,
ficar enraivecido e bater, comer carne e fumar cigarros para se tornar um
"Mahatma" (Grande Alma). Gandhi acreditava que a jornada da
existência humana consiste em trabalhar constantemente para eliminar as
deficiências e tornarmo-nos as melhores versões possíveis de nós mesmos. Disse
ele: "Viva como se fosse morrer amanhã, aprenda como se fosse viver para
sempre". Ele acreditava que se cada um de nós pudesse assumir a
responsabilidade individual de se tornar um ser humano melhor, o mundo seria
automaticamente um lugar melhor. É famosa a sua frase: "Como seres
humanos, a nossa grandeza não é tanto sermos capazes de repensar o mundo como
sermos capazes de nos refazermos a nós mesmos. Seja a mudança que quer ver no
mundo". No mundo de hoje, onde tendemos a culpar o mundo, a economia, o
governo, os nossos empregos e até as pessoas nas nossas vidas pela nossa falta
de felicidade e satisfação, a mensagem fundamental de Gandhi lembra-nos que
precisamos de assumir a responsabilidade pelas vidas que criamos para nós
mesmos e incumbirmo-nos de como nos sentimos por dentro, percebendo que, embora
não possamos controlar as circunstâncias externas, podemos sempre escolher como
lhes responderemos. "Um homem é apenas o produto dos seus pensamentos; ele
torna-se naquilo que pensa". "O futuro depende do que você faz
hoje", disse ele. Se cada um de nós respondesse consciente e sabiamente,
em vez de reagir instintivamente com base nos nossos preconceitos pessoais e
bagagem emocional decorrentes das nossas próprias experiências de vida
limitadas, o mundo seria desprovido da maioria dos conflitos que vemos hoje!
Não-violência: a forma de Gandhi para
perceber a verdade era a não-violência (Ahimsa). Ele acreditava que a verdade
última era que todo o universo era feito da mesma energia e éramos todos um.
Então, como pode alguém ser violento com o outro sem se magoar a si mesmo?
Disse ele: "Existem muitas causas pelas quais estou preparado para morrer,
mas nenhuma causa pela qual estou preparado para matar". No mundo de hoje,
onde o terrorismo, o extremismo e o ódio irracional estão a dividir nações e
povos, os seus pedidos de paz e ahimsa têm o poder de unir a humanidade.
Espiritualidade na política: Os conceitos de Gandhi como
Amor Universal e Unidade de Todas as Religiões eram profundamente espirituais
em essência. Ele acreditava que todas as religiões eram verdadeiras porque a
Moralidade era a sua essência. Ele disse: "Onde há amor, há vida. No dia
em que o poder do amor anular o amor pelo poder, o mundo conhecerá a paz".
Embora a Índia sempre tenha sido uma terra de espiritualidade, a grandeza de
Gandhi foi que ele elevou a espiritualidade a um nível em que isso impregnava a
sua política, economia e pensamento social. Isso incluiu ideias como Ramarajya
(Estado Ideal), Satyagraha (perceber a verdade e a justiça pela "força da
alma"), Sarvodaya (Elevação dos Pobres), Swaraj (Nacionalismo e
Autossuficiência), Jan Bhagidari (Participação Pública e Movimentos de Massas),
Crescimento Igual e Inclusivo, Autossuficiência da Aldeia e Desenvolvimento
Ecologicamente Sustentável. Hoje, ao lidarmos com questões como o défice
democrático, a desigualdade dos 1% mais ricos, a urbanização não planeada e os
problemas de superlotação, tráfego e poluição; êxodo de migração das aldeias
para as cidades, aquecimento global etc. O modelo de governança e desenvolvimento
de Gandhi parece mais relevante do que nunca. Enquanto o mundo hoje está
preocupado com as alterações climáticas, há mais de 100 anos, Gandhi via o meio
ambiente como uma curadoria da humanidade e dizia: "A terra fornece o
suficiente para satisfazer a necessidade de cada homem, mas não a ganância de
cada homem" e avisou: "O que estamos a fazer às florestas do mundo é
apenas o reflexo num espelho do que estamos fazer a nós próprios e aos
outros". Ele pediu respeito pelo meio ambiente e liderou pelo exemplo
limpando as casas de banho do ashram de Sabarmati, garantindo desperdício
mínimo de comida e água e garantindo que a água usada não se acabasse no rio
Sabarmati. Mahatma Gandhi também foi um bastião de integridade. Disse ele:
"A felicidade é quando pensamos que o que dizemos e o que fazemos estão em
harmonia". Gandhi acreditava numa abordagem cosmocêntrica espiritual da
vida em que os seres humanos não eram o centro do universo, mas apenas uma
parte do cosmos mágico maior. Ele acreditava, portanto, que o mundo não estava
aqui para atender às nossas necessidades e que a humanidade só pode prosperar
numa coexistência harmoniosa com o universo. Ele acreditava que se destruirmos
a natureza, destruir-nos-emos.
Para Gandhi, tanto o comunismo quanto o capitalismo estavam errados, em
parte porque o primeiro deificava o estado com poder ilimitado de violência,
enquanto o segundo deificava o capital. Portanto, Gandhi via a democracia como
mais do que um sistema de governo, ela significava promover a individualidade e
a autodisciplina da comunidade. Democracia significava resolver disputas de
maneira não violenta, exigia liberdade de pensamento e expressão. Para Gandhi,
a democracia era um modo de vida. Ele incentivou o Modelo Económico Sarvodaya
para a "Elevação de todos" pela produção de massas em vez da produção
em massa. Gandhi opôs-se veementemente a uma constituição que dava diferentes
direitos a diferentes religiões e castas porque temia que ela dividisse a Índia
e desviasse a atenção da luta pela liberdade. Ele jejuou até a morte depois de
o governo britânico ter concedido aos Intocáveis um eleitorado separado. Ele
afirmou que a teoria do mandato da democracia majoritária não deve ser levada a
extremos absurdos, as liberdades individuais nunca devem ser negadas e nenhuma
pessoa deve jamais ser escrava social ou económica da "resolução de
maiorias".
Líderes inspirados: Gandhi tem sido um grande
farol de esperança para as pessoas lutarem pelos seus direitos e liberdade
através de meios pacíficos e não violentos, o que provou ser uma alternativa
melhor à guerra. Líderes como Nelson Mandela, Martin Luther King Jr, Julius
Nyerere, da Tanzânia, foram proeminentes na luta pelos direitos civis e pela
liberdade de uma forma pacífica.
Gandhi tem sido um grande farol de esperança para as pessoas lutarem
pelos seus direitos e liberdade através de meios pacíficos e não violentos, o
que provou ser uma alternativa melhor à guerra.
Para nos recordar as suas ideias, o governo da Índia lançou um programa
mundial de comemorações durante dois anos. O primeiro-ministro de Portugal,
António Costa, consentiu amavelmente em ser membro da Comissão Organizadora, a
convite do primeiro-ministro Modi, e também escreveu uma peça intitulada:
"O que Gandhi significa para mim", para uma antologia lançada a 2 de
outubro. Em Portugal, exibimos imagens e mensagens de Gandhi na histórica Praça
do Comércio, no seu aniversário a 2 de outubro, na presença do presidente da
câmara de Lisboa; e estamos a organizar várias atividades como palestras sobre
Gandhi em escolas e universidades, vamos lançar um selo de Gandhi, fazer
plantações de árvores e eventos de bicicleta para disseminar as suas mensagens.
Ao homenagearmos a sua memória hoje, resolvamos fazer o que somos capazes de
fazer. Se cada um de nós fizer o melhor que puder, o mundo será o melhor que
puder ser. Gandhi disse: "A diferença entre o que fazemos e o que somos
capazes de fazer seria o suficiente para resolver a maioria dos problemas do
mundo". Ele também nos lembrou: "A satisfação reside no esforço, não
no sucesso; o esforço total é a vitória total". Vamos fazer todo o nosso
esforço, a vitória seguir-se-á.
* Embaixadora da Índia
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