Ainda os “coletes amarelos” e novamente a França.
Gostaríamos de falar sobre outras coisas para lá do Sena e do Arco do
Triunfo. Dê uma olhada na Alemanha, onde Merkel vacila, para o Reino
Unido, onde May luta como um tigre para salvar tanto Brexit como ela
mesma. Hoje, todos os olhos convergem para sábado na França. Essa data
será fatídica: ela tanto pode trazer o fim dos distúrbios, ou ao
contrário, se as ruas se lançarem novamente, então, a França vai se
parecer com um cavaleiro bêbado montado em um cavalo louco.
Lembre-se dos delírios de Maio de 68.
O pretexto era trivial: o câmpus de uma das faculdades de Paris decidiu
garantir a castidade dos alunos, pois se um rapaz quisesse receber uma
garota em seu quarto, ele deveria levar sua cama para o corredor.
Podemos imaginar algo mais estúpido, mais insignificante? Um mês e meio
depois, a França queima.
O
poderoso general de Gaulle quase é mandado de volta para casa. O
espetáculo fascina os países vizinhos. Se a França não é a primeira em
todos os esportes, é inigualável na fabricação de dramas, tragédias,
incêndios, com poucos fósforos.
Assim, hoje, os “coletes
amarelos” fascinam o mundo inteiro. Inicialmente, alguns trabalhadores
pobres, vestiam esses coletes refletores, e faziam barulho nas ruas.
Três meses depois, o presidente francês, Emmanuel Macron, jovem que
fascinou o mundo, sem grande esforço, sorrindo, sem experiência
política, refugiou-se no pico mais elevado do Estado e ficou em silêncio
porque não soube como sair da armadilha.
Ontem, Macron foi quase
surreal. Estava andando sobre a água. Então, de repente, de um dia para
o outro, ele perde todos os seus volteios, cai do seu trapézio. Ele
escorrega e quase se afoga em cinco centímetros de água. Como o “Pequeno
Príncipe” de ontem se metamorfoseou em um homem comum?
Lembre-se
de onde estávamos há três ou quatro dias. Os “coletes amarelos” haviam
bloqueado as estradas e, especialmente, realizado dois eventos
espetaculares em Paris. O segundo foi assustador, com profanação
desprezível de lugares sagrados da França, o túmulo do soldado
desconhecido sob o Arco do Triunfo.
Mas durante aquelas semanas,
enquanto crescia a febre em torno dos “coletes amarelos”, Macron,
montado em suas esporas, tinha recorrido ao desdém. Ele estava acima
dessas mediocridades. Que imprudência! Um estadista é aquele que
consegue ouvir os rumores que acompanham a história, aquele que adapta
as suas decisões à forma inesperada que toma a história.
E
Macron, na terça-feira, recuou. Ele mostrou ao seu povo que é generoso.
Ele está disposto a conceder as pequenas reformas que os “coletes
amarelos” reivindicam há dois meses. O problema é que nesses dois meses
os “coletes amarelos” se metamorfosearam.
Espantados
com seu próprio sucesso e informados de que seu “grande teatro de rua” é
acompanhado por todo o mundo, seja com reprovação, raiva, esperança ou
admiração, seu apetite aumentou dez vezes. Eles hoje são insaciáveis.
Parecem ogros. E os pequenos presentes que lhes deu Macron, que os
teriam encantado há três meses, são considerados inadequados. Eles
querem mais.
É por isso que essa terceira jornada de protestos,
no sábado, será incerta, talvez perigosa. E mesmo se, como se espera, o
pior seja evitado, ele permanecerá no campo de batalha como um inválido:
Macron, terá passado da condição prestigiosa de “homem que jamais
recua” para o status mais modesto de “o homem que recua”.
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*É CORRESPONDENTE EM PARIS / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO
Fonte: https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,dias-perigosos-em-paris,70002634970 06/12/2018
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