Marcelo Sgarbossa*
Tudo vai muito bem até que a periferia resolve descer o morro, “com
seus hábitos indesejáveis” para frequentar lugares públicos, causando
estranhamentos para muitos que desejam uma cidade para poucos.
A polêmica em torno dos frequentadores da nova orla do Guaíba revela
muito mais do que o direito das pessoas usufruírem um mesmo espaço, mas
escancara os processos de disputa que se dão dentro do espaço urbano,
revelando um apartheid social criado pela desigualdade de classe, raça,
estética e seus modos de vida que as classes populares trazem para o
espaço público.
O Estado, quando imagina construir uma obra pública como a da Orla,
reproduz um imaginário social em que tudo vai ser uma maravilha, pois o
espaço vai ser frequentado pelos ditos “cidadãos de bem”.
Acontece que essa ideia, pensada para poucos, revela as contradições
sociais existente em nossa Porto Alegre repartida pela miséria econômica
e moral.
Os ambulantes indesejáveis nestes locais higienizados, os jovens da
periferia com seus modos de vida, revelam uma cidade que os quer
invisíveis. O que esta acontecendo com a orla já vem há mais tempo
ocorrendo com a Cidade Baixa. A frequência da Cidade Baixa só se tornou
um problema para alguns quando jovens da periferia passaram a frequentar
o bairro.
Uma cidade não pode se tornar um lugar com segregações como a que
está em curso neste momento, com capital privado se apropriando dos
espaços públicos que são coletivos, que são de todos independente de
classe e origem. O que chama atenção é que este debate só ocorre quando
os da periferia vem a ocupar os espaços dos que se sentem mais legítimos
na sociedade. Quando apenas a parcela incluída da população ocupa os
espaços públicos, o discurso é de bom gosto, de valorização, de aumento
de auto estima e do surrado discurso de lugares “para as família”
aparecem, como se existisse apenas um determinado tipo de família
socialmente legítima (ordeira, consumidora, formada por pai, mãe e
filhos, etc).
Para aumentar a auto estima dos porto alegrenses, além mudar o olhar
etnocêntrico e preconceituoso sobre a cidade, sobre seus frequentadores,
os lugares públicos terão que ser pensados levando em conta a
diversidade que existe em nossa cidade.
Uma cidade mais humana passa por este olhar e por políticas públicas que acolham a diversidade social.
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(*) Marcelo Sgarbossa é vereador de Porto Alegre (PT).Fonte: https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2018/12/uma-cidade-partida-orla-para-quem-por-marcelo-sgarbossa/
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