José Monserrat Filho (*)
‘O rumo mais provável para o nosso
futuro é o mais perigoso.’
Joshua Cooper Ramo,economista americano, A Era do Inconcebível, Cia das Letras, 2010, p. 21.
Joshua Cooper Ramo,economista americano, A Era do Inconcebível, Cia das Letras, 2010, p. 21.
Putin declarou em longa entrevista que, sim, podemos todos, os
habitantes da Terra, ser vítimas de uma guerra de extermínio, uma guerra
nuclear, de não sobrar nada ou quase nada.
Ele cita fatos concretos e, portanto, difíceis de contestar.
Argumento principal: os Estados Unidos decidiram se retirar do acordo de
contenção de ogivas de curto e médio alcances e não dão o menor sinal
de aceitarem se engajar em novos pactos estratégicos.
‘Infelizmente, há uma tendência de subestimar a possibilidade de uma
guerra nuclear, que está inclusive crescendo. Testemunhamos o rompimento
do controle internacional de armas e (o começo) de uma corrida
armamentista’, afirma o presidente russo.
Será que ele está apenas fazendo propaganda, mentindo?
‘Presenciamos a desintegração do controle de armas. O New Start
(acordo que limita o armamento nuclear dos países signatários) expira em
2021 e ainda não temos negociações em curso sobre sua continuação. Não
queremos falar no assunto? Está bem. Estaremos a salvo. Saberemos nos
proteger’, comenta Putin com ironia.
Não faz muito, o chefe da Casa Branca, Donald Trump, comunicou a
retirada dos EUA do Tratado sobre Forças Nucleares de Alcance
Intermediário, firmado em 1987 pelo então presidente dos EUA Ronald
Reagan e o líder da ex-União Soviética, Mikhail Gorbatchev.
A decisão de Trump, claro, foi mal recebida por Moscou, mas também
pela maioria dos países da Europa, amigos e adversários dos EUA, a
começar pelas grandes potências ‘aliadas’.
Putin tinha, pois, razões de sobra para dizer o que disse. Ele estava apenas falando o ‘óbvio’.
Os EUA pôs igualmente em risco a segurança do planeta, ao aceitar a
ideia de uso de mísseis balísticos munidos de ogivas convencionais. Os
estrategistas de Washington desprezam a possibilidade real de que tais
mísseis possam ser confundidas com mísseis nucleares e detonar uma
catástrofe em escala planetária.
Realista ao extremo, Putin observou: ‘É difícil imaginar o que vai
acontecer. Se estes mísseis aparecerem lá pela Europa, teremos que
garantir que estaremos seguros. Não lutamos por vantagens, mas por
igualdade, paridade e segurança.’
Quer dizer, a Rússia não tem motivos para apostar na guerra. Mas, se
essa for a solução escolhida pelos EUA de Trump, Putin não parece
disposto a permitir que as bombas caiam na cabeça dele e da população de
um país que sempre lutou pela paz, inclusive nos anos 30, diante do
monstro chamado Adolf Hitler, responsável pela morte de dezenas de
milhões de pessoas.
Ainda mais agora em pleno império hediondo dos arsenais nucleares,
inigualáveis na capacidade de assassinar a espécie humana em questão de
minutos, como já vimos em Hiroshima e Nagasaki.
Não, Putin não está faltando com a verdade. Ele não faria como Trump.
Trump jamais reconheceria de público a possibilidade de uma guerra
nuclear. Putin está sendo honesto com a humanidade. Algo raro hoje em
dia. Se Trump e a maior parte dos líderes de grandes potências fizessem o
mesmo, Putin nem precisava dizer o que disse.
(*) Vice-Presidente da Associação Brasileira de Direito Aeronáutico e Espacial (SBDA), Membro Honorário da Diretoria do Instituto Internacional de Direito Espacial (IISL), Homenageado por Serviços Prestados ao Desenvolvimento do Direito Espacial pelo Instituto Internacional de Direito Espacial, e Membro Pleno do Academia Internacional de Astronáutica (IAA). Criador e ex-editor do Jornal da Ciência, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Autor de “Direito e Política na Era Espacial – Podemos ser mais justos no céu do que na Terra?”. E-mail;
Fonte: https://www.sul21.com.br/opiniaopublica/2018/12/pode-haver-guerra-nuclear-afirma-putin-ele-mente-por-jose-monserrat-filho/
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