Rosely Sayão*
Afinal, é o único grupo do qual participamos a vida toda
Antes mesmo do início de dezembro, o fim do
ano já se anunciava. Percebemos isso por meio das escolas — muitos
alunos já estavam prestes a entrar em férias —, pelo comportamento do
comércio, que passou a mostrar publicidades com conteúdo natalino e a
ofertar produtos para a passagem de ano, pela correria de muitos, pela
intensificação do trânsito e, principalmente, pelo início dos
planejamentos familiares para as celebrações do fim do mês.
A maioria das famílias comemora o Natal, mesmo as que não
celebram o seu sentido religioso. É que em quase todas elas há crianças
que anseiam por presentes — tradição da festa — e, como os integrantes
de uma família hoje podem estar dispersos pelo país e pelo mundo, a data
é esperada para o encontro de todos — ou quase todos — que pertencem
àquele grupo. O Natal ganhou, portanto, também o caráter de reunião
familiar.
E, por falar em família, hoje quase todo mundo acredita que entende
desse núcleo e que pode analisá-lo. A frase “De médico e louco todo
mundo tem um pouco”, que tem origem no conto O Alienista, de
Machado de Assis, pode ser, na atualidade, complementada, já que há
tantos pitacos sobre a família. Há quem acredite que a família está
ameaçada de ser destruída ou que já se encontra em estado de falência.
Os motivos seriam os mais diversos. O aumento do número de divórcios
costuma ser muito citado. Ou a presença da mulher no mercado de
trabalho, entre tantas outras causas já apontadas.
Ocorre que, ao mesmo tempo em que os divórcios crescem, há também
recasamentos, e as mulheres que muito precisam ou querem se dedicar ao
trabalho remunerado vivem se martirizando pela culpa de estar longe da
família por tanto tempo. Isso significa que pertencer a uma família, com
todos os bônus e ônus impostos, é essencial.
É na família que se buscam apoio e refúgio quando a vida se complica,
provoca sofrimento, congela. Não importam a hora, o local, as
dificuldades, a família oferece segurança, e não apenas aos mais novos: a
todos os seus integrantes. É a fortaleza de cada um de nós. Não é à toa
que a família é o único grupo ao qual pertencemos a vida toda. De todos
os outros grupos, participamos temporariamente.
Não há dúvida de que algumas famílias, ou integrantes delas, recusam a
convivência com o grupo, afastam-se para sempre, buscam apagar da
memória a existência desse laço primordial. Mesmo essas pessoas procuram
formar sua família fora dos laços tradicionais, que são os de sangue e
os de aliança. Fazem dos amigos próximos sua família, por exemplo. Elas
sentem na pele a importância de pertencer a um grupo e buscam criá-lo,
já que enfrentaram impedimentos radicais em sua família de origem.
A família precisa ser cuidada porque sobrevive dos vínculos afetivos
entre todos os seus integrantes, e isso dá trabalho. Mas enfrentar os
conflitos que surgem no grupo com amorosidade, compaixão, respeito,
generosidade e delicadeza, por exemplo, promove uma vida pessoal e
familiar de qualidade.
Desejo a cada um carinhosas celebrações no Natal e na passagem de ano. Até 2019!
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* Psicóloga e consultora educacional, tem mais de 30 anos de experiência em clínica, supervisão e docência.
Imagem: (Weberson Santiago/VEJA)
Fonte: https://veja.abril.com.br/brasil/familia-e-tudo-que-temos/
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