quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Governo e religião

Antônio Delfim Netto* 
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Intromissão de evangélicos nas políticas públicas de gênero é exemplo de confusão

  • Provavelmente, nem a arrogância do mais pretensioso intelectual permita-lhe afirmar que as mais recentes descobertas científicas deem uma resposta aceitável ao problema fundamental que o homem se colocou desde sempre: qual o significado do universo que o cerca e qual o seu papel nele?  
     
    Como tinha necessidade intrínseca de encontrá-la, uma vez que a sua própria sobrevivência física dependia da natureza dessa resposta, procurou conforto numa “crença”, numa “religião”, que estabelece a ordem, a estabilidade e a previsibilidade nas relações sociais, produzidas por restrições às ações de cada um, dispostas por um ser divino benevolente que controla a ordem do mundo.

    Trata-se de um sentimento profundo e robusto —isto é, de uma fé— que dispensa qualquer prova material porque conforta e dá esperanças ao seu portador. Foi esse o papel da Igreja Católica durante muitos anos, antes de que ela se “intelectualizasse” e se afastasse do povo.

    É preciso —sem preconceitos— reconhecer que seu lugar hoje é ocupado pelas igrejas evangélicas, cujo sucesso é a prova material de que estão mais antenadas com as novas realidades.
     
    O conhecimento “científico” (isto é, a ciência) exige o oposto: a dúvida permanente, a busca interminável de recusar o que se supõe conhecido e aceitá-lo, provisoriamente, enquanto não for negado empiricamente. Como disse Popper, “o homem não pode conhecer, mas apenas conjecturar”.
    * Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”. 
    Fonte:  https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antoniodelfim/2018/12/governo-e-religiao.shtml 
    Imagem de Internet

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