Robson de Andrade*
"É
necessário educar a juventude no novo
paradigma tecnológico e qualificar
as
pessoas que já estão no mercado, aumentando
sua capacidade de compreensão e
análise necessárias no
ambiente da Indústria 4.0."
A quarta
revolução industrial, conhecida como Indústria 4.0, já é uma realidade. Hoje, a
manufatura é muito mais ágil e dinâmica, com decisões progressivamente
transferidas dos cérebros humanos para os chips de computadores e seus
algoritmos. As transformações provocadas pelas inovações tecnológicas estão
criando um admirável novo mundo, que traz, consigo, os bônus das facilidades,
da produtividade e do bem-estar, mas exige, em contrapartida, uma
extraordinária adaptação dos seres humanos.
A
necessidade de se modificar para acompanhar a renovação tecnológica é
especialmente verdadeira no universo do trabalho. Muitas funções comuns no
ambiente fabril do século XX estão perdendo importância ou mesmo sendo
extintas, enquanto outras são criadas neste agitado século 21. Mesmo as funções
que continuam a existir estão passando por alterações, diante dos novos
processos produtivos. O trabalho está deixando de seguir aquela rotina tradicional,
na qual pessoas se juntam num mesmo lugar, no mesmo período. Isso assusta
algumas pessoas e entusiasma outras.
Nesse
contexto de mudanças, numa velocidade vertiginosa e sem precedentes, o elemento
essencial para o avanço tecnológico será a qualificação profissional. É verdade
que as decisões nas fábricas e nos demais ambientes de trabalho vêm sendo
tomadas, muitas vezes, por complexos sistemas eletrônicos e digitais, que precisam
com frequência cada vez menor da intervenção humana. Mas as pessoas sempre
terão papel fundamental na produção. Sem profissionais capacitados, não
existirão máquinas ou robôs e não será possível implantar a Indústria 4.0 ou
aproveitar seus benefícios.
A era da
inovação tecnológica exige que o país se engaje numa, não menos ambiciosa,
reforma na educação. O Brasil precisa dar ênfase a um sistema educacional capaz
de, ao mesmo tempo, oferecer conteúdo acadêmico regular, formar cidadãos
conscientes e prepará-los para o novo mundo do trabalho.
É
necessário educar a juventude no novo paradigma tecnológico e qualificar as
pessoas que já estão no mercado, aumentando sua capacidade de compreensão e
análise necessárias no ambiente da Indústria 4.0. Além disso, é preciso
investir em treinamento, qualificação e atualização permanentes. O aprendizado
não mais se encerra nos bancos da escola regular, que vai do jardim de infância
à faculdade.
O ensino
técnico é uma das melhores respostas aos desafios impostos pela quarta
revolução industrial. Não à toa, países desenvolvidos e os emergentes mais
bem-sucedidos têm valorizado, nos últimos anos, a educação profissional. Na
Finlândia, que é exemplo de excelência na área educacional, cerca de 30% dos
jovens faziam esse tipo de formação junto com o ensino médio em 2005. Dez anos
depois, após estímulo governamental, esse número saltou para mais de 70%. Na
Alemanha, o percentual dos que fazem cursos técnicos chega a 53% e na Áustria,
a 76%. No Brasil, é de apenas 9%.
É preciso que autoridades públicas, empresários, educadores, pais e estudantes trabalhem juntos, desde já e nos próximos anos, para valorizar a formação técnica e profissional, criando oportunidades de inserção dos nossos jovens e adultos no mercado de trabalho. Entre outras medidas, é indispensável ampliar vagas, adequar a oferta às demandas de médio e longo prazos dos setores produtivos, e garantir uma capacitação que dialogue com as novas tecnologias digitais.
É preciso que autoridades públicas, empresários, educadores, pais e estudantes trabalhem juntos, desde já e nos próximos anos, para valorizar a formação técnica e profissional, criando oportunidades de inserção dos nossos jovens e adultos no mercado de trabalho. Entre outras medidas, é indispensável ampliar vagas, adequar a oferta às demandas de médio e longo prazos dos setores produtivos, e garantir uma capacitação que dialogue com as novas tecnologias digitais.
O Serviço
Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) concluiu recentemente um estudo
sobre as profissões do futuro. Foram identificadas 30 novas ocupações que devem
surgir, num horizonte de cinco a 10 anos, em oito áreas nas quais o impacto da
Indústria 4.0 deve ser maior. Nesses segmentos, haverá mais integração dos
mundos físico e virtual, por meio de tecnologias digitais, como a internet das
coisas, o big data e a inteligência artificial. São eles: automotivo, alimentos
e bebidas, máquinas e ferramentas, petróleo e gás, têxtil e vestuário, química,
tecnologias da informação e comunicação, e construção civil.
Entre as
novas ocupações, estão as seguintes: mecânico de veículos híbridos,
especialistas em telemetria, analista de internet das coisas, engenheiro de
segurança cibernética, especialista em big data, especialista em aplicações
para rastreabilidade de alimentos, projetista para tecnologias em 3D, técnico
em automação predial, desenvolvedor de produtos poliméricos e especialista para
recuperação avançada de petróleo.
O estudo
aponta, ainda, quais serão as habilidades requeridas de cada um dos
profissionais listados. Uma das conclusões é que, independentemente do
segmento, os trabalhadores devem conferir uma maior importância a competências socioemocionais,
como a capacidade de colaborar em equipe, a criatividade e o empreendedorismo.
A
formação, por sua vez, será, cada vez mais, interdisciplinar. Um químico, por
exemplo, terá que adquirir noções básicas em nanotecnologia e em sistemas
digitais, bem como ter pensamento crítico, adaptabilidade, flexibilidade e
atenção a detalhes. Já um operador de processamento de grãos, na área de
alimentos e bebidas, precisará de conhecimentos em automação de controle e
processos, e em aplicativos, além de ter boa comunicação, saber gerir bem o
tempo e aprender de forma ativa.
Essas
características socioemocionais serão progressivamente mais importantes no
mercado de trabalho, porque existe uma evolução constante na sociedade do
conhecimento e na forma de executar as funções nas organizações. Hoje, as
estruturas empresariais são menos verticalizadas, e mais horizontais e
flexíveis. Entretanto, o trabalho colaborativo continuará sendo essencial para
se obterem ganhos de produtividade e eficiência. Da mesma forma, virtudes
humanas, como ética, criatividade, imaginação, colaboração e capacidade
analítica, nunca poderão ser substituídas.
A
revolução tecnológica digital - e as inovações disruptivas dela decorrentes -
impõe grandes desafios, mas também proporciona excelentes oportunidades para o
Brasil solucionar seu problema de produtividade. A indústria brasileira está
pronta para colaborar com o novo governo, que toma posse em janeiro, investindo
cada vez mais na qualificação profissional dos nossos jovens e estimulando o espírito
inovador das empresas. É fundamental conectarmos o Brasil a esse novo tempo que
já começou.
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* Robson
Braga de Andrade é presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Fonte: https://www.valor.com.br/opiniao/6033513/o-admiravel-e-desafiador-novo-mundo-do-trabalho 22/12/2018
Fonte: https://www.valor.com.br/opiniao/6033513/o-admiravel-e-desafiador-novo-mundo-do-trabalho 22/12/2018
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