Joelle Pineau, diretora administrativa da Meta AI, explica a filosofia open source da empresa. “Para construir sistemas com os mais altos níveis de responsabilidade, todos devem poder validar os nossos resultados e se basear nos nossos progressos”.
No mês passado, a Meta publicou um poderoso artigo científico intitulado “LLaMA: Open and Efficient Foundation Language Models”. LLaMA significa Large Language Model Meta AI e é um sistema de NLP (compreensão e processamento de linguagem natural). É como o ChatGPT, mas melhor: “Supera o GPT-3 na maioria dos testes”, escrevem os autores com indisfarçável orgulho.
“Temos um programa de pesquisa ambicioso voltado para a criação de inteligência artificial autônoma”, comenta Joelle Pineau, diretora executiva da Meta AI, responsável pelos laboratórios nos Estados Unidos e na Europa. “A pesquisa e a exploração, a ciência aberta e a colaboração transversal são fundamentais para os nossos esforços no campo da inteligência artificial. Permanecemos fiéis aos princípios que inspiraram a Fair (Facebook AI Research) desde o início: continuamos publicando e tornando o nosso trabalho open source não apenas para validar os nossos resultados, mas também para permitir que outros se baseiem nos nossos progressos, acelerando o caminho do mundo para uma inteligência artificial mais avançada”.
Entre o fim de 2022 e o início deste ano, a inteligência artificial chegou ao grande público: fala-se dela na TV, nos jornais, até mesmo entre os não especialistas. Pineau, que faz parte do conselho editorial do Journal of Artificial Intelligence Research e do Journal of Machine Learning Research, confirma que se trata de um momento crucial: “Nos últimos meses, a inteligência artificial, e especialmente a inteligência artificial generativa, atingiu um ponto de virada tanto no que diz respeito à capacidade de capturar a imaginação das pessoas quanto no que diz respeito à maturidade tecnológica”.
Criando muitas expectativas, mas também muitos alertas: “Quando olhamos para o incrível potencial que a inteligência artificial pode liberar tanto no mundo real quanto no virtual, devemos contrapor ao otimismo a consciência dos riscos. Que podem se apresentar de múltiplas formas, seja por meio de usos não previstos das novas tecnologias, seja por meio de atores mal-intencionados que procuram explorar suas áreas de vulnerabilidade. E é por isso que devemos construir os nossos sistemas de inteligência artificial com os mais altos níveis de responsabilidade e transmitir o mesmo compromisso para todos aqueles que se ocupam disso”.
Há algumas semanas, a Microsoft integrou o ChatGPT no sistema de buscas do Bing, e os resultados, por mais surpreendentes que fossem, não deixaram de causar perplexidade: as respostas muitas vezes denotavam uma espécie de dupla personalidade da inteligência artificial, por um lado ativa e pontual, por outro suscetível, manipuladora, mentirosa. Sem falar das imprecisões, limitações e daquelas que são definidas como “alucinações”: um termo técnico, mas que aqui tem exatamente o mesmo significado que tem na linguagem comum.
Em Redmond, levaram alguns dias para refletir e disciplinar o temperamento do Bing. Mas não é que o método de aprendizagem autossupervisionado (SSL, Self Supervisioned Learning) usado por essa tecnologia envolve um certo grau de imprevisibilidade dos resultados?
“O Self Supervisioned Learning – explica Pineau – permite superar os limites da aprendizagem supervisionada e semissupervisionada. Ele permite que a inteligência artificial aprenda como nós, processando uma quantidade significativamente maior de dados, o que seria impossível ou impraticável de rotular. O SSL é um marco importante rumo a um modelo unificado que aprende como o mundo funciona, por meio das várias modalidades como ele se apresenta”.
Não apenas texto, portanto, mas também imagens, vídeos, músicas e tudo o que pode ser traduzido em dados. Compreender melhor esse mundo também ajudará a inteligência artificial a construir outros: “As futuras experiências no metaverso irão além do que é possível obter atualmente e exigirão progressos enormes em uma série de tecnologias. Os principais problemas que a inteligência artificial é chamada a resolver incluem a geração de objetos e cenas 3D, avatares, codecs realistas, discursos criativos e muito mais”, comenta Pineau.
“Se hoje podemos apostar no metaverso é graças aos investimentos de longo prazo que fizemos na inteligência artificial há quase uma década”, acrescenta. Enquanto isso, a batalha entre os gigantes da hi-tech está cada vez mais acirrada, e a própria Meta está continuamente redefinindo estratégias e organogramas, entre cortes e transferências de pessoal.
O que poderia dar errado? O lançamento do Bing foi criticado por muitos como prematuro. A Bard, a inteligência artificial generativa do Google, estreou com um erro tão grave que causou uma queda da empresa na Bolsa. E a Meta, que havia apresentado a Galactica, uma inteligência artificial capaz de escrever textos científicos, teve que retirá-la às pressas, porque muitas vezes chegava a conclusões absurdas, senão perigosas. Alucinações, justamente.
“No lançamento, ilustramos as limitações dos modelos linguísticos de grandes dimensões, incluindo a possibilidade de gerar resultados imprecisos e não confiáveis, mesmo que a Galactica tenha sido treinada com dados científicos e acadêmicos de alta qualidade”, aponta Pineau, especialista em desenvolvimento de modelos e algoritmos para o planejamento e a aprendizagem. Ela está estudando sua aplicação em campos como a robótica, a saúde, os jogos e os agentes de conversação.
“É fundamental que o público compreenda os pontos fortes e fracos desses modelos linguísticos de forma aberta e transparente. Também acreditamos que compartilhar os resultados das nossas pesquisas é a melhor forma de obter um feedback sobre esses sistemas e ir além de seus limites atuais”.
Um deles é evidente: a inteligência artificial, apesar do nome, é masculina. “Ainda há muito poucas mulheres nesse campo. Acreditamos que ter uma força de trabalho diversificada é um ingrediente essencial para construir sistemas melhores e estamos constantemente nos esforçando para aumentar a diversidade das nossas equipes de pesquisa, com estratégias de contratação como a Diverse Slate Approach e programas de mentoria, patrocínio e desenvolvimento de carreira”.
A reportagem é de Bruno Ruffilli, publicada por La Repubblica, 23-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/627302-inteligencia-artificial-para-construir-outros-mundos
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