O que é ser "velho" hoje no Brasil? A pergunta me veio à cabeça quando assisti ao vídeo infeliz (para dizer o mínimo) de três estudantes do interior de São Paulo que debocharam de uma colega por ter “40 anos” e cursar a universidade. “Era para já estar aposentada”, disse uma delas, rindo. Como assim? 

Na hora, lembrei de uma observação feita pela minha amiga Rosane de Oliveira, quando “idosos de 60 anos” começaram a ser vacinados contra a covid no Brasil. À época, Rosane escreveu no grupo de WhatsApp da equipe de GZH que achava um equívoco usar o termo “idoso” para sessentões. Antônio Carlos Macedo, uma das vozes mais conhecidas da Rádio Gaúcha, concordou. E eles estavam certos.

Embora a referência à turma dos 60 faça parte do Estatuto do Idoso e, portanto, da legislação brasileira, não é difícil perceber que, hoje, pessoas nessa faixa etária seguem ativas, trabalhando, estudando, namorando… e vivendo. Que dirá aos 40!

Há algumas décadas, o conceito de envelhecimento era outro. As pessoas viviam menos e também encaravam o passar dos anos de um jeito diferente do que pensamos hoje. Lembro que minhas avós, aos 60, já se pareciam com a Dona Benta, a doce e serena vovó do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato.

De lá para cá, o mundo mudou. No Brasil, apesar dos pesares, houve melhorias na qualidade e na expectativa de vida. É óbvio que a passagem do tempo impõe perdas e que, mesmo com os avanços da medicina, não há como escapar da velhice - se você tiver a sorte, é claro, de chegar até lá, porque viver é uma bênção.

O fato é que o corpo muda, e a capacidade física já não é a mesma à medida que se faz 40, 50, 60, 70, 80 anos. Mas o envelhecimento também está na cabeça. Conheço muita gente com mais de 70 que está muito melhor, disparado, do que a gurizada que passa os dias com a cabeça enterrada na tela do celular. Com 70 anos, meu pai anda, em média, cem quilômetros de bicicleta por semana.

O etarismo é, sim, um problema, em especial para as mulheres, que são cobradas todos os dias pela aparência, como se devessem contas à sociedade. Ainda que em menor medida, os homens também sofrem preconceitos de idade - quantos já não foram chamados de "velhos caducos" pelas costas, no escritório? É hora de repensar isso.

*Jornalista. Doutora em História Social. Colunista da ZH

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