"Não, não estou nada de acordo com o presidente Hollande", diz Edgar Morin, logo ao descer do palco do Palacongressi de Rimini, na Itália. Ele devia falar de "O islamismo explicado aos nossos estudantes" a 5.000 professores que vieram de toda a Itália para o 10º Congresso sobre a "Qualidade da integração escolar e social", mas a noite de Paris mudou tudo, especialmente em escuridão.
No entanto, ninguém se rende, cada um à sua maneira. A maneira de Morin
tem a ver com a sua biografia do século XX e imersa no novo milênio,
que, de forma muito breve, para aqueles que não a conhecem, assim se
resume: 94 anos, nascido com o sobrenome Nahoum em Paris de família judaica, entrou na Resistência antinazista com o nome de batalha Morin, comunista que rompeu no imediato pós-guerra com o Partido Comunista Francês pelas suas críticas a Stalin.
É conhecido como o filósofo da complexidade, tão convencido de que a
vida é cheia de bordas e fendas, e não lisa e perfeito como uma esfera;
para ele, isso vale ainda mais.
"Eu não estou de acordo com o presidente Hollande. O fanatismo é combatido com o conhecimento e com a imposição da paz, especialmente no Oriente Médio." Ele parou por alguns minutos para algumas perguntas e evidencia o seu aborrecimento com os tons militaristas levantados no Palácio do Eliseu e dos quais uma grande parte da França está cada vez mais ansiosa.
"Vocês, na Itália, mas também na Alemanha, combateram as Brigadas Vermelhas
e os terroristas negros. Eu encontrei alguns deles, eram jovens que
tinham chegado a compreender a loucura pela qual tinham sido arrastados,
como se uma janela tivesse se aberto diante deles, inundando-os de luz.
Ninguém nasce terrorista. Tem-se uma ideologia, uma fé, uma alucinação.
Mas se livra disso e vê que é apenas horror pode ajudar os outros,
ainda cegos".
Uma vezmais, Morin disse que a resposta ao fanatismo
não é a doçura, mas o conhecimento. Precisamente, o conhecimento da
complexidade. À plateia muda, consequentemente, ele oferece detalhes
rápidos – talvez não completamente desconhecidos – sobre os parentescos
estreitos entre as três religiões monoteístas, sobre Jesus, profeta dos muçulmanos, sobre o judaísmo encaixado em Maomé,
sobre os séculos de convivência, de extenuante tolerância, de aberta
hostilidade. Ele não quer dar uma lição de história, diz, "mas gostaria
que ficasse clara a situação e que ela pode ser superada".
Ele é aplaudido com predisposição, as polêmicas por causa das conversas com Tariq Ramadan, que culminaram com o livro "O perigo das ideias," não tiveram acesso aqui. É apenas um longo prólogo para a solução altamente ambiciosa que Morin propõe em três pontos.
"Primeiro, para quem tem papéis educativos: não
devemos ensinar religião, mas introduzir o conhecimento das religiões,
porque a religião não é uma invenção da Cúria, como dizia Voltaire, mas, como dizia Marx, é o suspiro da criatura infeliz."
O segundo ponto tem a ver com o multiculturalismo: "A Itália, como a França e a Espanha, é uma nação multicultural. Na Itália,
não existem apenas os filhos dos latinos, há os sicilianos que têm
raízes árabes, há os piemonteses e os trentinos, povos que se integraram
depois da unidade. No entanto, é uma integração ainda não concluída,
que, no Norte, resiste a uma visão racista do Sul".
Não concluída, mas a caminho, e nada impede mais integrações, diz,
contanto que a escola saiba contar uma história universal, e não
partidária, e, portanto, inclusiva.
O terceiro ponto é provavelmente o mais difícil de
abraçar, é "a imposição da paz", expressão tão paradoxal, tão estridente
diante dessas horas de sangue: o que foi "o sonho de Lawrence da Arábia, uma grande confederação do Oriente Médio, com liberdade de culto e liberdade étnica. Lamento que a França
reivindique um papel guerreiro. Gostaria que ela tivesse um papel de
conciliadora". Se ela tivesse a força, se todos a tivéssemos, diz,
avançaria uma nova visão que tiraria água do terrorismo islâmico, o
dissecaria, salvaria a humanidade já terrivelmente ameaçada "pela
degradação das biosferas e pela especulação financeira".
Cultivemos, diz, uma alternativa "ao Deus que, ao ser invocado, cometeram-se mais mortes do que com as armas nucleares".
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Reportagem: A reportagem é de Mattia Feltri, publicada no jornal La Stampa, 16-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/549118-qcombate-se-o-fanatismo-com-o-conhecimentoq-afirma-edgar-morin
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