Luiz Felipe Pondé*
Wake up call
(despertar) é aquilo que você pede num hotel quando precisa acordar cedo. Tomo
uma liberdade poética aqui para dizer que o terrorismo islamita é o Wake up
call da Europa. O mundo pós-Segunda Guerra
Mundial acabou. Sinto pela França que é um país muito amado.
O islamismo político
(mais uma vez, porque desde a idade média o islamismo político, seja árabe,
seja turco-otomano, "atormenta" o sono dos europeus) pôs um ponto
final no mundo que a Europa conheceu desde o fim da Segunda Guerra,
principalmente a Europa que ganhou uma grana preta dos Estados Unidos para não
ser engolida pela então União Soviética, umas das formas históricas do atávico
império Russo. Stálin era um czar, como Putin é hoje. E, se Obama, o fraco,
enfrentar Putin, aposto no Putin.
Enquanto nós amamos
uma alimentação balanceada com suco, os islamitas amam a morte. Como se enfrenta gente que ama a morte?
A Europa era, até dia
13 de novembro de 2015, um parque temático em que seus personagens viviam uma
vida de Cinderelas sociais, anjinhos políticos e riquinhos. Alimentados pelo
delírio de "um mundo perfeito", não perceberam que esse mundo era apenas
um momento passageiro numa história que caminha para lugar nenhum, sem nenhum
sentido, a não ser nosso esforço de sofrer menos, quando dá.
O despertar implicará
uma dramática redução dos direitos individuais. O combate ao terrorismo fere,
necessariamente, os direitos civis. E isso é algo que os terroristas contam. A
saber, a incapacidade europeia de responder de modo assertivo, porque isso
implicaria um mergulho profundo em formas de controle social estranho à
natureza da democracia. Se a população islâmica da Europa for pressionada, sua
integração, que já é ruim, ficará pior. Então, ela se transformará num celeiro
ainda maior de jihadistas com passaporte europeu. A Europa vira a Cisjordânia.
Por exemplo, como
combater o terrorismo em solo europeu e não ampliar a pressão sobre escolas
religiosas islâmicas que ensinam formas radicais de islamismo político? E se
esses "professores e alunos" forem tão franceses quanto Joana D'Arc?
Como marcar uma distância razoável entre tais procedimentos legítimos e métodos
implícitos de discriminação étnico-religiosa? Ajudaria se a própria população
islâmica europeia começasse a denunciar seus "patrícios" radicais?
Talvez uma política de "disque denúncia" discreta ajudasse aos
muçulmanos europeus a entregar potenciais terroristas às autoridades? Ou,
talvez, mais fácil, aumentar a pressão e associar a ela uma retórica
"humanista" melosa?
Terão que encontrar um
equilíbrio entre esses valores políticos de liberdade individual que marcam o
mundo ocidental e os excessos de crendices políticas num "mundo
melhor" construído a base de muito blá-blá-blá regado a queijos e vinhos,
intelectuais-gurus e a grana dos "capitalistas selvagens".
O parque temático
europeu de felicidade e direitos é uma conquista da violência europeia de
séculos, que hoje todo "bonitinho" quer negar ao silêncio, dizendo
que "não é sua". O mundo não é um embate ao redor das luzes, o mundo
é um embate ao redor da manutenção das trevas o mais longe possível. E os
europeus acreditaram que as trevas que habitam o mundo seriam mantidas à
distância graças a discursos melosos e a compras na Ikea. Deveriam ler mais
Joseph Conrad (1857-1924), escritor polonês-britânico do século 19, e menos
Edward Said (1935-2003), intelectual "palestino" chique que vivia no
Ocidente ouvindo ópera.
O terrorismo islamita
vai mudar a geopolítica europeia e seu cotidiano. Infelizmente, a Europa se
transformou num continente marcado pela negação de uma ideia muito antiga: que
a guerra é parte da diplomacia. E, aqui entre nós, como pequeno exemplo
desse delírio de falsos riquinhos que somos, sonhamos com um Brasil que deveria
ser a França (coitada...) e mergulhamos na histeria de gênero e na política das
bicicletas, enquanto falta quimioterapia no SUS. O Brasil é mesmo um país
ridículo.
A guerra é um horror.
Mas, como dizia Napoleão, "preparem-se para a guerra porque a paz será
terrível".
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Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2015/11/1709595-wake-up-call.shtml
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