Martha Medeiros*
Parece simples, deveria ser simples, mas quem é que simplifica a própria existência?
Em 2010, quando lancei uma coletânea de crônicas chamada Feliz por Nada, muita gente começou a me chamar para eventos a fim de que eu falasse sobre felicidade, certos de que eu dominava o tema. Agora está mudando acabo de lançar um livro chamado Simples Assim e andam me convidando para falar adivinhe sobre o quê. Pois é. O que me faz pensar que, ao lançar algum novo livro mais adiante, melhor refletir sobre o título, ou daqui a pouco serei presa por charlatanismo.
Por ora, sou especialista em simplicidade, é o que diz meu crachá. Tenho um bate-papo agendado sobre o assunto, daqui a alguns dias, na sede da The School of Life em São Paulo, então aproveito para rascunhá-lo aqui.
Do que falo quando falo em simplicidade: não de vida franciscana, e sim de vida facilitada.
Parece simples, deveria ser simples, mas quem é que simplifica a própria existência? Quase todo mundo pratica o autoboicote e depois joga a culpa no chefe, nos genes, no governo, no destino, nos astros. Responsabilizar-se pelas consequências do que faz? Não tem emoção, fica faltando o drama.
Chegar no horário. Não responder a provocações. Controlar o ego. Fazer check-ups periódicos. Não mentir. Não protelar. Evitar pessoas muito complicadas. Ouvir música. Manter os amigos por perto. Não desistir ao ouvir o primeiro “não”. Desistir ao ouvir o quinto “não”. Pagar as contas em dia. Produzir. Não levar tudo para o lado pessoal. Não se sentir ofendido por mais de 10 minutos. Atender os próprios desejos. Consertar o que está dando defeito. Ser gentil. Não fofocar demais. Terminar o que começou. Não fingir. Persistir. Manter o bom humor. Cumprir os deveres antes de se liberar pra farra. Não pirar.
Releia os exemplos que dei. Nada tem a ver com fortuna, status, poder. Facilitar a própria vida custa nada. Sai de graça.
Está achando óbvio, eu sei. Só que o óbvio é o primeiro a ser ignorado quando se abre os olhos pela manhã. A maioria das pessoas que conheço está neste momento concordando com esse texto, julgando-se bom exemplo do que está escrito aqui, só que não. Na prática, muitos compram briga à toa, se consideram perseguidos, não toleram imprevistos, reclamam de qualquer besteira, não sabem relativizar, se amarram, colocam os pés pelas mãos e sofrem. Claro.
Dói o que vou dizer, mas direi mesmo assim: somos todos insignificantes. Só o que nos dignifica são nossos sentimentos e nossa generosidade. Vai ser uma sorte se um dia formos lembrados pelos outros com simpatia. Entendo que todos gostariam de inspirar documentários, virar tema de samba-enredo, nome de rua, mas é pouco provável. Chamar a atenção dá uma trabalheira danada: troco fácil por uma tranquila noite de sono.
Melhor ter uma vida boa do que ficar na memória dos outros como um gênio (ou um chato) incompreendido.
Em 2010, quando lancei uma coletânea de crônicas chamada Feliz por Nada, muita gente começou a me chamar para eventos a fim de que eu falasse sobre felicidade, certos de que eu dominava o tema. Agora está mudando acabo de lançar um livro chamado Simples Assim e andam me convidando para falar adivinhe sobre o quê. Pois é. O que me faz pensar que, ao lançar algum novo livro mais adiante, melhor refletir sobre o título, ou daqui a pouco serei presa por charlatanismo.
Por ora, sou especialista em simplicidade, é o que diz meu crachá. Tenho um bate-papo agendado sobre o assunto, daqui a alguns dias, na sede da The School of Life em São Paulo, então aproveito para rascunhá-lo aqui.
Do que falo quando falo em simplicidade: não de vida franciscana, e sim de vida facilitada.
Parece simples, deveria ser simples, mas quem é que simplifica a própria existência? Quase todo mundo pratica o autoboicote e depois joga a culpa no chefe, nos genes, no governo, no destino, nos astros. Responsabilizar-se pelas consequências do que faz? Não tem emoção, fica faltando o drama.
Chegar no horário. Não responder a provocações. Controlar o ego. Fazer check-ups periódicos. Não mentir. Não protelar. Evitar pessoas muito complicadas. Ouvir música. Manter os amigos por perto. Não desistir ao ouvir o primeiro “não”. Desistir ao ouvir o quinto “não”. Pagar as contas em dia. Produzir. Não levar tudo para o lado pessoal. Não se sentir ofendido por mais de 10 minutos. Atender os próprios desejos. Consertar o que está dando defeito. Ser gentil. Não fofocar demais. Terminar o que começou. Não fingir. Persistir. Manter o bom humor. Cumprir os deveres antes de se liberar pra farra. Não pirar.
Releia os exemplos que dei. Nada tem a ver com fortuna, status, poder. Facilitar a própria vida custa nada. Sai de graça.
Está achando óbvio, eu sei. Só que o óbvio é o primeiro a ser ignorado quando se abre os olhos pela manhã. A maioria das pessoas que conheço está neste momento concordando com esse texto, julgando-se bom exemplo do que está escrito aqui, só que não. Na prática, muitos compram briga à toa, se consideram perseguidos, não toleram imprevistos, reclamam de qualquer besteira, não sabem relativizar, se amarram, colocam os pés pelas mãos e sofrem. Claro.
Dói o que vou dizer, mas direi mesmo assim: somos todos insignificantes. Só o que nos dignifica são nossos sentimentos e nossa generosidade. Vai ser uma sorte se um dia formos lembrados pelos outros com simpatia. Entendo que todos gostariam de inspirar documentários, virar tema de samba-enredo, nome de rua, mas é pouco provável. Chamar a atenção dá uma trabalheira danada: troco fácil por uma tranquila noite de sono.
Melhor ter uma vida boa do que ficar na memória dos outros como um gênio (ou um chato) incompreendido.
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* Jornalista. Escritor.
Fonte: http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a4911276.xml&template=3916.dwt&edition=27892§ion=1026
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