Roberto Pompeu de Toledo*
“Paris (...) tem o meu coração desde minha infância; ela me
provocou o que provocam as coisas excelentes: quanto mais eu vi, depois, outras
belas cidades, mais sua beleza ganhou minha afeição. (...) Não sou francês senão
por esta grande cidade.”( Michel de Montaigne, Ensaios, 1580, livro III,
capítulo 9).
“De minha
parte, creio que fora de Paris não há salvação para um homem de espírito.”(
Molière, As Preciosas Ridículas, 1659).
“Não se
vive senão em Paris; em outros lugares, vegeta-se.”( Jean-Baptiste Gresset, O
Malvado, 1747).
“(...) a
estada nas pequenas cidades é insuportável para quem viveu nessa grande
república a que chamam Paris.” (Stendhal, O Vermelho e o Negro, 1830).
“Paris não
parece um sublime vaso de guerra carregado de inteligência? (...) Esta nave tem
seu próprio balanço, de proa a popa, de um lado a outro, mas ela singra o
mundo, e nele faz fogo pelas cem bocas de suas tribunas, lavra os mares
científicos, navega a velas cheias, grita do alto pela voz de seus sábios e
seus artistas. Avante, marchemos! Sigam-me!”(Honoré de Balzac, A Menina dos
Olhos de Ouro, 1835).
“Ao cabo de
três meses, Dinah estava aclimatada, já se embriagara das música no Italiens,
conhecia o repertório de todos os teatros, os atores, os jornais e os gracejos
do momento; já se acostumara a esta vida de contínuas emoções, a essa corrente
rápida em que tudo se esquece. Ela não estendia o pescoço, nem metia o nariz no
ar, como uma estátua do Espanto, a propósito das contínuas surpresas que Paris
oferece aos estrangeiros. Ela sabia respirar o ar desse meio espiritual,
animado, fecundo, em que as pessoas de espírito se sentem em seu elemento e que
elas não podem abandonar.” (Honoré de Balzac, A Musa do Departamento, 1837).
“Ela estava em Tostes. Ela,
agora, em Paris; lá longe! Como seria essa Paris? Que nome imenso! Ela o
repetia, para o próprio prazer, a meia-voz; ele soava a seus ouvidos como um
sino de catedral, cintilava diante de seus olhos sobre a etiqueta dos potes de
cosméticos.”(Flaubert, Madame Bovary, 1857).
“É preciso amá-la, é preciso
querê-la, é preciso suportá-la, esta cidade frívola, ligeira, cantante,
dançante, dissimulada, florida, temível, que dá poder a quem a toma, que
Macimilien, avô de Charles V, teria trocado por todo o seu império, que os
girondinos teriam adquirido com seu sangue, e que Henri IV conseguiu com uma
missa.” (Victor Hugo, Paris, 1867).
“Paris, este grande centro
luminoso a cuja volta voam todas as glórias, como borboletas em torno da vela,
algumas vezes par ali queimar as asas.”(Théophile Gautier, Retratos
Contemporâneos, 1874).
“Paris é adubo dos artistas. Eles
não podem atingir senão lá, os pés sobre suas calçadas e a cabeça no seu ar
inebriante e vivo, toda a sua completa floração. E não basta vir até lá; é
preciso estar lá, é preciso que suas casas, seus habitantes, suas ideias, seus
hábitos, seus costumes íntimos, suas zombarias, seu espírito lhes sejam desde
logo familiares. Grande, poderoso ou genial que seja, quando não se torna
parisiense até a medula conserva algo de provinciano.”(Guy de Maupassant,
Crônicas, 1882).
“Morar em Paris! O sonho do mundo
inteiro! Os franceses imaginam que é por amor a eles. Mas Paris é o paraíso dos
estrangeiros que detestam os franceses.”(Paul Morand, Inverno Caribenho, 1927).
“Paris é luxo, é elegância, é o
entusiasmo, a ligeireza, a alegria, o antiprovinciano, e sobretudo é as
mulheres, muitas mulheres.” (Stefan Zweig, Três Poetas de Suas Vidas, 1932),
“Paris criou o tipo do flâneur.
(...) Uma paisagem – é bem isso que Paris se torna para o flâneur. Mais
exatamente, ele vê a cidade se cindir em dois polos dialéticos. Ela se abre a
ele como paisagem e o encerra como num quarto.”(Walter Benjamin, Paris, Capital
do Século XIX, 1935).
“Se você teve a felicidade de
viver em Paris quando jovem, não importa onde você esteja ela estará em você,
pois Paris é uma festa móvel.” (Ernest Hemingway em carta a um amigo, 1950,
depois estampada como epígrafe em Uma
Festa Móvel, 1964).
“Paris é uma cidade-livro, uma
cidade escrita, uma cidade impressa. Uma cidade-livro feita de milhares de
livros. Uma cidade da qual se poderia dizer que é o sonho de uma biblioteca, se
é que se pode atribuir às bibliotecas a faculdade de sonhar. Para um multidão
de gente no mundo, Paris existe dentro de uma biblioteca: na Encyclopédie, em
Restif de la Bretonne, em Victor Hugo, em Maupassant, em Proust.”( Leonardo
Sciascia, Palavras Cruzadas, 1983).
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Jornalista. Colunista da Veja
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Fonte: Revista Veja impressa, nº 47, 25 de novembro
de 2015, pág. 110).
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