Imerso nos mistérios que envolvem a química
entre os seres, pesquisador
americano garante
que não há nada de sobrenatural em supor que as
plantas respondem à voz humana -
Leo Martins / Agência O Globo
"Nasci em Nova
Jersey há 50 anos, estudei em Yale e vivo em Ithaca, NY. A química italiana de
minha avó iletrada na cozinha me deu o gosto pelos aromas e minha mãe amava
plantas. Um dia, vi o casulo de uma mariposa e tudo se juntou. Hoje vivo numa casa
com jardim do qual eu e minha família colhemos deliciosas folhas"
Conte algo que
não sei.
Primeiro, cheire este
jasmim. Defina o odor. Então, contarei algo que você não sabe.
Intenso, ao
mesmo tempo bom e agressivo.
Pois no jasmim há
cerca de 30 componentes doces e, mais difícil de detectar, o odor de fezes. Se,
em laboratório, omitirmos esse cheiro “ruim” e mantivermos os outros, não se
reconhece mais o jasmim. Fica doce demais, unidimensional.
Cheiro de
fezes é responsável pelo sucesso do jasmim?
Parece que sim... É
como se fosse um fertilizante natural do aroma! A natureza tem muitos mistérios
associados à química. Há uma planta brasileira, aristolóquia, que se parece com
um pedaço de carne morta e tem cheiro de putrefação. Mas é uma mentira. Ela
está atraindo insetos que põem ovos em animais mortos. E os comem. Em certas
regiões de grandes herbívoros, elas sobreviveram e estão aí.
Ser protegido
de grandes animais e atrair insetos gostosos! Sem se mexer muito. As plantas
têm alguma consciência deste poder?
Consciência é um
conceito humano. Mas o termo “estratégia” é aplicável. Algo ocorrido em milhões
de anos. Quando um animal anuncia sua presença, pode atrair predadores, ou
evitar. Isso é fácil entender para um pássaro, um peixe, para nós. Mas difícil
para flores, que vivem e num ritmo que nem notamos.
Porém, se
movem...
E se comunicam.
Fragrâncias são uma linguagem universal e antiga que flores e insetos entendem.
Vivemos em nosso mundo sensorial. Não ouvimos o sonar dos peixes nem o
ultravioleta que as plantas detectam. Mas sentimos aromas. Falta vocabulário.
Estratégias ou
só acaso?
Se você é uma flor
que cheira bem e recebe a visita de insetos, você precisa de polinizadores mas
tem que competir com outras espécies. Precisa ensinar ao seu polinizador: “eu
cheiro como melancia e tenho um ótimo néctar, você vai sempre querer mais” .
De certa
forma, insetos e flores transam?
Pode-se dizer sem
grande exagero que zangões fazem sexo com orquídeas mentirosas. Orquídeas são
as maiores sedutoras e muito ardilosas. A mormolica, espécie brasileira que
nãoé muito bela para nós, cheira como uma abelha fêmea. Os zangões, que vivem
numa terrível competição entre si, a ponto de muitos nunca transarem,
enlouquecem, querem levá-las, polinizam a cabeça das plantas. “Transam” com
duas, três, dez flores, se enjoam, mas, um quilômetro depois, recomeçam.
Zangões
viciados em sexo...
São flores raras. Se
fossem comuns, poderiam extinguir as abelhas. Ou a si próprias se não tivessem
esse “contrato de fidelidade”. Um belo exemplo de perfeito equilíbrio.
Muita gente
fala com pantas. Há alguma troca efetiva?
Aí reside o paradoxo
fundamental da biologia de plantas. As plantas não têm cérebro nem sistema
nervoso. Mas elas têm um sistema sensorial de receptores químicos. Elas sentem
o cheiro de outras plantas. Seus próprios voláteis. E respondem. Recebem ondas
de luz. Uma planta sabe que está na sombra de outra e precisa de sol. Busca a
luz. Elas têm antenas. Captam vibrações e têm respostas, positivas ou
negativas. Se numa voz humana houver vibrações benéficas, não há nada de
sobrenatural em supor que as plantas ouvem a voz e respondem a ela.
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Fonte: http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/roberto-raguso-cientista-zangoes-fazem-sexo-com-orquideas-mentirosas-18142216
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