Se Peninha e Fabrício Carpinejar podem fazer stand-up, também posso. Segue o texto do meu próximo espetáculo (já fiz milhares palestrando por aí). Título: o sexagenário e as redes sociais.
– O senhor precisa ir pra Internet.
– Não me chama de senhor, pelo amor de Deus.
– Certo, Seu Paulo, o senhor precisa se atualizar.
– Não me chama de Seu.
– Chamo de quê? De você?
– Você, nunca. Não sou carioca nem gringo. Chama de tu.
– Tu!!!! É coisa de velho.
– Pode ser senhor mesmo, vai.
– O senhor precisa entrar numa vibe mais atual.
– Vibe? Por que esse termo em inglês?
– Se diz vaibe, Seu Paulo. Vaibe.
– Não direi o que estou pensando por respeito às mães.
– Direi é coisa de velho, seu Paulo. Ninguém mais fala assim.
– Bom, vai, desembucha. O que quer que eu faça?
– Que use a internet, as redes sociais.
– Mas estou no Twitter, no Face, no Insta, no TikTok, no Youtube, no blog e até no Threads.
– Não diga Insta, seu Paulo.
– Ué, por que não?
– Isso é coisa de velho.
– Mas não era coisa de jovem?
– Era. Já passou. Mudou.
– Como devo dizer?
– Instagram, ora.
– E Face, pode?
– Se for para alguma participação de óbito.
– E blog?
– Esconda que tem um. É coisa de velho.
– A Fernanda me disse que ainda valia a pena…
– A Fe é muito generosa.
– Dizer Fe não é coisa de velho?
– Capaz!
– Capaz não é coisa de velho?
– Ah, Seu Paulo, não tente me confundir. Ouça o que estou lhe dizendo: use as redes sociais se quiser ainda ter alguma visibilidade.
– Mas se já uso…
– Usa mal.
– Como assim?
– O senhor não tem um coach.
– Eu sou o meu coach.
– Tenha dó, Seu Paulo. Coach, o senhor!
– Sigo o lema seja e faça você mesmo.
– Esse lema é coisa de velho.
– Torna-te quem tu és. Eis o que sigo.
– Coisa de velho.
– Nietzsche?
– Não. O eis.
– O Peninha e o Carpinejar têm coach?
– Não precisam.
– Por que não?
– Eles sempre foram modernos.
– Como assim? Se nunca fomos modernos.
– De onde tirou isso, Seu Paulo?
– De um livro do Bruno.
– Que Bruno, Seu Paulo?
– Latour.
– Não sei quem é, mas influencer é que não. Conheço todos.
– Era francês.
– Não falei, seu Paulo, que influencer esse Bruno não era.
– Era intelectual.
– Coisa de velho.
Juremir Machado da Silva é jornalista, colunista diário da Matinal Jornalismo.
- Parêntese Agosto 2023 Fonte: https://www.matinaljornalismo.com.br/parentese/edicao-mensal/cronica-edicao-mensal/humor-involuntario/?swcfpc=1&login=success
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