quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Humor involuntário

por Juremir Machado da Silva*

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Seu Paulo, sexagenário, se aventura no Stand-up comedy

Se Peninha e Fabrício Carpinejar podem fazer stand-up, também posso. Segue o texto do meu próximo espetáculo (já fiz milhares palestrando por aí). Título: o sexagenário e as redes sociais.

– O senhor precisa ir pra Internet.

– Não me chama de senhor, pelo amor de Deus.

– Certo, Seu Paulo, o senhor precisa se atualizar.

– Não me chama de Seu. 

– Chamo de quê? De você?

– Você, nunca. Não sou carioca nem gringo. Chama de tu.

– Tu!!!! É coisa de velho.

– Pode ser senhor mesmo, vai. 

– O senhor precisa entrar numa vibe mais atual.

– Vibe? Por que esse termo em inglês?

– Se diz vaibe, Seu Paulo. Vaibe.

– Não direi o que estou pensando por respeito às mães.

– Direi é coisa de velho, seu Paulo. Ninguém mais fala assim.

– Bom, vai, desembucha. O que quer que eu faça?

– Que use a internet, as redes sociais.

– Mas estou no Twitter, no Face, no Insta, no TikTok, no Youtube, no blog e até no Threads. 

– Não diga Insta, seu Paulo.

– Ué, por que não?

– Isso é coisa de velho.

– Mas não era coisa de jovem?

– Era. Já passou. Mudou.

– Como devo dizer?

– Instagram, ora.

– E Face, pode?

– Se for para alguma participação de óbito.

– E blog?

– Esconda que tem um. É coisa de velho.

– A Fernanda me disse que ainda valia a pena…

– A Fe é muito generosa.

– Dizer Fe não é coisa de velho?

– Capaz!

– Capaz não é coisa de velho?

– Ah, Seu Paulo, não tente me confundir. Ouça o que estou lhe dizendo: use as redes sociais se quiser ainda ter alguma visibilidade.

– Mas se já uso…

– Usa mal.

– Como assim?

– O senhor não tem um coach.

– Eu sou o meu coach.

– Tenha dó, Seu Paulo. Coach, o senhor!

– Sigo o lema seja e faça você mesmo.

– Esse lema é coisa de velho.

– Torna-te quem tu és. Eis o que sigo.

– Coisa de velho. 

– Nietzsche?

– Não. O eis.

– O Peninha e o Carpinejar têm coach?

– Não precisam.

– Por que não?

– Eles sempre foram modernos.

– Como assim? Se nunca fomos modernos.

– De onde tirou isso, Seu Paulo?

– De um livro do Bruno.

– Que Bruno, Seu Paulo?

– Latour.

– Não sei quem é, mas influencer é que não. Conheço todos.

– Era francês.

– Não falei, seu Paulo, que influencer esse Bruno não era.

– Era intelectual.

– Coisa de velho.


Juremir Machado da Silva é jornalista, colunista diário da Matinal Jornalismo.

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