Caramba, isto foi realmente feio. Tanta gente cega por um ódio ao catolicismo a roçar o irracional. Tanta gente a debitar veneno a litro. Tanta gente indignada que nunca se havia indignado.
Venho de duas famílias de homens profundamente ateus e de mulheres que, aos poucos, se foram deixando “contaminar” pela descrença. Até mesmo a minha família paterna, proveniente de uma Espanha que, à época, era profundamente católica, veio com o gene do ateísmo integrado. É verdade que, actualmente, o país de Isabel de Castela e de Fernando de Aragão vem experimentando uma espécie de crise de fé global e, em 2019, o Centro de Estudos Sociológicos divulgou um relatório em que mostrava que, pela primeira vez desde a formação do país, o número de ateus, agnósticos e indiferentes à religião (29,1%) era superior ao número de católicos praticantes (22,7%). Mas estes são números recentes porque, no outro tempo, no tempo dos meus avós, a missa era quase obrigatória e, aos domingos, as ruas enchiam-se de mulheres com os cabelos cobertos por mantilhas a caminho da igreja.
“Pois é. O meu pai ateu, nascido em 1947,
sempre teve clarividência suficiente para perceber o mais importante: a
mensagem central da religião católica é uma mensagem de humanismo e amor
ao próximo.
Fui catequista durante anos e nunca ensinei outra
coisa às crianças que passaram por mim que não fossem os valores
humanistas básicos. Falámos sempre sobre amor, honestidade, partilha,
respeito e perdão. Porque muito antes de conseguirem entender conceitos
como Deus ou o universo, as crianças estão aptas a assimilar valores. E
os valores da religião católica estão certos. O mal de meio mundo é
confundi-los com a própria igreja.
A igreja católica e a fé
católica não são a mesma coisa. Porque a Igreja é obra dos homens, a fé
não. E na Jornada Mundial da Juventude, mais do que qualquer outra
coisa, é a fé que se celebra. Os jovens que invadiram o nosso país nos
últimos dias não são os padres que abusaram sexualmente de crianças nem o
Governo que gastou o dinheiro dos contribuintes na organização do
evento. São miúdos, como todos nós já fomos, vindos de todos os cantos
do mundo, que acreditam que existe um Deus, acima de nós, que nos ama e
protege.
O Deus destes miúdos é um Deus compassivo e piedoso que ama
os seus filhos. E eles vieram celebrá-Lo, com alegria. Aquela alegria
tão própria da juventude que muitos de nós, infelizmente, fomos perdendo
ao longo do caminho. O Deus destes miúdos é um Deus de felicidade. E
eles mostraram-n’O vivo.”
Um excerto da minha crónica desta semana, sobre as JMJ, no Público (como sempre!).
* Enfermeira, autora de A Mãe Imperfeita
Imagem da Internet
Fonte: https://www.linkedin.com/posts/carmen-garcia-2258b3202_pelo-sinal-da-santa-cruz-activity-7093893110052585472-gCKs/?trk=public_profile_like_view&originalSubdomain=pt
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