quarta-feira, 16 de agosto de 2023

O cheiro do mar.

Gianfranco Ravasi*

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Você não pode ficar infeliz quando sente o cheiro do mar, a areia sob os dedos dos pés, o ar, o vento.


Sua obra póstuma Suite Francesa, publicada em 2004, tornou-a famosa, tirando do esquecimento e do pó os seus escritos. Estamos falando da ucraniana Irène Némirovsky (1903-1942), exilada em Paris após a revolução de outubro de 1917. No entanto, escolhemos essa frase intensa e quase pictórica, buscando-a no seu Vinho da Solidão (1935). O ponto de partida poderia ser justamente essa espécie de dieta da alma que é a solidão. De fato, se alguém está imerso no emaranhado das coisas e das palavras, se está apegado às posses, se está encerrado na torre de marfim do próprio Ego, é difícil descobrir a beleza da natureza na qual estamos imersos.

Pelo contrário, é difícil descobrir sua extraordinária necessidade nas realidades simples e óbvias. Um provérbio oriental afirma: o que poderia haver de mais óbvio que o ar? Ai, porém, não o respirar! Mas também as componentes externas da criação, como uma paisagem, o cair silencioso da neve, o borbulhar de um riacho, a brisa que envolve na primavera e "o cheiro do mar", são uma fonte de serenidade, uma vacina contra a ansiedade e o frenesi, uma semente de felicidade. Só que, infelizmente, perdemos o prazer de parar, de ficar calmos, de contemplar as cores de um nascer ou de um pôr do sol, de contemplar e admirar. O escritor inglês Chesterton foi lapidar: "Estamos perecendo não por falta de maravilhas, mas por falta de admiração.".

 *O comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho para a Cultura, publicado por Il Sole 24 Ore, 13-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Fonte: https://www.ihu.unisinos.br/631412-o-cheiro-a-mar-comentario-de-gianfranco-ravasi 16/08/2023

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