Foto: Divulgação/Instituto UnibancoAbertura do 7o seminário do Instituto Unibanco - Educação na Era das Transições
Seminário do Instituto Unibanco analisou os desafios educacionais brasileiros por meio de diferentes perspectivas que têm impactado a sociedade
Transições demográficas, sociais, políticas, tecnológicas e ambientais são fatores que impactam a educação no Brasil. Esse é o consenso dos participantes do evento “Educação na era das transições”, promovido entre os dias 4 e 5 de outubro pelo Instituto Unibanco.
O Nexo participou do evento, em São Paulo, acompanhando as mesas de debate. Apoiador do Nexo Políticas Públicas, o Instituto Unibanco é uma instituição sem fins lucrativos que atua pela melhoria da qualidade da educação pública no Ensino Médio. Seu objetivo é contribuir para a permanência dos estudantes na escola, a melhoria da aprendizagem e a redução das desigualdades educacionais. Sua atuação é baseada em evidências, valorizando a diversidade e acelerando transformações por meio da gestão. Fundado em 1982, integra o conjunto de instituições responsáveis pelo investimento social privado do grupo Itaú-Unibanco.
Neste texto, parte da cobertura especial “Educação na era das transições”, o Nexo mostra alguns momentos de destaque das mesas que ocorreram no evento.
Transição demográfica
A primeira mesa do evento teve o tema “Transição demográfica: Bônus educacional?” e falou sobre as mudanças etária e social na população brasileira a partir dos primeiros dados do Censo 2022, que apontaram que o país está cada vez mais velho e que a taxa de natalidade é muito desigual entre as mulheres mais pobres e as mais ricas.
Participaram da mesa os pesquisadores Ana Amélia Camarano (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Eduardo Rios-Neto (Universidade Federal de Minas Gerais) e Michael França (Insper). A moderação foi de Ana Inoue, superintendente do Itaú Educação e Trabalho. Para os debatedores, o temor é de que a mudança no perfil demográfico acentue as desigualdades na educação.
“Isso está apontando um aumento das desigualdades porque, além de a população ter menos crianças e menos jovens, os jovens e as crianças serão pobres. Precisamos cada vez mais de políticas públicas pensadas para grupos específicos, como os jovens em idade profissionalizante e a população idosa que tem capacidade de trabalhar”
Transição social
A segunda mesa do evento teve o tema “Do mito da democracia racial ao antirracismo”, que abordou as características do racismo estrutural no Brasil e seus impactos na educação.
O debate contou com presença de Ednéia Gonçalves (Ação Educativa), Nilma Lino Gomes (Universidade Federal de Minas Gerais) e Zara Figueiredo (Ministério da Educação) e teve mediação de Marlova Jovchelovitch Noleto (Unesco). De acordo com Gomes, há uma tensão entre a luta antirracista e o mito da democracia racial — a ideia de que o racismo já estaria superado no Brasil há mais de um século.
“Se sabemos que temos desigualdades estruturais no Brasil, eu não vejo uma transformação, eu vejo uma tensão. O antirracismo tensiona o mito da democracia racial. Precisamos aprender muito sobre as práticas das políticas que precisamos desenvolver, quais currículos da educação básica e superior precisam ser desenvolvidos para construirmos uma sociedade em que o antirracismo seja um dos valores mais caros da sociedade brasileira”
Transição política
A terceira mesa do seminário teve como tema “Da redemocratização ao populismo reacionário”, discutindo a ascensão da extrema direita no Brasil, materializada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pelo bolsonarismo.
Participaram do debate os pesquisadores Esther Solano (Universidade Federal de São Paulo), Telma Vinha (Universidade Estadual de Campinas) e Toni Reis (Aliança Nacional LGBTI+), que discutiram os impactos da radicalização política à direita, da polarização e do fenômeno do bullying no sistema de educação. Segundo Solano, é essencial que a política volte a ter um peso simbólico e civil na sociedade.
“Temos que sair da política do pequeno, da burocracia, temos que lançar a política dos afetos, como dispositivo simbólico. Fazer política em termos macro. A política não pode ser apenas um conjunto de órgãos que administram a vida pública, é preciso entender que a política também é feita de símbolos e significados que têm um peso, e isso começa na educação”
Transição tecnológica
A última mesa de debate do primeiro dia do seminário teve como tema “A educação dos humanos na era da inteligência artificial”.
Participaram da conversa Dora Kaufman (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Ivan Siqueira (Universidade Federal da Bahia) e Luis Junqueira (Escola Letrus), moderados por Julia Sant’Anna (Centro de Inovação para a Educação Brasileira). Temas como ChatGPT e algoritmos de inteligência artificial foram a pauta.
“Capacitar os alunos a usarem as tecnologias da melhor forma, essa é uma missão; outra é agregar essas tecnologias às metodologias de ensino; outra é utilizá-las nos processos financeiros, administrativos [...]. A inteligência artificial já está aqui, então nossas missões envolvem achar usos responsáveis e interessantes para os estudantes”
Transição climática
A primeira mesa do segundo dia do seminário teve como tema a crise climática e discutiu como o aumento das temperaturas e outros fenômenos ambientais impactam a educação.
Os participantes da discussão foram Ana Toni (Ministério do Meio Ambiente), João Marcelo Borges (Instituto Unibanco) e Natalie Unterstell (Instituto Talanoa), com moderação de Lívia Menezes Pagotto (Instituto Arapyaú).
“Será que estamos promovendo uma educação considerando as mudanças climáticas? A transição mais difícil é a transição mental. O clima que conhecemos não existe mais. A educação tem o poder de assimilar novas informações, calcular riscos e saber responder a esse fenômeno. Estamos falhando nisso, não conseguimos virar a página e encarar a nova realidade”
As transições e a escola
Após o lançamento, o painel de encerramento teve como objetivo promover uma reflexão final sobre o tema geral do Seminário: a educação em transições. A conversa teve a participação de Cida Bento (CEERT), Claudia Costin (Instituto Singularidades), Valter Silvério (UFSCar) e Vitor de Angelo (Secretaria de Educação do Espírito Santo), com a mediação de Ricardo Henriques (Instituto Unibanco).
“Temos que formar o jovem para se sentir um ator relevante no seu próprio processo de aprendizagem e das múltiplas comunidades que se conectam”
Combatendo a evasão
No segundo dia do seminário, ocorreu o lançamento do Hub Brasil FAIrLAC, uma colaboração entre o Instituto Unibanco e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) com o propósito de aplicar a inteligência artificial no apoio aos gestores escolares na prevenção do abandono e da evasão escolar. A apresentação desse projeto foi conduzida por Ricardo Henriques, representando o Instituto Unibanco, e Marcelo Perez Alfaro, em nome do BID.
A iniciativa utiliza dados públicos para gerar informações e análises destinadas a auxiliar educadores na oferta de tratamento personalizado e priorizado aos estudantes com maior risco de evasão ou abandono escolar.
Fonte: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2023/10/08/Como-pensar-a-educa%C3%A7%C3%A3o-na-era-das-transi%C3%A7%C3%B5es
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