Pedro M. Martins*
Acredito que num mundo BANI e digital, a melhor forma de nos capacitarmos para o futuro não é com conceitos e modelos do passado, por isso faz muito mais sentido falarmos de mentalidades habilitadoras dos líderes contemporâneos e da era digital do que de competências.
O conceito de competências criado por David McClelland, em meados dos anos 70 do século passado, é baseado na discriminação positiva dos comportamentos e habilidades (passados) dos que tiveram melhor desempenho, como preditores de melhores desempenhos futuros, o que não é necessariamente verdade num mundo disruptivo. E faz ainda menos sentido pinçar algumas competências desse repertório quinquagenário (McClelland / McBer), para definir o que melhor nos habilita hoje.
O conceito de mentalidades é menos tangível, mas por outro lado muito mais projetivo, na medida que não é baseado em experiências passadas, mas em ideias e conceitos exploratórios de cenários futuros.
Por isso, temos de criar e formar um novo repertório de mentalidades específicas e realmente habilitadoras dos líderes contemporâneos (mundo BANI e digital), entre as quais:
– Agile mindset – simplicidade, diversidade, colaboração, aprendizagem compartilhada e pequenos ciclos de gestão;
– Innotechpreneurship – empreendedorismo e intro-empreendedorismo baseado na criatividade, inovação e tecnologia;
– Ambidestria agile – ser simultaneamente flexível, aberto à disrupção, experimental e informal, e por outro lado ser rigoroso nos ritos do scrum, analítico, data driven e focado no essencial (MVP);
– Hybrid team building – capacidade de trabalhar em equipa com humanos, cyborgs, humanoides e robots colaborativos (a nova realidade do universo do trabalho);
– Liderança agile – ser um líder informal e efémero, capaz de pausar para se mover mais rápido, abraçar o que desconhece, definir a direção e não o destino;
– Nexlialismo – saber tirar nexo entre recursos e conhecimentos muito diferentes, é a inteligência natural generativa, imitando e superando a GenIA;
– Radical unlearning – ser capaz de se transformar numa velocidade exponencial, desapegar de todas as crenças e conhecimentos tidos por inabaláveis e adquirir novas crenças e conhecimentos mesmo que profundamente contraditórios com os anteriores, mas muito mais alinhados com os novos contextos e pressupostos;
– Analytric (data driven) – supremacia da tangibilidade como contraponto da não linearidade e incompreensibilidade do mundo atual (é o anti-achismo no universo da incerteza e dos paradoxos);
– Desmaterialidade – ser capaz de navegar com destreza e se relacionar com naturalidade no mundo virtual, nomeadamente na realidade aumentada, metaverso, interfaces remotas e e-business;
– Maturidade digital – não é sobre a tecnologia que se usa, mas sobre o que se faz de robusto e inovador com essa tecnologia, nomeadamente como se consegue o engajamento remoto, e se criam negócios e modelos de gestão.
E nada disto veio para ficar, em breve entraremos na Era da supremacia quântica, onde surgirá outro perfil de líder não menos disruptivo. Será uma Era onde um computador quântico é capaz de processar em 100 segundos aquilo que hoje um computador digital demoraria 10 mil anos a processar, as pessoas provavelmente não precisarão trabalhar mais do que um ou dois dias por semana, e passarão a ser cyborgs com implantes cerebrais e peças biónicas capazes de performances físicas e intelectuais hoje inimagináveis, e então serão exigidas a formação de outras mentalidades para esses líderes.
*CEO do PMhub e Presidente da Lusofonia Digital - Imagem da internet
Fonte: https://lidermagazine.sapo.pt/mentalidades-habilitadoras-dos-lideres-contemporaneos/
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