Rosely Sayão*
A cada etapa da vida dos filhos,
a família precisa se reciclar
Será que existe um modelo estável de família,
ou ela se transforma à medida que os filhos nascem e, depois, crescem?
Em tempos em que muitos pais e mães tentam entender os mais diversos
comportamentos dos filhos, em todas as etapas da vida deles, é bom
pensar sobre como a dinâmica familiar influencia, para o bem e para o
mal, o desenvolvimento dos mais novos.
Uma
família sempre começa com a reunião de, pelo menos, duas pessoas, e
elas podem ser pares da mesma geração, ou um adulto e uma criança.
Temos, na atualidade, muitas “mães-solo”, a nova expressão usada e mais
aceita, e alguns “pais-solo” também, mas em menor número. Para que essa
reunião de pessoas se torne um grupo familiar, cada um deve assumir o
seu lugar, tanto geracional quanto no grupo.
Isso significa que o adulto precisa se comportar como adulto, a mãe
como mãe e o pai como pai, independentemente de o casal estar junto ou
não. A criança deve ter o direito à infância, de se comportar como
criança. O adolescente, por sua vez, precisa assumir aos poucos a
responsabilidade por sua vida — ainda sob a tutela dos pais —, ser
reconhecido e acolhido como alguém que está em construção e
transformação constantes e ter a oportunidade de aprender, na prática,
que ser integrante de uma família acarreta compromissos.
Tudo isso exige que os vínculos entre os adultos e os mais novos
sejam construídos e mantidos o tempo todo. Sabemos, por exemplo, que
pais que têm bebê em casa perdem o sono por um motivo bem diferente do
daqueles que têm filho adolescente, que já gosta de frequentar reuniões e
festas noturnas. Os primeiros se cansam, os segundos se angustiam.
Os vínculos familiares dos pais com os filhos pequenos são de um
tipo, expressam-se de determinadas maneiras, mas o crescimento dos
filhos faz com que esses vínculos se transformem, ou seja, se expressem
de outras maneiras. Quer saber como? Filhos pequenos adoram colo, mimo,
beijar e abraçar, mas, já no início da segunda parte da infância,
costumam sinalizar aos pais que insistem nesses comportamentos: “menos,
mãe, menos, pai, por favor!”. É ou não é? Os pais precisam, portanto,
aprender a comunicar sua amorosidade pelos filhos de outras maneiras.
E aí está: a cada etapa da vida dos filhos, a família precisa mudar,
adaptar-se, reciclar-se. Há famílias que insistem em permanecer do
mesmo jeito como se construíram em sua origem e, muitas vezes, esse é um
dos motivos do grande desconforto que os filhos — principalmente os
adolescentes — experimentam quando estão com a família.
Não é a família em si que o jovem recusa com os comportamentos que
expressa; é a família que insiste em permanecer a mesma desde quando ele
era criança. Como ele já não é mais uma criança, não consegue
identificar o seu lugar no grupo: sente-se, desse modo, excluído da
panelinha. Mudança não produz instabilidade; provoca, sim, crescimento,
adaptação, maturidade. Evitar mudanças não oferece segurança. Pense em
sua família: ela tem se transformado na mesma medida e com a mesma
velocidade com que seus filhos crescem?
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* Psicóloga e consultora educacional, tem mais de 30 anos de experiência em clínica, supervisão e docência.
Publicado em VEJA de 23 de maio de 2018, edição nº 2583
Fonte: https://veja.abril.com.br/revista-veja/mudancas-necessarias/
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