Foto: Afolabi Sotunde/Reuters - 17.01.2013 Capacetes ONU Capacetes
usados por tropas da ONU no Mali
Paul D. Williams fala ao ‘Nexo’ sobre a definição
da paz e os recursos
militares empregados
para mantê-la ou alcançá-la
Para o professor de relações internacionais da Universidade George
Washington Paul D. Williams, a paz é menos um estado final a ser alcançado do
que a construção permanente de um caminho a ser trilhado.
Nesse caminho, diz ele, são legítimas tanto as iniciativas pacíficas em
si mesmas quanto as que fazem uso da força – ou da violência, como ele diz –
para manter-se na direção certa.
O que, para Williams, diferencia o uso legítimo ou ilegítimo desse
recurso extremo na busca pela paz é a defesa, em última instância, do Estado de
Direito, que é o nome dado ao conjunto de normas estabelecidas como
indispensáveis para a preservação dos valores que tenham sido escolhidos por
uma determinada sociedade como positivos e dignos de serem preservados,
seguidos e defendidos.
Nas relações internacionais, o uso da força a pretexto de manter ou de
impor a paz leva a divergências por vezes irreconciliáveis. Nesses casos, um
grupo pequeno de países – EUA, França, Reino Unido, Rússia e China, membros
permanentes do Conselho de Segurança – têm o poder de enviar Forças de Paz sob
mandato das Nações Unidas para um determinado Estado-membro da ONU.
É sobre esses processos de paz, muitas vezes violentos, que William
falou ao Nexo, por escrito, no dia 16 de maio, antes de vir ao Brasil para
participar, no dia 28 de maio, de um encontro promovido pelo Instituto de
Relações Internacionais da PUC do Rio de Janeiro.
O que é
paz?
Paul D.
Williams O
estudioso norueguês Johan Galtung nos oferece um caminho muito útil para essa
questão ao propor que pensemos na paz não como a visão de algo que exista em si
mesmo, mas como a visão de uma realidade na direção da qual nós trabalhamos
para caminhar.
Em sua essência, a paz é a ausência da violência. Uma vez que a
violência pode assumir distintas formas, a paz igualmente pode. Primeiro, a paz
é a ausência de violência física. Mas a paz também é a ausência de violência
cultural, que impulsiona nossa imaginação e nossa liberdade de pensamento.
Além disso, a paz também deve ser a ausência da violência estrutural por
meio da qual certas instâncias da sociedade podem diminuir e restringir as
chances de vida de certos grupos enquanto privilegia as de outros. No fim, a
paz deve reduzir a violência de nossas atitudes, de nosso comportamento e de
nossas instâncias sociais.
Existem
diferenças conceituais entre ‘uso da força’ e ‘uso da violência’?
Paul D.
Williams Eu não
penso que essa seja uma distinção particularmente útil.
Existe
uma contradição inerente no uso do termo ‘Forças de Paz’?
Paul D.
Williams: “Forças de Paz” é uma expressão interessante.
Eu não creio que exista aí uma contradição em termos. Uma “força” para a paz
poderia tomar várias formas. Posso mencionar, por exemplo, equidade sexual,
democracia e sustentabilidade ambiental. Esses são exemplos de forças para a
paz que não necessariamente são violentas.
Outro exemplo poderia ser o de civis utilizando suas instâncias para
promover a paz e a não-violência mesmo em meio a zonas de guerra. Organizações
como a US Peace Corps or Nonviolent Peaceforce [Corpos de Paz dos EUA ou Forças
de Paz Não Violentas] tentam precisamente isso.
Por fim, até mesmo alguns grupos armados podem ser forças para a paz. Eu
penso que as forças de segurança no ambiente doméstico podem portar armas – e
até mesmo usar de alguma violência – e, ainda assim, ajudar a promover a paz,
uma vez que elas protegem e impõem o Estado de Direito. O mesmo pode ser dito
sobre militares que compõem Forças de Paz da Organização das Nações Unidas.
Eles podem às vezes portar armas, mas podem usar essas armas para deter uma
guerra e para dar uma chance à paz.
Como o
sr. vê o fato de que países em desenvolvimento, nos quais a democracia é frágil
e onde existe um passado recente autoritário, estarem participando cada vez
mais de missões de paz em países estrangeiros nos quais a democracia é frágil e
onde os regimes autoritários também são um problema?
Paul D.
Williams: Se nós tomarmos as operações de manutenção da
paz conduzidas por tropas das Nações Unidas como um exemplo de Forças de Paz
que empregam soldados de países estrangeiros, há, então, diversos fatores que
explicam a razão de países em desenvolvimento darem essa contribuição.
Nos últimos sete anos, eu coordenei o Providing for Peacekeeping Project
[projeto para o provimento para missões de paz], em cooperação com o Instituto
Internacional da Paz em Nova York.
Nesse projeto, nós conduzimos estudos detalhados sobre mais de 70 países
que proveram contingentes militares para missões das Nações Unidas. Descobrimos
nesse estudo que há cinco razões principais que levam esses países a
participarem dessas iniciativas.
Primeiro, há razões políticas que têm a ver com estabelecer
relacionamento com parceiros considerados valiosos, o que aumenta o prestígio
internacional do país que resolve se envolver nessas missões. Em segundo lugar,
há razões de segurança, quando esses países sentem que a segurança nacional
deles está sob ameaça. Terceiro, nós percebemos às vezes que esses países
queriam genuinamente ser bons cidadãos e queriam ajudar a manter a paz e a
segurança internacionais. A quarta razão está ligada ao fato de muitas vezes
haver incentivos econômicos – não exatamente no nível nacional, mas em relação
a benefícios para as forças envolvidas e para os militares e policiais enviados
como membros dessas missões de paz. Por fim, em quinto lugar, há também razões
institucionais para que os serviços de segurança queiram contribuir com as
missões de paz, uma vez que há um ganho considerável em relação à experiência
operacional, ao treinamento e à assistência que são recebidas dos parceiros de
missão.
O Rio
está atualmente sob uma intervenção federal conduzida por militares das Forças
Armadas, empregadas a pretexto de pacificar o estado. Como o sr. avalia o
argumento do uso da força para resolver problemas de violência que têm
elementos como a desigualdade social e econômica como fatores tão importantes?
Paul D.
Williams: O uso da força não é capaz
de resolver, sozinho, os problemas de desigualdade e de injustiça. Na melhor
das hipóteses, a força, quando empregada legitimamente, por agentes legitimados
para tal fim, e utilizados para proteger o Estado de Direito e os direitos
humanos, pode ajudar a proteger uma ordem política justa contra seus oponentes.
Porém, mesmo esse tipo de uso legítimo da força pode
apenas lidar com sintomas dos problemas, não com as causas. Para erradicar os
problemas sociais verdadeiramente é preciso atacar suas causas, o que requer
ferramentas políticas, sociais e econômicas.-------------------------------
Reportagem por João Paulo Charleaux 25 Mai 2018 (atualizado 25/Mai 19h49) Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2018/05/25/Como-a-viol%C3%AAncia-%C3%A9-usada-na-busca-pela-paz-segundo-este-professor
Como a violência é
usada na busca pela paz, segundo este professor
João Paulo Charleaux
25 Mai 2018 (atualizado 25/Mai 19h49)
Paul D. Williams fala ao ‘Nexo’ sobre a definição da paz e os recursos
militares empregados para mantê-la ou alcançá-la
Foto: Afolabi Sotunde/Reuters - 17.01.2013
Capacetes ONU
Capacetes usados por tropas da ONU no Mali
Para o professor de relações internacionais da Universidade George
Washington Paul D. Williams, a paz é menos um estado final a ser
alcançado do que a construção permanente de um caminho a ser trilhado.
Nesse caminho, diz ele, são legítimas tanto as iniciativas pacíficas em
si mesmas quanto as que fazem uso da força – ou da violência, como ele
diz – para manter-se na direção certa.
O que, para Williams, diferencia o uso legítimo ou ilegítimo desse
recurso extremo na busca pela paz é a defesa, em última instância, do
Estado de Direito, que é o nome dado ao conjunto de normas estabelecidas
como indispensáveis para a preservação dos valores que tenham sido
escolhidos por uma determinada sociedade como positivos e dignos de
serem preservados, seguidos e defendidos.
Nas relações internacionais, o uso da força a pretexto de manter ou de
impor a paz leva a divergências por vezes irreconciliáveis. Nesses
casos, um grupo pequeno de países – EUA, França, Reino Unido, Rússia e
China, membros permanentes do Conselho de Segurança – têm o poder de
enviar Forças de Paz sob mandato das Nações Unidas para um determinado
Estado-membro da ONU.
É sobre esses processos de paz, muitas vezes violentos, que William
falou ao Nexo, por escrito, no dia 16 de maio, antes de vir ao Brasil
para participar, no dia 28 de maio, de um encontro promovido pelo
Instituto de Relações Internacionais da PUC do Rio de Janeiro.
O que é paz?
Paul D. Williams O estudioso norueguês Johan Galtung nos oferece um
caminho muito útil para essa questão ao propor que pensemos na paz não
como a visão de algo que exista em si mesmo, mas como a visão de uma
realidade na direção da qual nós trabalhamos para caminhar.
Em sua essência, a paz é a ausência da violência. Uma vez que a
violência pode assumir distintas formas, a paz igualmente pode.
Primeiro, a paz é a ausência de violência física. Mas a paz também é a
ausência de violência cultural, que impulsiona nossa imaginação e nossa
liberdade de pensamento.
Além disso, a paz também deve ser a ausência da violência estrutural por
meio da qual certas instâncias da sociedade podem diminuir e restringir
as chances de vida de certos grupos enquanto privilegia as de outros.
No fim, a paz deve reduzir a violência de nossas atitudes, de nosso
comportamento e de nossas instâncias sociais.
Existem diferenças conceituais entre ‘uso da força’ e ‘uso da
violência’?
Paul D. Williams Eu não penso que essa seja uma distinção
particularmente útil.
Existe uma contradição inerente no uso do termo ‘Forças de Paz’?
Paul D. Williams “Forças de Paz” é uma expressão interessante. Eu não
creio que exista aí uma contradição em termos. Uma “força” para a paz
poderia tomar várias formas. Posso mencionar, por exemplo, equidade
sexual, democracia e sustentabilidade ambiental. Esses são exemplos de
forças para a paz que não necessariamente são violentas.
Outro exemplo poderia ser o de civis utilizando suas instâncias para
promover a paz e a não-violência mesmo em meio a zonas de guerra.
Organizações como a US Peace Corps or Nonviolent Peaceforce [Corpos de
Paz dos EUA ou Forças de Paz Não Violentas] tentam precisamente isso.
Por fim, até mesmo alguns grupos armados podem ser forças para a paz. Eu
penso que as forças de segurança no ambiente doméstico podem portar
armas – e até mesmo usar de alguma violência – e, ainda assim, ajudar a
promover a paz, uma vez que elas protegem e impõem o Estado de Direito. O
mesmo pode ser dito sobre militares que compõem Forças de Paz da
Organização das Nações Unidas. Eles podem às vezes portar armas, mas
podem usar essas armas para deter uma guerra e para dar uma chance à
paz.
Como o sr. vê o fato de que países em desenvolvimento, nos quais a
democracia é frágil e onde existe um passado recente autoritário,
estarem participando cada vez mais de missões de paz em países
estrangeiros nos quais a democracia é frágil e onde os regimes
autoritários também são um problema?
Paul D. Williams Se nós tomarmos as operações de manutenção da paz
conduzidas por tropas das Nações Unidas como um exemplo de Forças de Paz
que empregam soldados de países estrangeiros, há, então, diversos
fatores que explicam a razão de países em desenvolvimento darem essa
contribuição.
Nos últimos sete anos, eu coordenei o Providing for Peacekeeping Project
[projeto para o provimento para missões de paz], em cooperação com o
Instituto Internacional da Paz em Nova York.
Nesse projeto, nós conduzimos estudos detalhados sobre mais de 70 países
que proveram contingentes militares para missões das Nações Unidas.
Descobrimos nesse estudo que há cinco razões principais que levam esses
países a participarem dessas iniciativas.
Primeiro, há razões políticas que têm a ver com estabelecer
relacionamento com parceiros considerados valiosos, o que aumenta o
prestígio internacional do país que resolve se envolver nessas missões.
Em segundo lugar, há razões de segurança, quando esses países sentem que
a segurança nacional deles está sob ameaça. Terceiro, nós percebemos às
vezes que esses países queriam genuinamente ser bons cidadãos e queriam
ajudar a manter a paz e a segurança internacionais. A quarta razão está
ligada ao fato de muitas vezes haver incentivos econômicos – não
exatamente no nível nacional, mas em relação a benefícios para as forças
envolvidas e para os militares e policiais enviados como membros dessas
missões de paz. Por fim, em quinto lugar, há também razões
institucionais para que os serviços de segurança queiram contribuir com
as missões de paz, uma vez que há um ganho considerável em relação à
experiência operacional, ao treinamento e à assistência que são
recebidas dos parceiros de missão.
O Rio está atualmente sob uma intervenção federal conduzida por
militares das Forças Armadas, empregadas a pretexto de pacificar o
estado. Como o sr. avalia o argumento do uso da força para resolver
problemas de violência que têm elementos como a desigualdade social e
econômica como fatores tão importantes?
Paul D. Williams O uso da força não é capaz de resolver, sozinho, os
problemas de desigualdade e de injustiça. Na melhor das hipóteses, a
força, quando empregada legitimamente, por agentes legitimados para tal
fim, e utilizados para proteger o Estado de Direito e os direitos
humanos, pode ajudar a proteger uma ordem política justa contra seus
oponentes.
Porém, mesmo esse tipo de uso legítimo da força pode apenas lidar com
sintomas dos problemas, não com as causas. Para erradicar os problemas
sociais verdadeiramente é preciso atacar suas causas, o que requer
ferramentas políticas, sociais e econômicas.
Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2018/05/25/Como-a-viol%C3%AAncia-%C3%A9-usada-na-busca-pela-paz-segundo-este-professor
© 2018 | Todos os direitos deste material são reservados ao NEXO JORNAL LTDA., conforme a Lei nº 9.610/98. A sua publicação, redistribuição, transmissão e reescrita sem autorização prévia é proibida.
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Como a violência é
usada na busca pela paz, segundo este professor
João Paulo Charleaux
25 Mai 2018 (atualizado 25/Mai 19h49)
Paul D. Williams fala ao ‘Nexo’ sobre a definição da paz e os recursos
militares empregados para mantê-la ou alcançá-la
Foto: Afolabi Sotunde/Reuters - 17.01.2013
Capacetes ONU
Capacetes usados por tropas da ONU no Mali
Para o professor de relações internacionais da Universidade George
Washington Paul D. Williams, a paz é menos um estado final a ser
alcançado do que a construção permanente de um caminho a ser trilhado.
Nesse caminho, diz ele, são legítimas tanto as iniciativas pacíficas em
si mesmas quanto as que fazem uso da força – ou da violência, como ele
diz – para manter-se na direção certa.
O que, para Williams, diferencia o uso legítimo ou ilegítimo desse
recurso extremo na busca pela paz é a defesa, em última instância, do
Estado de Direito, que é o nome dado ao conjunto de normas estabelecidas
como indispensáveis para a preservação dos valores que tenham sido
escolhidos por uma determinada sociedade como positivos e dignos de
serem preservados, seguidos e defendidos.
Nas relações internacionais, o uso da força a pretexto de manter ou de
impor a paz leva a divergências por vezes irreconciliáveis. Nesses
casos, um grupo pequeno de países – EUA, França, Reino Unido, Rússia e
China, membros permanentes do Conselho de Segurança – têm o poder de
enviar Forças de Paz sob mandato das Nações Unidas para um determinado
Estado-membro da ONU.
É sobre esses processos de paz, muitas vezes violentos, que William
falou ao Nexo, por escrito, no dia 16 de maio, antes de vir ao Brasil
para participar, no dia 28 de maio, de um encontro promovido pelo
Instituto de Relações Internacionais da PUC do Rio de Janeiro.
O que é paz?
Paul D. Williams O estudioso norueguês Johan Galtung nos oferece um
caminho muito útil para essa questão ao propor que pensemos na paz não
como a visão de algo que exista em si mesmo, mas como a visão de uma
realidade na direção da qual nós trabalhamos para caminhar.
Em sua essência, a paz é a ausência da violência. Uma vez que a
violência pode assumir distintas formas, a paz igualmente pode.
Primeiro, a paz é a ausência de violência física. Mas a paz também é a
ausência de violência cultural, que impulsiona nossa imaginação e nossa
liberdade de pensamento.
Além disso, a paz também deve ser a ausência da violência estrutural por
meio da qual certas instâncias da sociedade podem diminuir e restringir
as chances de vida de certos grupos enquanto privilegia as de outros.
No fim, a paz deve reduzir a violência de nossas atitudes, de nosso
comportamento e de nossas instâncias sociais.
Existem diferenças conceituais entre ‘uso da força’ e ‘uso da
violência’?
Paul D. Williams Eu não penso que essa seja uma distinção
particularmente útil.
Existe uma contradição inerente no uso do termo ‘Forças de Paz’?
Paul D. Williams “Forças de Paz” é uma expressão interessante. Eu não
creio que exista aí uma contradição em termos. Uma “força” para a paz
poderia tomar várias formas. Posso mencionar, por exemplo, equidade
sexual, democracia e sustentabilidade ambiental. Esses são exemplos de
forças para a paz que não necessariamente são violentas.
Outro exemplo poderia ser o de civis utilizando suas instâncias para
promover a paz e a não-violência mesmo em meio a zonas de guerra.
Organizações como a US Peace Corps or Nonviolent Peaceforce [Corpos de
Paz dos EUA ou Forças de Paz Não Violentas] tentam precisamente isso.
Por fim, até mesmo alguns grupos armados podem ser forças para a paz. Eu
penso que as forças de segurança no ambiente doméstico podem portar
armas – e até mesmo usar de alguma violência – e, ainda assim, ajudar a
promover a paz, uma vez que elas protegem e impõem o Estado de Direito. O
mesmo pode ser dito sobre militares que compõem Forças de Paz da
Organização das Nações Unidas. Eles podem às vezes portar armas, mas
podem usar essas armas para deter uma guerra e para dar uma chance à
paz.
Como o sr. vê o fato de que países em desenvolvimento, nos quais a
democracia é frágil e onde existe um passado recente autoritário,
estarem participando cada vez mais de missões de paz em países
estrangeiros nos quais a democracia é frágil e onde os regimes
autoritários também são um problema?
Paul D. Williams Se nós tomarmos as operações de manutenção da paz
conduzidas por tropas das Nações Unidas como um exemplo de Forças de Paz
que empregam soldados de países estrangeiros, há, então, diversos
fatores que explicam a razão de países em desenvolvimento darem essa
contribuição.
Nos últimos sete anos, eu coordenei o Providing for Peacekeeping Project
[projeto para o provimento para missões de paz], em cooperação com o
Instituto Internacional da Paz em Nova York.
Nesse projeto, nós conduzimos estudos detalhados sobre mais de 70 países
que proveram contingentes militares para missões das Nações Unidas.
Descobrimos nesse estudo que há cinco razões principais que levam esses
países a participarem dessas iniciativas.
Primeiro, há razões políticas que têm a ver com estabelecer
relacionamento com parceiros considerados valiosos, o que aumenta o
prestígio internacional do país que resolve se envolver nessas missões.
Em segundo lugar, há razões de segurança, quando esses países sentem que
a segurança nacional deles está sob ameaça. Terceiro, nós percebemos às
vezes que esses países queriam genuinamente ser bons cidadãos e queriam
ajudar a manter a paz e a segurança internacionais. A quarta razão está
ligada ao fato de muitas vezes haver incentivos econômicos – não
exatamente no nível nacional, mas em relação a benefícios para as forças
envolvidas e para os militares e policiais enviados como membros dessas
missões de paz. Por fim, em quinto lugar, há também razões
institucionais para que os serviços de segurança queiram contribuir com
as missões de paz, uma vez que há um ganho considerável em relação à
experiência operacional, ao treinamento e à assistência que são
recebidas dos parceiros de missão.
O Rio está atualmente sob uma intervenção federal conduzida por
militares das Forças Armadas, empregadas a pretexto de pacificar o
estado. Como o sr. avalia o argumento do uso da força para resolver
problemas de violência que têm elementos como a desigualdade social e
econômica como fatores tão importantes?
Paul D. Williams O uso da força não é capaz de resolver, sozinho, os
problemas de desigualdade e de injustiça. Na melhor das hipóteses, a
força, quando empregada legitimamente, por agentes legitimados para tal
fim, e utilizados para proteger o Estado de Direito e os direitos
humanos, pode ajudar a proteger uma ordem política justa contra seus
oponentes.
Porém, mesmo esse tipo de uso legítimo da força pode apenas lidar com
sintomas dos problemas, não com as causas. Para erradicar os problemas
sociais verdadeiramente é preciso atacar suas causas, o que requer
ferramentas políticas, sociais e econômicas.
Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/entrevista/2018/05/25/Como-a-viol%C3%AAncia-%C3%A9-usada-na-busca-pela-paz-segundo-este-professor
© 2018 | Todos os direitos deste material são reservados ao NEXO JORNAL LTDA., conforme a Lei nº 9.610/98. A sua publicação, redistribuição, transmissão e reescrita sem autorização prévia é proibida.
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